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sonhei com meu pai


A sala de visitas da casa na R. dos Franceses.

Sonhei com meu pai Érico, ele estava na casa da Rua dos Franceses recebendo várias pessoas na sala de visitas. Era um evento festivo importante, ele vestia um terno jaquetão cinza muito elegante e uma gravata bordô, muito animado ele se movia com naturalidade, impondo sua presença. Eu estava por ali mas não participei da reunião, me sentindo bem por ele estar bem, pois aquelas pessoas eram da cultura e das artes, assuntos que ele prezava acima de todos.

Interessante que acordei hoje com o sonho muito vivo e claro na minha mente, e pensei: Preciso escrever!
O dia passou, fiz mil outras coisas e me esqueci do sonho. Ao deitar, já com a luz apagada, eis que o sonho volta à minha mente, levantei e fui escrever.

é isso, por fernando stickel [ 23:56 ]

sonhei com meu pai

Sonhei com meu pai

Eu estava confortavelmente sentado em uma poltrona debaixo de uma árvore, lendo um artigo da Trip Transformadores de 2019, trajando um terno claro e gravata. O local era um pátio ou um jardim ao ar livre, poderia ser os fundos da casa do Guarujá, quando chegou meu pai Erico, também de terno claro.

Ele me pediu para para acompanhá-lo, precisava me mostrar alguma coisa. Ali ao lado estava parado um Fusca bege, ele abriu a porta e tomou a direção, eu me sentei no banco do passageiro. Meu pai começou a guiar por uma cidade que eu sabia ser Nova Iorque porém a aparência era bem diferente. Nova Iorque é uma cidade plana e esta cidade por onde andávamos tinha relevo significativo, largas avenidas bem vazias. Andamos até chegar na casa da Rua dos Franceses e meu pai queria minha opinião sobre uma reforma que incluiria uma nova suíte na casa.

Estávamos no jardim e olhávamos para a casa discutindo a localização de uma janela, onde ficaria a nova suite e outros detalhes. Tudo muito calmo e equilibrado. A casa parecia mais alta e sem reentrâncias, sem beiral, um paralelepípedo.

é isso, por fernando stickel [ 7:59 ]

aero commander


Meu primo Paulo Diederichsen Villares e seu pai Luiz Dumont Villares, ao lado do Aero Commander. Paulo está usando uma bengala porque havia sofrido um acidente de planador, com sequelas na coluna vertebral.

aero.jpg

Neste bimotor Aero Commander a pistão, prefixo PT-BDU, apelidade de BIDU, fiz minha primeira viagem aos E.U.A. em Janeiro 1962, com 13 anos de idade.
O avião precisava fazer manutenção dos motores, operação que naquela época só era possível em Miami – USA, então meu tio Luiz Dumont Villares, proprietário do pássaro convidou meu pai Erico e eu para irmos junto com o avião até Miami.
Embarcamos 6 pessoas, lotação máxima, meu tio, o piloto Celso, meu pai, eu e mais dois primos.
Primeira parada para reabastecimento em Brasilia, depois em algum lugar das Guianas. Dormimos em Barranquilla na Colombia, num hotel saído de um filme de James Bond, a noite mais quente e úmida de que tenho lembrança.

Na sequência Caracas capital da Venezuela, onde dormimos no Hotel Tamanaco. De lá fomos para a Costa Rica, sobrevoamos vulcões ativos, vi os corais e as águas maravilhosas do Caribe, logo depois Managua na Nicarágua e depois longo vôo até a Cidade do México, onde dormimos no moderníssimo Hotel Alameda, lembro bem do quarto, com um caixilho que tomava a parede inteira, do chão ao teto e cortinas elétricas, no dia seguinte conheci as pirâmides.

No dia seguinte mais um longo vôo até Miami. Fiquei conhecendo o avião de cabo a rabo, até umas pequenas pilotadas me deixaram fazer.

Lembro-me do meu tio Luiz Dumont Villares (1899-1979) assim como está nesta foto.

Em Miami cada um dos passageiros foi para o seu lado, meu pai e eu fomos a New York.
Lembro-me bem do Rockefeller Center e do Radio City Music Hall. Certo dia meu pai foi fazer algo na cidade e me deixou sozinho no hotel, com todas as recomendações, lanches preparados, etc…
Não sei porque saí do quarto e a porta bateu atrás de mim, e como me explicar para entrar novamente, sem falar inglês…
Aos prantos, no elevador, fui salvo por um bailarino espanhol, que entendeu o meu portunhol…

é isso, por fernando stickel [ 8:04 ]

ernesto diederichsen

ERNESTO DIEDERICHSEN – Um visionário

Meu avô Ernesto Diederichsen (1878-1949) e sua esposa Maria Elisa Arens Diederichsen (Lili)(1883-1973) chegaram à cidade serrana de Campos do Jordão, SP em 1936. Encantados com o cenário, compram grandes glebas de terra e iniciam a construção da residência de veraneio da família, concluída em 1941, na sequência empreendem em sociedade com o genro Luiz Dumont Villares o Hotel Toriba, concluído em 1943.

