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cintra 959

Em 1988 o designer Anisio Campos e eu promovemos no meu estúdio na R. Ribeirão Claro, Vila Olímpia, a 1ª Oficina de Design de Automóvel. Vivíamos um Brasil fechado às importações, os carros importados eram raridades e os projetos de transformação e adaptação em carros nacionais um mercado em expansão.

Neste cenário, Anisio e eu, amigos de longa data, estruturamos o curso, batalhamos patrocínios e selecionando 14 rapazes, que aprenderam em seis semanas, desde a história do design automobilístico até fazer uma maquete (mock-up) dos projetos de final de curso. Passamos pelas técnicas construtivas, dimensionamento, ergonomia, motores, aerodinâmica, desenho de observação, arte, etc… Obtivemos apoio da Pirelli e FIESP.

O resultado foi excelente e refizemos o curso em Brasília em 1990 e em Fortaleza no Ceará em 1992.

André Cintra, um dos alunos, realizou o projeto do seu CINTRA 959 (Fusca-Porsche), leia abaixo o Artigo de Alessandro Reis sobre sua conquista:

Na segunda metade da década de 1980, a Ferrari F40 e o Porsche 959 eram presença constante em pôsteres nos quartos de crianças e adolescentes apaixonados por carros.

Dentre eles estava André Cintra, um estudante paulista de 15 anos, que em 1988 teve a ideia de colocar o visual arrojado do Porsche em um Fusca. Quatro anos depois, nascia o Fusca “CINTRA 959”, que foi manchete de revistas especializadas da época. Os três exemplares, todos produzidos artesanalmente no início dos anos 1990, estavam sumidos nos últimos anos e foram resgatados no ano passado. Hoje pertencem a um colecionador anônimo de Santa Catarina e são bastante valiosos.

Quem conta a história é o caçador de carros antigos Rodrigo Ziliani, o Bilinha, que resgatou os Fuscas no ano passado e os repassou a esse colecionador. Cada carro, conta ele, foi achado em local diferente de São Paulo. Todos em estado de abandono.
Morador de Tupi Paulista (SP), Bilinha reformou o primeiro CINTRA 959 fabricado e diz já ter recebido por ele oferta de R$ 300 mil – que faria do exemplar pioneiro um dos Fuscas mais caros do Brasil.

Segundo Bilinha, o CINTRA 959 Cintra número 1 estava “semidestruído” na Penha, bairro da Zona Leste da capital paulista, quando o comprou por R$ 100 mil.
“Os outros dois carros estavam em condições ainda piores e também serão restaurados”, relata.

Além disso, Rodrigo irá construir outros três CINTRA 959 em parceria com seu criador. Hoje com 48 anos, André Cintra revela que tem até hoje os moldes originais para produzir as peças de fibra de vidro.
Arquiteto, Cintra só voltou a se conectar com suas “crias” em 2020, quando soube do resgate dos veículos.
“Por volta de 2006 ou 2007, vendi os carros que tinham ficado com minha família: o primeiro, que era meu; e o terceiro que era do meu pai. A partir de então, perdemos a pista deles. Até que, no ano passado, soube que o exemplar número dois tinha sido resgatado de um ferro-velho na região de Tupi.”
Daí veio a a amizade com Ziliani e a ideia de dobrar a produção original do CINTRA 959. Os três novos veículos serão para uso pessoal, pontua.
“A descoberta dos carros originais me instigou a fazer de novo. A intenção não é montar uma fábrica nem colocar os carros para vender. Porém, quem sabe?”
André conta que o primeiro carro da nova safra acabou de ser concluído e é de corrida, pois só pode ser usado em circuitos fechados.
“Já levamos para acelerar no Autódromo de Interlagos”, diz o arquiteto.
A fabricação dos carros número cinco e seis já começou em um galpão de Tupi Paulista com as participações de Bilinha e Plínio Cintra – primo de André que cedeu o chassi para a produção do Fusca Cintra número 4, o de competição – equipado com motor AP 1.6 injetado de 130 cv.
Agora, a intenção é relembrar e retomar o projeto da juventude.
“O Bilinha reacendeu a chama. Já apareceram muitos interessados em adquirir os moldes, mas decidi que, se for para fazer mais carros, tenho de participar”.

