De espaços e exposições.
Minha casa na Rua Ribeirão Claro 37, Vila Olímpia – São Paulo fez parte da minha vida, como unha e carne, por 21 anos.
Recém chegado a São Paulo em 1985, após um período morando em New York, procurava um espaço para alugar quando por indicação de amigos conheci o estúdio do Sergio Fingerman, que estava de mudança para a Vila Madalena. Entrei em contato com o proprietário para alugá-lo, mas ele queria apenas vendê-lo, e acabei comprando o imóvel.
?Lá morei, trabalhei, namorei, cozinhei, casei, sobrevivi a enchentes, plantei árvores, cuidei de cachorros e escrevi um livro. Lá nasceu meu filho Arthur, fiz os cursos “Desenho com Fernando Stickel” e 1ª Oficina de Design de Automóvel”, fiz festas, preparei exposições, fiz 21 reformas, negociei, transformei, hospedei amigos, pintei o imóvel de inúmeras cores, conheci vizinhos, bem e mal humorados, e finalmente cedi gratuitamente o espaço por dois anos, para que a Fundação Stickel lá construísse, com projeto de Sandra Pierzchalski, o “Espaço Fundação Stickel” e realizasse 9 exposições de arte, estreando com a exposição “Arte e Ilusão” de Luiz Paulo Baravelli em outubro 2005.
Chegado o momento de sair do imóvel e vendê-lo, iniciou-se longo e complexo processo, envolvendo a consolidação de vários terrenos e uma negociação onde ao final dois interessados disputavam o negócio, uma incorporadora interessada em construir um prédio, e a Comunidade Shalom, sinagoga progressista interessada em construir sua nova sede.
Um belo dia conversando com o jovem e simpático rabino Adrian Gottfried sobre a negociação, eu disse a ele:
– Adrian, vou vender minha casa pelo melhor preço, mas prefiro vender a vocês, pois este terreno está impregnado de muitas boas vibrações… E assim, foi, para minha alegria a melhor proposta veio da Shalom e fechamos o negócio.
Entreguei as chaves do imóvel em 31 dezembro 2006. Na desmontagem do espaço, tal qual um corpo doando órgãos, distribuí aos amigos e pessoas próximas, luminárias, plantas, caixilhos, telhas, grades, portas, louças e metais, etc… etc… O final de ciclo de um imóvel que cumpriu plenamente sua função, pública e privada. Algo que desaparece para dar lugar a algo novo. É o saudável ciclo da vida.
Vencedores do concurso de arquitetura promovido pela Shalom, o projeto de arquitetura da nova sinagoga foi de Marcelo Ferraz e Francisco Fanucci, da Brasil Arquitetura. Em 2011 fui convidado para a inauguração do novo prédio, tive muito prazer de participar da cerimônia, onde encontrei inclusive alguns amigos.
Agora, 17 anos depois, em um espaço mais uma vez projetado por Sandra Pierzchalski, a Fundação Stickel repete o convite ao mestre Baravelli, que apresentará seus trabalhos no novo Espaço Fundação Stickel, na Rua Nova Cidade 195 – Vila Olímpia, São Paulo.