A vivência em Campos do Jordão os colocou em contato com a situação de pobreza e más condições de saúde em que viviam moradores e ocupantes dos sanatórios existentes na região. Sensibilizados com a situação, Ernesto e Lili iniciam um trabalho filantrópico assistencialista, e criam em 1946 o Grêmio Bernardo Diederichsen. Com gestão do Reverendo Oswaldo Alves o Grêmio atendia famílias e crianças carentes que chegavam à cidade para acompanhar o tratamento de tuberculose de parentes internados, incluindo distribuição de remédios, alimentos, agasalhos e realização de tratamentos médicos.

Após o falecimento de Ernesto, em 1949, as obras assistenciais foram assumidas por sua filha Martha Diederichsen Stickel junto ao seu marido Erico João Siriuba Stickel (1920-2004), meus pais. Em 1954 este trabalho assistencial se transformou, na Fundação Beneficente Martha e Erico Stickel, hoje Fundação Stickel.

Industrial e empresário, Ernesto estava à frente de seu tempo, pois tinha sua atenção voltada para o bem estar de todos os empregados de suas indústrias, criando muito antes que as leis o obrigassem, creche, ambulatório, gabinete médico, escola primária, cinema e biblioteca em suas empresas.

O Sítio das Figueiras ficava às margens da represa Billings e abrigava a casa de veraneio da família, inserida em meio a gigantescas figueiras, daí o nome do sítio. A estrutura de lazer da casa incluía quadras de esporte e um enorme escorregador, alguns barcos também ficavam disponíveis para brincadeiras aquáticas.

A cerca de 400 metros da casa ficava a Colônia de Férias dos funcionários do grupo empresarial Diederichsen, que incluía indústrias têxteis, comércio de café, adubos e forragens, óleos vegetais hotel e outras atividades. A Colônia de Férias era ampla, com acomodações para para os funcionários, salões de eventos, cozinha, restaurante, etc…

Anos mais tarde, o Sítio das Figueiras se transformou no SESC Interlagos.

Quando conheci a Argos Industrial nos anos 70 fiquei fascinado pela marca da empresa, criada pelo designer Alexandre Wollner (1928-2018),considerado o pai do design moderno no Brasil.

é isso, por fernando stickel [ 17:42 ]

diederichsen, villares, stickel e dumont

Neste último fim de semana aconteceu no Hotel Toriba em Campos do Jordão o encontro das famílias Diederichsen, Villares, Stickel e Dumont.

O hotel, inaugurado em 1943 foi construído pelo meu avô Ernesto Diederichsen (1878-1949) juntamente com meu tio, Luiz Dumont Villares (1899-1979), que era sobrinho de Alberto Santos Dumont (1873-1932), o Pai da Aviação.

A Fundação Stickel teve sua origem em Campos do Jordão na época em que Ernesto Diederichsen iniciou a construção da casa da família, inaugurada em 1941, quando frequentando a cidade de ele e minha avó Lili encontraram crianças desvalidas vagando pelo bairro de Abernéssia e iniciaram um trabalho social de assistência a estas crianças. Este trabalho foi assumido pelos meus pais, Erico João Siriuba Stickel e Martha Diederichsen Stickel após o falecimento de meu avô em 1949, e logo depois em 1954 foi transformado na Fundação Beneficente Martha e Erico Stickel.

O encontro reuniu cerca de 70 pessoas, de todas as idades e foi muito alegre e rico em conhecimentos e histórias, eu contei a história da Fundação, e projetei o mais recente vídeo institucional. Como gosto muito de contar boas histórias e tenho várias delas no meu blog, Conheci novas pessoas e novas possibilidades de histórias a serem contadas!

As fotos da família Stickel e de todos os presentes foram feitas na sala de estar do Hotel, com suas paredes guarnecidas dos maravilhosos afrescos de Fulvio Pennacchi (1905-1992).


Árvore genealógica da família criada pela minha prima Rebeca.