André Cintra relata que os primeiros esboços do Fusca 959 nasceram em 1988, durante o curso 1ª Oficina de Design de Automóveis. Os professores foram os designers Fernando Stickel e Anisio Campos – desenhista de clássicos nacionais como Puma GT e Kadron Tropi, considerado o primeiro buggy brasileiro.
Em meados daquele ano, os alunos foram desafiados por Campos a criar algo baseado no Volkswagen Fusca.
“Já em casa, sentei na minha prancheta. Meio sem ideias, parei e comecei a olhar um pôster do Porsche 959 que eu havia pendurado no quarto. Comecei, então, a tentar misturar os dois carros e fiquei rabiscando durante horas”, relembra Cintra.
Segundo ele, dos “três ou quatro” projetos que levou para o dia da apresentação, o que mais interessou seu mestre foi o do 959.
“O Anísio na época adorou a ideia pela praticidade da transformação e por se tratar de um Porsche, cujo fundador Ferdinand criou o Fusca”.
No ano seguinte, André Cintra aprendeu ainda mais com seu mentor, do qual se tornou amigo, ao participar de uma espécie de estágio. Em 1991, finalmente começou a tirar do papel o projeto do Fusca Porsche.
A construção do CINTRA 959 ficaria concluída um ano depois, com direito a festa de inauguração no mesmo local onde participara do curso com Anisio Campos, que morreu em 2019, aos 86 anos.


Folheto de divulgação do curso, criado pelo Anisio e por mim.

Cintra recorda que projeto exigiu criatividade; “Um exemplo disso eram os faróis dianteiros; pensamos em utilizar os originais, mas quando conseguimos verificar a numeração da peça e o valor percebemos que teríamos mesmo de fazer alguns milagres usando a criatividade. Cada farol do 959 na época custava praticamente o que havíamos pago pelo Fusca utilizado como base do projeto”.

No dia 13 Junho 2021 o Cintra reapareceu em Interlagos!

é isso, por fernando stickel [ 10:31 ]

aniversário arthur


Dezessete anos atrás, em 2005, nesta data de 17 Janeiro, meu filho Arthur completava 10 anos de idade! Avó Martha feliz com ele!


A festa foi no apartamento onde eu morava, na R. Casa do Ator na Vila Olímpia.

é isso, por fernando stickel [ 9:19 ]

boi com eu, eu com boi


No meu estúdio da R. Ribeirão Claro na Vila Olímpia nos anos 80, com a tela de José Carlos BOI Cezar Ferreira.
Obrigado pela foto Helena Brício!


Cerca de dez anos antes, no apartamento da R. Tucumã, com a mesma tela do BOI.

é isso, por fernando stickel [ 7:40 ]

enchente na vila olímpia


Enchente na Vila Olímpia em 1986. Estou dentro da minha casa no Nº 37 da Rua Ribeirão Claro, olhando para o rio em que se transformou a rua.
A água chegava a subir um metro! As casas tinham proteções diversas, murinhos, portões comportas, etc…

De dentro da minha casa, equipada com comportas e proteções eu ficava monitorando e controlando os estragos. Pela rua transformada em rio navegavam colchões, bananeiras, sacos de lixo, sofás, tudo que é possível imaginar.


Na esquina da atual Av. Helio Pellegrino x R. Ribeirão Claro, era o local onde o córrego Uberabinha saia do seu leito e avançava pelas ruas.


A cada enchente, estragos, asfalto arrancado, sujeira, etc…

é isso, por fernando stickel [ 7:33 ]

dia de aula


26 Fevereiro 2003, aula de desenho com modelo vivo no meu atelier da Rua Nova Cidade, Vila Olímpia.


Hoje, 18 anos depois, o mesmo espaço abriga a sede da Fundação Stickel.

