Morei no final dos anos 70 no Edifício Pinheiros, delicioso prédio de três andares sobre pilotis na R. Tucumã 141, em frente à entrada principal do Clube Pinheiros. Lá nasceram meus dois filhos mais velhos, Fernanda em 1977 e Antonio em 1979.
Por pouco naquela época o condomínio não conseguiu destruir o maravilhoso painel da fachada do prédio, de autoria desconhecida.
Através de uma “Comissão de Obras” os arquitetos Tito Livio Fraschino e Helio de Maria Penteado, entre outros vizinhos, argumentavam que o painel era de “mau gosto” e queriam destrui-lo, substituindo-o por uma fachada em “brises”, que consideravam uma solução arquitetônica mais limpa e “elegante”.
Então pensei assim:
Que destruam tudo, mas não vão destruir o meu prédio!!!
Iris Di Ciomoo, com quem eu estava casado e eu redigimos um manifesto e enviamos aos nossos vizinhos em 22 agosto 1978:
Manifesto enviado aos 24 condôminos
DEFENDENDO O “NOSSO CASARÃO”
Numa época, em que os ataques à nossa memória cultural se tornam cada vez mais frequentes e destruidores, se fixa como imposição a todo cidadão, preservar e manter intacto, o que ainda conseguiu sobreviver.
O “Nosso Casarão”, adquire relevo e importância especiais, não apenas por ser o local que tanto nos é caro, e onde habitamos, mas também, e justamente, pelo fato de possuir características que, aos 24 anos de idade, numa sociedade de apenas 500 anos, constituem um valor de patrimônio histórico e cultural. Sendo assim, sua arquitetura, seus jardins, seu pé direito de 3 metros, suas escadas, e seu painel de fachada, tornam-se valores insubstituíveis.
O que pretendemos é preservar o prédio como um todo. Reformas fazem-se necessárias, porém a destruição do painel, se nos afigura um exagero de higiene formal.
Não é um apelo carregado de nostalgia, nem uma atitude retrógrada e reacionária, que se coloca contra o inevitável progresso.
Infelizmente a situação não abriga tanto romantismo.
O que se defende, não é uma donzela em apuros, mas, uma obra que definitivamente, pertence ao patrimônio cultural da cidade, do bairro, e nosso, seus habitantes e usuários.
O momento exige uma postura enérgica contra o verdadeiro vandalismo que ameaça nossos reais valores culturais, e é com esse alerta que eu me dirijo a vocês.
São Paulo, 22 de agosto de 1978
Fernando Diederichsen Stickel
Iris Di Ciommo
O manifesto, a pasta com as fotos e a lista de assinaturas
Na sequência pedi para o meu amigo Joaquim Cunha Bueno Marques fotografar o prédio, preparei um abaixo assinado com as fotos e fui à luta. Reuni um total de x assinaturas, a seguir:
Assinam a lista em defesa do painel do Edifício Pinheiros:
Aguinaldo Galiza Jr.- Publicitário
Armando Garcia Jr. – Arquiteto
Augusto Livio Malzoni – Pintor/Arquiteto
Antonio Carlos Barossi – Estudante Arquitetura
Antonio Marcos Silva – Arquiteto
Ana Maria Stickel Paoliello Professora
Benedito Lima de Toledo Arquiteto
Carlos Alberto Fajardo Artista Plástico
Cesar Giobbi Jornalista
Carla Dworecki Publicitária
Celio Calestine Arquiteto
Celso de Almeida Decorador
Cecilia Bés Assistente MASP
Carlos Alberto F. Villar Arquiteto
Cecilia Motta Geografa
Carlos Augusto de Carvalho Estudante Arquitetura
Cassio Michalany Pintor/Arquiteto
Eduardo Longo Arquiteto
Eunice de Oliveira Secretaria Escrit6rio Arquitetura
Edo Rocha Pintor/Arquiteto
Erico J. S. Stickel Advogado
Elói Gertel Jornalista
Francisco Borges Filho Arquiteto
Felippe J. Crescenti Filho Estudante Arquitetura
Frederico Jayme Nasser Editor
Gustaaf Verberger Antropólogo
Guilherme Paoliello Estudante Arquitetura
Helena Carvalhosa Caseira
Helio Mariz de Carvalho Arquiteto
Henrique Cambiaghi Filho Arquiteto
Ivone Dutra de Toledo Professora
Jacques Bisilliat O Bode
Jaime Cupertino Arquiteto
Joaquim da C. Bueno Marques Fotógrafo
João Vilanova Artigas Arquiteto
Julio A. de Oliveira Moreno Arquiteto
June A. Chaves Izzo Arquiteto
João Xavier Arquiteto
Klaus F. Foditsch Engenheiro
Lenimar G. Rios Arquiteto
Luiz Seman Técnico Gráfico
Luisa Malzoni Strina Comerciante de Arte
Luiz S. Hossaka Assistente MASP
Luiz Paulo Baravelli Artista Plástico
Luiz Pires Paoliello Administrador Empresas
Marlene Milan Acayaba Arquiteto
Marcelo R. Villares Arquiteto
Maria Lúcia Simões da Cunha Arquiteto
Maria A. Meirelles de Oliveira Mãe
Modesto Carvalhosa Advogado e professor USP
Martha Diederichsen Stickel Mãe
Murillo Marx Arquiteto
Mária Cecilia Pasote Neumann Arquiteto
Maria Angela Pastore Estudante Comunicação Visual
Nicodemus Pessoa Jornalista
Norberto Chamma Arquiteto
Olney Kruse Jornalista
Odette Walkiria Rieper Secretária Escritório Arquitetura
Pietro Maria Bardi Diretor MASP
Plínio de Toledo Piza Filho Arquiteto/Pintor
Paulo Mendes da Rocha Arquiteto
Randáu Marques Jornalista
Rubens Candia Engenheiro
Rubens Mário de Oliveira Decorador
Regina Cunha Wilke Arquiteto
Ricardo Marques de Azevedo Arquiteto
Roberto C. S. Aflalo Arquiteto
Roberto D. Stickel Engenheiro
Rogerio Batagliesi Arquiteto
Sergio Prado Arquiteto
Sylvia Ficher Arquiteto
Salvador Candia Arquiteto
Suzana Campos –
Sueli M. L. Bacha Publicitária
Sakae Ishii Arquiteto paisagista
Sylvia Foditsch Historiadora
Sergio Ficher Arquiteto
Santuza Borges Andrade Pintora/Decoradora
Sheila Maureen Bisilliat Fotógrafo
Telmo Martino Jornalista
Virginia F. de Toledo Piza Pedagoga
Walter Arruda de Menezes Estudante Arquitetura
Wladmir Perez Desenhista
Wesley Duke Lee Pintor
Após o assunto aparecer em destaque no Jornal da Tarde e no Bom Dia São Paulo da Rede Globo, em Outubro de 1978, nunca mais se falou no assunto, o condomínio e sua “Comissão de Obras” calaram-se sobre o assunto e o painel continua lá, firme, forte e lindo.
Hoje meu irmão Neco Stickel mora no prédio e continua zelando por sua integridade.
Eu no apartamento 208, com tela do José Carlos BOI Cezar Ferreira.
Minha entrevista ao bom Dia São Paulo em frente ao Edifício Pinheiros, com o painel artístico na fachada.
Algum tempo depois enviei enviei esta “aventura” preservacionista no formato de trabalho, para o Primeiro Encontro Nacional de Arquitetos sobre Preservação de Bens Culturais promovido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil e realizado na FAUUSP na Cidade Universitária em julho 1981.