é isso, por fernando stickel [ 17:09 ]

ex-libris ejss

Lá nos anos 70 criei um Ex-libris  para o meu pai, identificando-o pelas iniciais de seu nome completo, Erico João Siriuba Stickel – EJSS

Imprimi em papel Vergé creme, uma novidade na época, e dei a ele de presente. Ele o utilizou, marcando seus livros até falecer em 2004.


Cartão postal comemorando o lançamento do navio

Me inspirei em um cartão postal que ganhei do meu pai retratando o transatlântico Cap Arcona da companhia Hamburg Süd, lançado em maio 1927. Ele gostava muito de navios, e minha mãe Martha viajou no Cap Arcona em 1934, aos 7 anos de idade, de Santos para Hamburgo.

Anos depois uma versão do ex-libris foi criada para ser usada em relevo. Se bem me lembro, todos os livros doados à Instituto de Estudos Brasileiros da USP – IEB em 2002 foram marcados com este relevo.

é isso, por fernando stickel [ 16:34 ]

apoio ao terceiro setor

A Fundação Stickel contratou recentemente um novo administrador de seu Fundo Patrimonial, leia como se deu esta transformação, em artigo publicado pela FortunA Gestora em Comunicação de Luxo com foto de Júlio Trazzi:

Apoio ao terceiro setor

Os arquitetos Fernando Stickel e Sandra Pierzchalski são os responsáveis pela Fundação Stickel, criada em 1954 por Martha Diederichsen Stickel e Erico João Siriuba Stickel. Desde 2004, quando reativaram as atividades da instituição, que ficou durante algumas décadas parada, passaram por três empresas que administraram, “nem sempre com sucesso”, como acentua Fernando, o fundo patrimonial que sustenta as várias ações realizadas. “Há cerca de um ano eu e a Miriam Miranda Costa, gerente administrativa e financeira, decidimos buscar no mercado outra empresa. Estivemos com oito proponentes e não ficamos satisfeitos, até encontrar o Fernando Hormain, da Angatu Private, que nos sugeriu uma gestão mais adequada ao nosso perfil. A cereja do bolo foi o Selo de Investidor Cultural, que evidencia um ponto importante para nós, que é a captação de recursos”, conta Fernando Stickel.

Arquiteto e artista plástico, ele explica que a fundação não tem uma grande empresa ou banco por trás e, portanto, precisa captar recursos, sob pena de não ter condições de manter as atividades. “Nosso fundo patrimonial não dá conta de fornecer meios para todas as necessidades”, diz. Fernando Stickel acentua a importância da sensibilidade da Angatu e da proposição sob medida para as demandas da fundação. “Juntamos nessa nova parceria a gestão patrimonial mais adequada que tivemos até agora junto com a consciência de que ela precisa divulgar aos seus parceiros e usar esse recurso do selo como incentivo à doação.”

Esses recursos, tão difíceis de serem arrecadados num mercado nem sempre sensível à necessidade de projetos artísticos e culturais, são essenciais para colocar em prática o lema “Arte Transforma”, adotado pela fundação em 2012. Sob essa ideia, são realizados cursos gratuitos de temas variados, desde fotografia até design gráfico, na periferia de São Paulo; exposições, que divulgam o resultado dessas oficinas e também destacam artistas respeitados que nem sempre encontram espaço nos circuitos normais da arte; e publicações, que normalmente compilam os trabalhos dos alunos em catálogos e folders e depois são distribuídos para bibliotecas e escolas, sempre com um cuidado extremo na identificação de cada obra.

Esse capricho Fernando Stickel parece ter herdado do pai, Erico Stickel, um aficionado das artes que foi dono do famoso quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral, durante quase 20 anos, e tinha como hobby garimpar obras de artistas que participaram das famosas expedições que vinham da Europa ao Brasil durante o século XIX. “Ele visitava feiras como a do Bixiga e do MASP, sebos e comerciantes de arte à procura dos trabalhos dos artistas que acompanhavam essas viagens. Tinha uma coleção riquíssima e, como era um estudioso, anotava tudo cuidadosamente em fichas, com o nome artista, ano, expedição e referências bibliográficas.” Erico chegou a publicar um dicionário chamado Uma Pequena Biblioteca Particular, pela Edusp.

Leia a revista FortunA aqui.


No Espaço Fundação Stickel, com Fernando Hormain da Angatu.

é isso, por fernando stickel [ 9:09 ]

arthur stickel e clube pinheiros

Meu pai Erico João Siriuba Stickel (1920-2004) e meu avô Arthur Stickel (1890-1967) nas quadras de tênis do Sport Club Germania em 1933.