é isso, por fernando stickel [ 8:58 ]

faleceu jaime roviralta


Faleceu meu primo em segundo grau Jaime Arens de Roviralta, seu avô Fernando Arens Jr., era irmão da minha avó Maria Elisa Arens Diederichsen.
Descanse em paz Jaime.


O falecimento do Jaime provocou lembranças de uma época em que o Jaime foi meu aluno de desenho de observação.
Em 1999 criei um novo estúdio na área da minha casa na R. Ribeirão Claro na Vila Olímpia, com entrada independente, e lancei novos cursos, com divulgação e tudo o mais.


O atelier era amplo, de frente a um jardim. O meu curso de desenho de observação e o novo curso de escultura da Maria Clara Fernandes decolaram e tivemos muitos alunos, o curso de teatro do Celso Frateschi não teve interessados.


O Jaime, nesta foto de Jade Gadotti, com Maria Clara Fernandes, frequentou durante um tempo as aulas, muito animado e falante.


Visão do atelier durante a aula, os lanchinhos e a socialização eram uma atração à parte, muito apreciada pelo Jaime! Ao fundo sentadas na mesa minha sobrinha Joana e Clotilde, irmã do Jaime.


Jaime está sentado à direita, de camisa branca.

é isso, por fernando stickel [ 14:40 ]

estúdio r. ribeirão claro


Na minha casa-estúdio da R. Ribeirão Claro, Vila Olímpia nos anos 80. No espaço principal, anexo a este da foto dei aulas de desenho de observação de 1986 a 2000.

é isso, por fernando stickel [ 10:11 ]

elegância e discrição

Minhas memórias de Ferrari são muito antigas e muito vívidas!

Na memória mais antiga eu deveria ter uns 4 anos de idade e viajava com meus pais de carro pela Itália ou Suíça, a estrada em meio a uma floresta, de repente em uma clareira aparece aquela maravilha vermelha estacionada em frente a um pequeno bar ou restaurante, quiçá uma Ferrari 340 Mexico… Imagem indelével.

Interlagos


Com 16 ou17 anos de idade eu era tarado por motocicletas e automóveis, assíduo leitor da revista Quatro Rodas e frequentava a pista de Interlagos nas Mil Milhas, 500 Km, etc…
Morava na Rua dos Franceses na Bela Vista, o bairro abrigava, além de uma enorme colônia italiana, várias oficinas mecânicas. Perto da minha casa morava, na Rua dos Ingleses, o Domingos Papaleo (1937-2015), que corria de Ferrari, provavelmente uma 500 Testa Rossa vermelha de 1956.
Do meu quarto eu ouvia cheio de prazer e excitação as aceleradas da Ferrari nos testes que ele fazia no imenso quarteirão formado pela R. dos Franceses, Joaquim Eugênio de Lima, Alm. Marques Leão e R. Cons. Carrão. Certo dia tomei coragem, fui até a casa dele, toquei a campainha e pedi pra ele me levar a dar uma volta, e não é que o italiano me mandou entrar na macchina e lá fomos nós dar a volta no quarteirão, com aquele som maravilhoso preenchendo todos os meus sentidos!!! Jamais esquecerei!!!

Mais recentemente, já vivendo na Vila Olímpia, algumas experiências com Ferraris, mas de outro tipo… Novos ricos mais afoitos, se exibem nos fins de semana ou feriados aqui na Vila Olímpia / Vila Nova Conceição.
Aceleram e fazem bastante barulho nas avenidas Helio Pelegrino e Nova Faria Lima. São várias, vermelhas, pretas, amarelas, brancas.

Ora, o cara que tem grana para comprar uma Ferrari, vai ficar brincando aqui na cidade, nas ruas esburacadas, cheias de lombada e radar? Se exibindo em torno do quarteirão? Atormentando os vizinhos com o lindo ronco da macchina?
E olhe que sou um amante das máquinas e motores, em particular da Ferrari…

Elegância e discrição andam em falta por aqui..

