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...desde janeiro de 2003

o tarado de itanhaém

Prometi a história completa, ei-la:

Amor aos Pedaços ou O Tarado de Itanhaém

Após o teatro fomos jantar no bistrô La Tartine, vizinho do restaurante Mestiço, muito gostoso simpático e barato, sempre com lugar, ao contrário do Mestiço, sempre lotado. Nas mesas ao lado desenrolam-se cenas fascinantes:

Ele: Alto, forte, ombros largos, por volta dos 45 anos, grisalho nas têmporas, cara de serial killer, médico legista contratado por concurso pela Prefeitura de Itanhaem, SP, prolixo, encantado com sua própria voz, alta e pausada, veste jeans, tênis e camisa cinza escuro e discorre sobre o milhão de dólares necessário para montar uma franquia MacDonalds ou os R$ 200.000 para montar um Amor aos Pedaços.
Ela: Mignon, gostosinha, parda, vulgar, sorriso semi-cretino nos lábios, bibliotecária do interior, parece ser excelente ouvinte, ou então está apenas embevecida pelo bonitão. Não sabe o que é Amor aos Pedaços.
Ele: (declamando): – “Você é a coisa mais importante que aconteceu na minha vida, você não sabe como estou feliz” e olha profundamente nos olhos dela, inclina-se para a frente e segura a mão da moça bem apertada. Logo a seguir: -“Você pode escolher o prato quente para dividirmos” mudando abrubtamente para: “Eu sonhei em ter uma livraria”, e conta como é apaixonado pelos livros desde criança.
E assim vai ele solando sobre os mais diversos assuntos, conta como foi contratado pela Prefeitura, ela fixada nele. Aí conta como conseguiu obter gravações da ex-mulher com o amante, através de um enfermeiro do Savoy Pronto Socorro, e continua descrevendo suas aventuras pra baixinha, ela vidrada nele, sempre com olhar entre embevecido e completamente idiota, depois volta a falar das franquias e da sua paixão pelos livros e a vontade de ter uma livraria, e também o desejo de montar academia de artes marciais… , o tempo passa, Sandra e eu mal conseguimos disfarçar a total curiosidade, anotamos algumas coisas em guardanapos de papel, o assunto é extremamente fascinante.
Ela não se dá conta, mas está correndo perigo. Algo neste casal nos passa uma tragédia suspensa por algo muito tênue, a brutal diferença física entre os dois, a obsessão sinistra do grandalhão evidenciada no seu falar pausado e monocórdio, a improvável salada de objetivos de vida…

Atrás de nós outro casal curioso, ele um jovem gatão gringo, cabelos longos, mãos bonitas e costas largas, na segunda caipirinha tripla, ela mulata esguia, cabelos anelados, insinuosa e sorridente, no segundo balde de dry-martini.
Falam alto, ele em inglês e ela macarronicamente se dedica ao “body language”, se pegam, se beijam, a certa altura se levantam, e no meio do restaurante entre as mesas abraçam-se num longo beijo tarado e voltam a se sentar sorridentes.
Mais dry-martini, mais caipirinha, o tom de voz se eleva, começam a brincar com os talheres fazendo um barulho danado, daqui a pouco se levantam novamente e se agarram mais intensamente, mão na bunda, beijos profundos, parece que de comum acordo estão fazendo uma prévia dos corpos, antes que desmaiem de tanto beber, dane-se o restaurante e quem estiver por perto. Neste caso a tragédia será apenas acordar com aquela puta dor de cabeça e tentar se lembrar do que aconteceu na noite anterior…

é isso, por fernando stickel [ 8:47 ]

5 comentários

Jeff, mas poderia ..

outubro 23rd, 2003 at 17:09

Não sei o porque desse texto ….Faz algum tempo que acompanho seu blog. Eu, 21 anos aspirante a jornalista e historiador, paulistano nato e com um olhar nostálgico para o mundo mesmo com essa pouca idade. Talvez seja isso que me faça viajar pelo seu diário (se assim posso classifica-lo). Conheço-lhe um pouco. O suficiente para obter uma conclusão: estou caminhando pelo seu caminho. Um dia tentei ter um blog e ele se chamava iscrivinhar (escrito erroneamente de propósito). Lá discorria aventuras amorosas e a bucólica rotina de um adolescente romântico e nostálgico aos 21. Arrependi-me. Hoje não tenho mais o amor da minha vida (como adolescente é exacerbado) e por essa razão, não mais que essa, simplesmente apaguei todo o conteúdo do blog de dois anos de vida (tempo que durou o namoro) Ora, dirá você. Que diabos eu quero saber disso ? ou ainda Para que esse fedelho esta escrevendo esse meloso texto ? Voltou ao inicio….

lilia

outubro 25th, 2003 at 16:43

mild sorriso … primeiro pelo texto, depois pelo comentario… voce nunca d’escreve tanto e suas observacoes me fazem viajar no relato. parece que eu to vendo… hoje ja eh sabado… que ele termine bem proce. bjs

Fernando Cals

outubro 25th, 2003 at 20:35

oI, StickelSei não, a indicaçaõ do La Tartine, pelo preço e pela oferta mais fácil de lugares, pareceu-me interessante.Mas as figuras descritas, e as descrições das situações, levam-me a seguinte perguntinha:é um local para azarações? As figuras, as mulheres das duas situações, são do tipo prof.?Ãs hsitórias, e a forma de narrar, estão muito boas!!!Abração e bom domingo pra vc, com melhoras das dores nas costas, if possible!!!Fernando Cals

cintia

novembro 4th, 2003 at 18:00

Haha.. olhar meloso para dizer “vamos rachar o prato, certo?” mao de vaca! Bibiotecaria? Hmmm talvez a conheca, mas espero que eu nao tenha o mesmo sorriso cretino..

vida real | aqui tem coisa

abril 9th, 2009 at 20:14

[…] aqui outro flash da vida real. é isso, por fernando stickel [ 15:03 ] Link para este post Comente […]

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