Meu avô foi presidente do Sport Club Germania de 1933 a 1942, em sua gestão foi construído o conjunto de piscinas, inaugurado em outubro de 1933.

Durante a Segunda Guerra Mundial o clube sofreu sanções com a entrada do Brasil no combate, tendo seu alvará de funcionamento cassado, devido a vários membros de sua diretoria não serem brasileiros natos.

Arthur Stickel se afastou da diretoria do clube, assim como outros diretores, e Henrique Villaboim foi designado interventor do clube.

Em 16 março 1942 Henrique e um grupo de de diretores e associados mudaram o nome do clube para Esporte Clube Pinheiros. Em 18 abril 1942 realizou-se a primeira reunião do Conselho Deliberativo, ratificando a mudança do nome do Germania para Esporte Clube Pinheiros. Meu avô teve grande atuação neste período conturbado em que vários alemães foram perseguidos, tendo logrado êxito na mudança de nome do clube.


Hoje visitei o clube com minha mãe Martha de 96 anos e meu irmão Neco. Revisitamos algumas das placas comemorativas que citam o meu avô.


Nos anos 60 os homens vestiam inevitavelmente terno, muitas vezes com colete. É assim que lembro do meu avô em São Paulo, sempre de terno com um alfinete de pérola na gravata, nesta foto ao lado do meu pai.


Algumas das placas comemorativas no clube.

é isso, por fernando stickel [ 18:41 ]

sabedoria dos sessenta


Erico Stickel em sua casa na R. dos Franceses em 2003.

Mil anos atrás perguntei ao meu pai se ele já tinha tomado um dry martini, ao que ele me respondeu que não. Perguntei então se ele não gostaria de experimentar um, e ele mais uma vez disse que não. Achei meio estranha e ridícula sua recusa de experimentar algo “novo” e segui na minha arrogância de jovem.

No Estadão de hoje Leandro Karnal comenta sobre seu aniversário de 60 anos: “Não preciso mais conhecer o novíssimo restaurante três estrelas Michelin inaugurado em uma vila da Ligúria, a três horas de carro de Gênova. Enfrentar menus obrigatórios com espuma e fumaça? Nunca mais. Farei em casa minha massa de grão duro, tomate fresco, manjericão, muçarela de búfala e um fio de azeite bom – com duas ou três pessoas íntimas. Esse é meu paraíso três estrelas!”

Hoje penso exatamente como o Karnal, e percebo, olhando para trás, como meu pai já havia conquistado silenciosa e discretamente a sabedoria dos sessenta… e sua taça diária de vinho…

Leandro Karnal

Bodas de diamante
Seriam os 60 os novos 40? Os 60 são 60 mesmo, com todas as suas glórias e desastres.

A partir de agora, posso entrar na fila das prioridades. Chego ao jubileu de diamante: 60 verões completados.
Se fosse uma referência histórica, poderíamos dizer que dobro o Cabo da Boa Esperança. O primeiro contato lusitano com o promontório meridional da África dá origem ao termo Cabo das Tormentas. Depois, com a pressão do poder em Lisboa, surge o novo nome, mais suave. Será assim comigo? Outro dado animador: o ponto extremo sul-africano é o Cabo das Agulhas. Há coisas novas a descobrir.
Seriam os 60 os novos 40? Os 60 são 60 mesmo, com todas as suas glórias e desastres. Prossigo na chamada “maturidade com saúde”.
Na prática: tenho mais tempo atrás do que pela frente. Minha casa é muito mais atrativa agora. Minha cama é uma companhia extraordinária. Ver uma boa série deitado, confortavelmente, tem se tornado meu nirvana. Não preciso mais conhecer o novíssimo restaurante três estrelas Michelin inaugurado em uma vila da Ligúria, a três horas de carro de Gênova. Enfrentar menus obrigatórios com espuma e fumaça? Nunca mais. Farei em casa minha massa de grão duro, tomate fresco, manjericão, muçarela de búfala e um fio de azeite bom – com duas ou três pessoas íntimas. Esse é meu paraíso três estrelas. Essa é minha consciência de 60 anos.