Meu irmão Neco ilustrou a paixão:

é isso, por fernando stickel [ 20:39 ]

festa para jay chiat!


Mais um achado nos arquivos…
Quando meu amigo Jay Chiat (1931-2002) me ligou de NYC em 1989, avisando que viria a São Paulo em Abril de 1990, eu disse a ele:
– Sure Jay! We’ll make a party for you!
E aí veio a tragédia do Plano Collor…
E aí o Jay confirmou a viagem!
E aí eu me vi na obrigação de honrar o meu compromisso, já que era impossível não prestigiar um homem que havia aberto todas as portas para mim quando morei em New York.
Me virei para encontrar os endereços/telefones dos mais prestigiados publicitários de São Paulo, alguns dos quais eu conhecia pessoalmente, fiz os convites citando claramente que era uma festa em homenagem ao Jay, me virei para arrumar o dinheiro necessário, e Jade e eu fizemos uma belíssima festa na R. Ribeirão Claro!!!
Para minha surpresa fui solenemente esnobado pelos tais prestigiados publicitários paulistanos, que simplesmente não apareceram, eita turminha mal-educada! Vivendo e aprendendo…
As anotações a caneta nos recortes de jornal são do meu pai Erico.

é isso, por fernando stickel [ 18:25 ]

loteria


Morando e trabalhando na Vila Olímpia, tenho o hábito de fazer uma fezinha na Mega Sena na Loterica São Jorge na R. Nova Cidade, rotina de quem está há 35 anos no bairro, assim como ir à padaria, à farmácia, cortar o cabelo, ou sacar dinheiro no caixa automático.

Jogo sempre sete números, a aposta é mais cara, mas a probabilidade de ganhar é muito maior, e jogo quando o prêmio está acumulado, a excitação é maior…
Pensar no que fazer com o dinheiro se você ganhar é um exercício mental muito interessante. Até uma determinada faixa a sua vida não mudará, apenas adicionará um conforto aqui, a realização de um desejo ali. Daí pra frente a coisa fica mais complexa… mas de qualquer maneira de uma coisa tenho certeza absoluta, seja qual for o valor do prêmio, se algum dia eu ganhar, uma parcela será distribuida a quem precisa ou merece.

A única atendente da lotérica que conheço pelo nome é a D. Terezinha, uma senhora japonesa de mais idade, talvez a dona do estabelecimento. Todas as outras conheço de vista, a que me atende no guichê preferencial tem mãos bonitas, com as unhas bem cuidadas.
Procuro sempre os horários em que a lotérica está vazia, agora na quarentena está mais fácil…

Tenho certeza de que a sorte (boa ou má) nada mais é que a conjunção em um determinado momento, de vários fluxos energéticos, cristalizando um ou vários fatores, comandados não pela sua vontade, mas pelas leis maiores do universo e suas circunstancias.

é isso, por fernando stickel [ 0:07 ]

exposição alunos


Visita de educadores e alunos dos cursos gratuitos promovidos pela Fundação Stickel à exposição inaugural do novo Espaço Fundação Stickel na R. Nova Cidade 195, Vila Olímpia.


A aluna Djanira assiste ao seu depoimento em vídeo.

é isso, por fernando stickel [ 23:23 ]

fachada do espaço fund. stickel


Os educadores e parceiros da Fundação Stickel, Drope e Digão, trabalhando na fachada do Espaço Fundação Stickel, a Pharmacia Cultural na R. Nova Cidade 195, Vila Olímpia.

é isso, por fernando stickel [ 10:38 ]

marinalva em contato


Marinalva Nunes foi minha caseira de 1987 a 1991 quando morava na R. Ribeirão Claro na Vila Olímpia em São Paulo. Ela tinha uma casa separada e morava com as filhas, sua principal responsabilidade era travar o portão da casa se chovesse, pois havia enchente no bairro, e se o portão com gachetas de borracha não fosse travado era uma tragédia!
Sua neta Tatiana me encontrou no Facebook, não é fantástico?
Já estamos em contato via Whatsapp, ela mora no interior da Bahia, em Pataiba!

é isso, por fernando stickel [ 15:52 ]

reunião com educadores


Reunião da equipe da Fundação Stickel com seus educadores, no escritório da R. Nova Cidade, Vila Olímpia.

é isso, por fernando stickel [ 11:03 ]

vila olímpia

parede-azul
Passo caminhando em frente à essa parede azul no mínimo umas 6 vezes por semana, no meu caminho de ida e volta para o almoço.
Sua beleza me passou desapercebida por um bom tempo!
Nossos olhos se acostumam, o raciocínio se desliga, a rotina toma conta e tira o brilho das coisas.
Algo no entanto me fez olhar novamente, lá estava ela, linda! Pronta para se transformar em uma imagem que enche os olhos de alegria! Recorte privilegiado do banal!

é isso, por fernando stickel [ 9:03 ]

fernando stickel na folha de são paulo

f s paulo
O jornalista Toni Sciarretta do caderno “Morar” do jornal Folha de São Paulo do último domingo, 17 Abril 2016, me entrevistou sobre a minha experência como morador da Vila Olímpia.
Conversamos também sobre a série de fotos que realizei no bairro em 2003-2005, que acabaram por gerar a exposição “Vila Olímpia” na Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2006, com curadoria de Diógenes Moura, e lançamento simultâneo do livro “Vila Olímpia” pela Editora Terceiro Nome.
A minha foto na matéria é da Raquel Cunha.

ENTREVISTA FERNANDO STICKEL

Vila Olímpia foi dos inferninhos aos arranha-céus

Fotógrafo registrou detalhes do dia a dia do bairro em que vive desde 1986 e reuniu as imagens em livro e em mostra na Pinacoteca.

RAIO X
NOME Fernando Diederichsen Stickel

IDADE 67

FORMAÇÃO Arquitetura na FAUUSP

OCUPAÇÃO Presidente da Fundação Stickel de oficina de artes na periferia e autor do blog “aqui tem coisa”

Artista plástico, fotógrafo, blogueiro e agora executivo do terceiro setor, o arquiteto Fernando Stickel, 67, vive na Vila Olímpia há 30 anos, época em que o bairro ficava submerso nas águas do córrego Uberaba, onde hoje fica a avenida Hélio Pellegrino. Pelas lentes de Stickel e pelo bairro, retratado no blog “aqui tem coisa”, iniciado em 2003, passaram diferentes tribos: motoqueiros dos anos 1990, inferninhos “de quinta categoria” dos anos 2000 e agora executivos dos prédios espelhados e estudantes do Insper e da Anhembi Morumbi.
Stickel, que nos anos 1990 manteve um loft e ateliê de 2.000 m² até se render à especulação imobiliária local, chegou fotografar os prédios espelhados que surgiam na região, mas não gostou do resultado. Preferiu retratar detalhes de fachadas, tapumes de prédios em construção, portas e janelas do bairro. O trabalho motivou uma exposição na Pinacoteca e virou o livro “Vila Olímpia” em 2006 (ed. Terceiro Nome).
Leia trechos da entrevista feita na Fundação Stickel, instituição sem fins lucrativos que faz trabalhos na Vila Nova Cachoeirinha e na Vila Brasilândia (zona norte).