A libido que explodia diariamente (e de forma inconveniente aos 20) é agora uma experiência um pouco mais espaçada. A vontade de passar uma semana acampado no deserto de Gobi, sem tomar banho, foi realizada. Amo meu chuveiro de forma apaixonada e sou feliz sob o fluxo da água na minha residência. Em mim, Marco Polo perde uma parte do seu impulso.
Nunca fui melancólico. O que ocorre é o fim da sofreguidão, o fim do furor com as coisas, a pressa absoluta que há de ter marcado minha existência. A ansiedade diminui. Já sei que sou e serei incompleto, que não verei tudo, que não conhecerei tudo. Aceito a contingência da vida e sei que a beleza está em seu caráter passageiro.
Reflito que, com minha idade, Shakespeare já estava morto há oito anos. O legal dos 60 é pensar que nunca serei como ele. Tive e tenho o privilégio de lê-lo. É o bastante! Faço bodas de diamante, ainda sendo carvão comum. No fim, convenço-me de que diamantes são pouco úteis no frio da vida… Tenho esperança de continuar lendo bem aos 70.
E você, querida leitora e estimado leitor? Teme algo ao ver a estação final cada vez mais perto?

é isso, por fernando stickel [ 9:10 ]

bodas de brilhante


Neste dia 6 janeiro 1947, meus pais Erico e Martha casaram-se 75 anos atrás… Se neu pai fosse vivo estaríamos comemorando as bodas de brilhante do casal!

é isso, por fernando stickel [ 15:36 ]

biblioteca carmelita brito


Igor, Rafael, eu e Miriam.

A Fundação Stickel vem se mobilizando por uma causa muito nobre, a montagem de uma biblioteca rural no sertão baiano, município de Casa Nova. A sede de logística e distribuição fica na Fazenda Santarém, a 74 km de Casa Nova, nas imediações da represa de Sobradinho, a cerca de 140 km de Petrolina / Juazeiro. Outras sete “sub-bibliotecas”se localizam na região, 2 em casa de família e 5 em escolas públicas.

A importancia dos livros está no DNA da minha família, meu pai Erico João Siriuba Stickel foi um bibliófilo e escritor, desde cedo convivi e me contaminei com sua paixão pelos livros, vivendo em uma casa abarrotada deles. A Fundação Stickel segue esta tradição, com vários títulos editados, e agora contribui com uma nova biblioteca.

Tudo começou quando a Elaine Scutellaro, aluna de um dos nossos cursos gratuitos nos perguntou se teríamos livros para doar. A Fundação fez a primeira doação de livros para a Biblioteca Carmelita Brito, e a bola começou a rolar…

Conhecemos a Simone Santarém, líder local e presidente da Associação Comunidade da Fazenda Santarém, Embaixadora das Mulheres Rurais, Embaixadora da ONU Brasil | FAO, e o Rafael Araujo, Coordenador Nacional da Biblioteca que nos visita aqui em São Paulo para retirar os livros.

Novas doações de livros se seguiram, e o Instituto Wesley Duke Lee doou a obra “Cartografia Anímica”, obra de tiragem limitada com 48 pranchas produzidas pelo artista na década de 1980. Esta obra com certeza despertará muita curiosidade e conexão com o mundo da ARTE!


Minha prima Isabel Villares Lenz Cesar (na foto do celular) ficou sabendo das doações e se interessou, a Fundação operacionalizou sua fantástica doação de livros sobre psicologia, budismo e muitos outros.


Meu amigo Alexandre Dórea Ribeiro, da DBA Editora, fez generosa doação de maravilhosos livros de arte, fotografia, culinária, etc…


Rafael Araujo, Coordenador Nacional da Biblioteca recebe cópia autografada do meu livro “aqui tem coisa”, no Espaço Fundação Stickel na Vila Olímpia. Na sequência, após viajar 2.300km o livro chegou às mãos de Joaquim Ribeiro, Embaixador da Biblioteca, lá no sertão da Bahia!


A sede da biblioteca no sertão baiano se localiza na Fazenda Santarém.


Este livro que doei, “The Grand Prix Car” escrito por Laurence Pomeroy em 1949, tem um significado muito especial. Recebi-o de meu pai Erico, oriundo da biblioteca VICSA, empresa do meu tio Luiz Dumont Villares, é talvez um dos livros que está comigo há mais tempo, e que mais prazer me trouxe. Amplamente ilustrado, trata do universo dos carros de Grand Prix pré-guerra, (1906-1939) suas características técnicas, e inovações de engenharia.


Tenho certeza que chegando às mãos de jovens interessados, este livro poderá despertar paixões pela engenharia, pelo design, e quem sabe pela carreira desportiva!


São dezenas de pranchas detalhando a mecânica de carros de marcas ainda existentes como Mercedes, Fiat, Bugatti, Alfa-Romeo, Maserati e Bentley, e tantas outras que não existem mais, como Delage, Itala, Ballot, Sunbeam, Auto-Union.

é isso, por fernando stickel [ 8:49 ]

o dia em que meu pai flutuou


Erico Stickel na noite de autógrafos de seu livro “Uma Pequena Biblioteca Particular – Subsídios para o Estudo da Iconografia no Brasil”, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional em 29 de março de 2004.


O livro.

Meu pai, Erico João Siriuba Stickel, foi antes de tudo um bibliófilo, um amante da cultura e dos livros ou, como ele mesmo gostava de se referir, um “bicho de livro”. Ele era daquelas pessoas que invariavelmente eram duas, ele e o livro que carregava.
Me lembro, quando era pequeno, de acompanhá-lo no combate às pragas que ameaçavam sua biblioteca. Com um canivete, ele alargava os túneis que atravessavam páginas, capítulos, séculos, sem respeitar margens, parágrafos ou pontuação, e extraía das profundezas dos volumes as criaturas que insistiam em arruinar o seu tesouro.
Nossa casa, na Rua dos Franceses, em São Paulo, era tomada por estantes de livros na sala, no escritório, nos corredores, no porão, onde houvesse um espaço livre. Em lugar de destaque, ficava a Brockhaus Enzyklopädie, que durante décadas fez o papel de Google ao lado da Encyclopedia Britannica, de dicionários diversos e de muitos outros livros de referência e de arte. A história era a mesma em seu escritório. Sede da Fundação Stickel, a casinha de vila na Rua Bela Cintra era também abarrotada de livros e arquivos.


A casa inteira tomada pelos livros…

Através dos anos, sua biblioteca foi se especializando em autores e estudiosos da iconografia brasileira, dando corpo ao que se transformaria em sua única obra, Uma Pequena Biblioteca Particular – Subsídios para o Estudo da Iconografia no Brasil. Publicado pela Edusp, em 2004, o livro levou por volta de 30 anos para ser concluído e minha mãe, Martha, pode-se dizer, é coautora, ao menos na permanente companhia na obsessiva leitura e compilação de fichas, referências, notas etc. em um quarto no piso superior da casa onde morávamos na Rua dos Franceses, com janelas abertas para o jardim e o vale da Rua Almirante Marques Leão.
A intenção de meu pai era escrever um dicionário bibliográfico da iconografia brasileira, à semelhança de autores como Rubens Borba de Morais ou Rosemarie Horch, mas baseado em sua própria biblioteca.
No início era apenas o fichamento dos livros e publicações que ele achava interessantes. As fichas em cartolina eram preenchidas à mão com caneta tinteiro e com o tempo foram crescendo em número e complexidade.
As coisas começaram a mudar de figura em 1995, ano iniciado com o nascimento do meu caçula Arthur. Paralelamente ao trabalho como professor de desenho, me dividia entre a edição de meu livro aqui tem coisa, com a colaboração de meu pai, e a gestão de seu patrimônio. Com a parceria diária, consegui convencê-lo a iniciar a sistematização do vasto material de sua pesquisa, o que seria feito com a compra de um computador e a contratação da pesquisadora Francis Melvin Lee.


Francis com minha mãe, e o local de trabalho.

Foram muitos anos de uma minuciosa e cuidadosa rotina, da digitação do material manuscrito às revisões e catalogação final. Francis se dedicou também a organizar e catalogar em pastas um tesouro secreto de meu pai, escondido de todos em várias mapotecas. Eram obras em papel, aquarelas, desenhos e gravuras relacionadas à paisagem, à gente e aos costumes brasileiros, retratados por viajantes estrangeiros, ao final incorporados ao projeto.
Em 2002, tendo praticamente concluído sua pesquisa, meu pai, com a solidariedade de minha mãe, doou ao Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo os cerca de quatro mil volumes de sua “Pequena Biblioteca Particular”. Incorporada ao acervo do IEB como a “Biblioteca Martha e Erico Stickel”, ele a definiria – em texto introdutório à edição que viria pela frente – como uma coleção desenvolvida “em torno da representação artística que tivesse basicamente por alvo a paisagem, a cidade e sua arquitetura, o retrato, a fauna e a flora em seu ambiente natural, as festas populares e sacras, o patrimônio artístico e histórico nacional, imagens produzidas ao longo dos tempos por centenas de ‘viajantes’ e pintores de todos os tipos, aventureiros, fotógrafos e outros […]”.
Como resultado, Uma Pequena Biblioteca Particular se tornou um livro de peso, com cerca de 750 páginas e inúmeras reproduções a cores de Romulo Fialdini. Sem dúvida uma importante obra de referência para os estudiosos do assunto, gosto de folheá-lo também como um tributo a um desses dedicados autores bissextos, com o trabalho de uma vida indispensável à compreensão do mundo como o conhecemos – meu pai.
O amigo Emanoel Araújo assim o definiria em prefácio ao volume: “Erico Stickel poderia ser um colecionador frio, desses que costumam entesourar maravilhas que amealham durante toda uma vida só para sua satisfação pessoal. O resultado de suas visitas a exposições, livrarias e eventos culturais poderia permanecer como atividade privada e anônima como talvez se esperasse de um espartano como ele, pesquisador silencioso e sequioso de seu tempo. Entretanto, seguramente Erico Stickel desde muito cedo alimentou de maneira quase religiosa esta ideia que ora se materializa em forma de livro. Dar a público o resultado de suas constantes e laboriosas incursões pela cultura de nosso país”.