Folha – Como era a Vila Olímpia quando você chegou?
Fernando Stickel – Estou no bairro desde 1986. Construí um loft na rua Ribeirão Claro com a Fiandeiras –era meu estúdio e residência. A Vila Olímpia era um bairro pobre. A Hélio Pellegrino era um córrego imundo com uma favela. Quando chovia, a água subia mais de um metro.
O bairro inteiro tinha tecnologias diferentes para conviver com as enchentes: escadinha, rampa… Eu tinha um portão com gaxeta de borracha, que virava uma comporta para barrar a água.
Foi assim até que veio a obra que canalizou o córrego. Em seguida, saiu a nova Faria Lima. Aí o bairro explodiu.
E a sua história de fotógrafo?
Minha história de fotógrafo começa em 2003, quando montei o blog “aqui tem coisa”. Falava do meu filho, minha mulher, meu cachorro e do bairro. Ainda não tinha máquina digital. Comprei e saí fotografando como doido. Participava do Fotolog, um serviço de blog de fotografia que acabou de morrer. Fui formando uma visão das ruas do bairro que acabou gerando três anos depois a mostra na Pinacoteca e o livro.
A máquina fotográfica tem a mesma característica de um pincel –mas, no lugar de tinta e pincel, tem uma máquina. A visão é de artista plástico. Tanto que muitas pessoas falavam que era uma pintura.

O que as fotos mostram que não existe mais?
Tem tapume, fachada, janela, porta, portão; algumas coisas ainda lembro onde estão, outras foram embora há décadas. Era um bairro de casinhas, oficinas mecânicas, borracheiros, botequinhos, papelaria, mercadinho de bairro. O que era um barzinho de esquina, hoje virou um restaurante de quilo.
Esses bares da esquina da Quatá e Nova Cidade começaram na fase áurea dos motoqueiros. Aqui era “point” dos motoqueiros. Depois vieram os inferninhos. Eram boates de quinta categoria.

Onde estão esses moradores?
O borracheiro foi embora; não cabe mais aqui. O mercadinho foi comprado ou fechou. E assim tudo foi se modificando. Um dia vem o mercado imobiliário e toca a sua campainha. Ligavam todos os dias: eram corretores, incorporadores…
Não adianta lutar contra, então vamos fazer da melhor forma possível. Vendi o terreno para uma sinagoga, que ficou linda. Pelo menos, não foi um predião.

Os moradores da Vila Olímpia foram organizados e tiveram voz no desenvolvimento do bairro, como ocorreu no Itaim, onde a população ajudou a conservar o patrimônio histórico?
Sim. O cidadão, quando pode, se organiza e põe o dedo na ferida. Qual é o valor disso? Existe, mas o poder econômico é maior. Na minha visão, o poder público é totalmente omisso –não regulamenta, não fiscaliza e é vendido. O resultado é essa cidade completamente desestruturada e carente de infraestrutura.

Você tentou fotografar os prédios espelhados?
Quando comecei, achava que também iria fotografar os espelhados”¦ Tentei, mas não faz minha cabeça. Outros fotógrafos vão fazer mil vezes melhor, provavelmente não tiram a foto do detalhe como eu. Até porque esse tipo de detalhe está sumindo.

O que seria o detalhe dos prédios espelhados? A grama amendoim do paisagismo?
É tudo muito igual. Talvez você vá achar pessoas interessantes que passam na frente desses prédios.

Você tem nostalgia daquela Vila Olímpia?
Minha nostalgia não vai para dez anos atrás. Vai para o Guarujá dos anos 1950, onde eu cresci. Não tenho saudade do tempo dos botecos, era infernal! Demorava 45 minutos para andar dois quarteirões. Depois, assim como veio, também foi embora.
Hoje diria que é um bairro tranquilo. Faço tudo o que preciso a pé. Andei durante muito tempo de moto até que tive um acidente. Tentei andar de bicicleta, mas fui atropelado por um motoboy, ainda antes da ciclovia.
Almoço com os estudantes e executivos. Essa mistura é excelente. Vi na Vila Olímpia uma transformação não só de cidade mas também de vida. E acho ótimo que vá embora essa minha vizinha [aponta para o sobradinho em frente, com placa de “vende-se”], que mandou derrubar uma árvore linda porque sujava a casa dela. (TONI SCIARRETTA)

Veja aqui o artigo “Fotógrafo registra em livro detalhes do dia a dia do bairro em que vive desde 1986” on line.