No início de 2003, com 82 anos de idade, meu pai passou a reclamar com frequência de um pigarro que o incomodava já havia algum tempo. Após visitas a diversos médicos e muitos exames depois, ele foi diagnosticado com um câncer no pâncreas. A notícia devastou a família, pois era de conhecimento comum que este diagnóstico equivalia a uma sentença de morte. Na sequência, os médicos decidiram que era necessária uma cirurgia exploratória.


Em recuperação após a cirurgia, com minha mãe e minha irmã Ana Maria.

Internado no Hospital Alemão Osvaldo Cruz no início de março, a cirurgia evidenciou que um tumor pressionava o esôfago, daí o pigarro. A equipe decidiu não tocá-lo pelo risco de provocar uma hemorragia e/ou metástase, optando por intervenções no entorno para aliviar o stress no esôfago.


A comemoração do aniversário de 83 anos.

Após a recuperação no hospital, meu pai voltou para casa a tempo de comemorar em 3 de abril, e muito bem disposto, o seu 83º aniversário. Veio então a quimioterapia, que no início provocou reações muito agressivas, mas tornou-se suportável após ajustes na dosagem da medicação.

Pouco a pouco, a vida foi voltando ao normal. Tão normal quanto possível para alguém que recebeu uma sentença de morte. Ocorre que meu pai era um ser agnóstico e sempre se comportou como tal, as questões espirituais não faziam parte de seu universo. Conhecendo este seu lado, aproveitei um dia em que fomos passear no Parque Trianon, um dos locais onde ele gostava de caminhar, e pragmaticamente desferi a pergunta:
– Então, pai, o que você quer fazer, quais são as tuas prioridades?
E ele, sem titubear: – Quero fazer o livro.
– Ok, pai, vamos fazer o livro!
De volta ao seu escritório, na Rua dos Franceses, conversei com a Francis, sua fiel auxiliar, e pedi a ela uma impressão do volume em edição. Levei a grossa encadernação ao professor Plinio Martins Filho, da Editora da Universidade de São Paulo, e contei a ele a história.
– Mas já está pronto? – ele perguntou, impressionado.
– Sim, Plinio, está pronto! Falta apenas revisão e a edição de arte.
– Vamos fazer!
E assim a obra de uma vida inteira entrou rapidamente na reta final, com meu pai animadíssimo com o interesse da Edusp em seu livro.

Mais ou menos nesta época, fui a uma palestra de Aldaiza Sposati, então secretária de Assistência Social da Prefeita Marta Suplicy, e lá conheci Agnes Ezabella. Foi ela quem me alertou que o novo Código Civil passou a permitir a penalização de fundações que não cumprissem sua missão, exatamente o caso da Fundação Stickel, instituída pelos meus pais em 1954 e paralisada havia 30 anos.
Levei a questão a um almoço de família, com a presença de meus pais e meus irmãos, fiz a explanação do caso e perguntei o que cada um gostaria de fazer a respeito. Meu pai disse que estava no fim da vida e não tinha mais interesse no assunto. Quando minha mãe e meus irmãos também não se interessaram, eu então, tomado por desconhecida coragem, declarei:
– Eu cuidarei da Fundação, contanto que ela tenha como missão a arte e a cultura!
Todos concordaram. E assim se iniciou a nova fase da Fundação Stickel, sob o meu comando.

Terminada a primeira bateria da quimioterapia, como meu pai se sentisse muito bem, planos de viagem foram feitos, pois viajar era uma de suas grandes paixões. Em um primeiro ensaio para ver se aguentaria ir para a Europa, ele e minha mãe foram a Buenos Aires em julho daquele mesmo ano. Aprovado no teste, em outubro viajaram para a Espanha, onde visitaram minha filha Fernanda, que estudava em Barcelona, e para a Itália, a Roma e Positano.


Ana Maria, Joana, Erico, Martha, Antonio no Txai.