EM TEMPO: Recebi esta mensagem, acompanhada da foto da pintura, muito interessante e simpática!
“Olá Fernando
Estava viajando e não vi seu email. Então, esse é o quadro que minha mãe pintou baseado na foto do seu livro “Vila Olímpia”. Ela tb pintou mais dois que devem estar com a família.
Vou procurar saber para te enviar tb. O nome dela é Therezinha Fontes, já faleceu há dois anos, dei pra ela o seu livro de presente justamente por causa das fotos.
Espero que vc goste do resultado.
Um abraço
Cristina Teresa Fontes”

pintora

é isso, por fernando stickel [ 14:31 ]

faleceu beatriz esteves

bia
Li na edição do Estadão de 12/2/2016 a notícia do falecimento da minha ex-aluna Beatriz (Bia) Esteves e fiquei chocado. Muito jovem!

Alguns dias depois leio no Facebook que foi o coração, dormindo… o que pode-se dizer é uma benção…

Vivi com ela um episódio muito interessante durante minhas aulas de desenho de observação, cerca de 1986/87.

Em um dia de aula no meu estúdio na R. Ribeirão Claro, Vila Olímpia a Bia reclamava muito que não conseguia desenhar, estava intranquila, falava muito, ao ponto em que solicitei aos outros alunos que parassem de desenhar, reuni todos ao redor da lareira e pedi para a Bia falar sobre sua intranquilidade.

Ela era uma pessoa reservada, discreta e estranhou a minha solicitação, diria que ficou chocada… Tranquilizei-a dizendo que se fosse necessário conversar para podermos evoluir no desenho, era isso que faríamos, sem problema nenhum.

Timidamente ela começou a contar seu momento e rapidamente surgiu o assunto que originou o desconforto, ela estava desmamando seu bebê! Leio no anúncio fúnebre que ela deixou os filhos Ana Helena e Francisco, não lembro sobre qual deles era a questão.

As angustias do crescimento e a consequente separação da criança estavam atrapalhando sua concentração na aula de desenho. Foi um momento catartico. Houve compreensão, choro e alivio.

Me senti altamente gratificado com meu momento “Dr. Freud”, foi muito bom ajudar a Bia a encontrar o caminho da solução da questão.

Penso com carinho nela e seus filhos, já adultos… Desejo que faça uma boa viagem.

é isso, por fernando stickel [ 9:11 ]

curiosidades da cidade

fiandeiras
Curiosidades da Vila Olímpia

Este imóvel fica na cidade de São Paulo, Vila Olímpia, e tem duas frentes, para a R. das Fiandeiras e Av. Helio Pellegrino. Trata-se de uma antiga indústria, com telhado em “shed”. O terreno é grande, deve ter algo como 50x20m, área aprox de 1.000m2

O curioso são os hábitos estranhos do filho do dono do imóvel, que lá opera um discreto antiquário. Sua grande preocupação é impedir que automóveis parem defronte sua calçada rebaixada.
Ele lança mão e organiza vários elementos, cones, plaquetas ameaçadoras, fitas, cavaletes, correntes, tudo para coibir o estacionamento, e sai na porta do estabelecimento dezenas de vezes durante o dia para checar se alguém ousou desobedecer sua lei.

Quando percebe algum carro ou van parado, sai imediatamente pela rua, entra nos bares e restaurantes, salão de barbearia, oficina mecânica, loja de peças procurando o transgressor e não sossega enquanto o veículo não sai.

fiandeiras2
Algum tempo atrás o restaurante Arabia, cuja unidade industrial fica exatamente defronte ao antiquário chegou a alugar o espaço para seus clientes, mas o esquema não prosperou, e a situação voltou ao “normal”, com ninguém parado, nem na rua, nem nas vagas do antiquário. Sim, gastando seu tempo fiscalizando a rua o cidadão provavelmente tem pouco tempo para tocar o negócio, raras vezes vi algum cliente ali.

Não vendem o imóvel, não alugam, não fazem nada, a não ser fiscalizar o estacionamento… Curioso…

é isso, por fernando stickel [ 18:15 ]