Itacaré, BA

Para comemorar o Réveillon de 2004, meu pai convidou toda a família para o Txai Resort, em Itacaré na Bahia. De volta a São Paulo, ele e minha mãe comemoraram, em 6 de janeiro, seu aniversário de 57 anos de casamento. Uma verdadeira bênção!


Noite de autógrafos! O coroamento de 30 anos de trabalho!

Um ano depois da cirurgia, aconteceria o grande dia. Na segunda-feira, 29 de março de 2004, às 19h, iniciou-se a noite de autógrafos de Uma Pequena Biblioteca Particular – Subsídios para o Estudo da Iconografia no Brasil, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Posso dizer com certeza que foi a ocasião em que vi meu pai mais alegre, realizado, feliz, sorridente, na companhia da família, de dezenas de amigos, seus colegas bibliófilos e “bichos de livro” em geral.

Ele flutuava sobre o solo!

A vida seguiu seu rumo. Em maio, meu pai me presenteou com o lindo Patek Phillippe de bolso, de ouro, que foi do meu avô Arthur Stickel. Pouco depois, ele e minha mãe embarcaram para a Europa, desta vez para Praga, na República Checa, de onde seguiram de navio a Berlim, na Alemanha, e finalmente a Paris, na França.


Em Campos do Jordão, na mesa Sandra, minha mãe, Antonio e Joaninha.


As leituras e o jogo de xadrez.

Em julho, na casa de Campos do Jordão, jogou xadrez com meu filho Arthur. Em setembro, depois de cerca de 30 sessões, a quimioterapia foi suspensa. No início de outubro, os médicos liberaram meu pai para mais uma viagem.
No dia 13 daquele mês, o novo Estatuto da Fundação Stickel foi assinado, oficializando a minha gestão. Em seguida, ele e minha mãe embarcaram para mais uma viagem, outra vez à Itália, rumo a Veneza, Positano e Roma. Mas não seria uma viagem como as outras.
Acometido de fortes dores em Roma, meu pai consultou o médico do hotel. Ao saber de seu histórico, recomendou Buscopan e a volta imediata ao Brasil. A viagem, graças ao poderoso analgésico transcorreu em paz, já em casa em São Paulo meus pais jantaram e assistiram a um filme de Charlie Chaplin. Na manhã seguinte, dia 4 de novembro, meu pai não acordou bem, ao chegar na casa encontrei-o dobrado com dores e levei-o imediatamente ao Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

No dia 7 de novembro, ao levar meu filho Arthur, então com 9 anos de idade, para visitar o avô no hospital, travamos a seguinte conversa no carro:
– Papi, o que é que o vovô tem?
– Um tumor no pâncreas.
– O que é pâncreas?
– É um órgão que fica mais ou menos embaixo do estômago, no começo do intestino.
– Ele pode morrer disso?
– Pode, mas ninguém sabe quando – fez-se um longo silêncio.
– Papi – disse ele, chorando. – Estou muito triste que o vovô vai morrer.
– Não chora, Arthur. Estamos todos tristes, mas a gente tem que ser forte e chegar lá legal para dar um beijo no vovô, dar uma força para a vovó. Estamos torcendo para ele sair do hospital logo.
– É, mas eu estou muito triste ¬– ele continuou chorando.
– Arthur… – disse ao chegar no hospital, também quase chorando. – Deixa eu te explicar uma coisa. O vovô não consegue comer pela boca, então eles colocaram uma sonda nele – expliquei o que era a sonda – para ele poder se alimentar e ficar mais forte.
– Mas ele sente o gosto?
– Não, a comida, que é uma papinha líquida, vai direto para o intestino.
– Mas ele não fica com fome?
– Não, e também não sente dor nenhuma porque os médicos estão tratando muito bem dele.
Chegando ao quarto, meu pai dormia de boca aberta na cadeira. Arthur cumprimentou a tia e recomeçou a chorar. Deitado no colo da avó, conversaram um pouco até que ele se acalmasse. Passado um tempo, o avô acordou. Arthur deu um beijo no avô. Conversaram. Assistimos todos a um programa sobre tubarões no canal National Geographic.
Na saída, Arthur já não chorava mais:
– Papi, eu quero vir visitar o vovô todos os dias.

Em 12 dias de internação, os médicos controlaram a obstrução intestinal e estabilizaram meu pai. Explicando que a doença chegara ao estágio terminal, pediram à família uma decisão sobre como prosseguir. Ele escolheu ficar em casa enquanto as condições fossem favoráveis, concordando que, se as coisas se complicassem, seria sedado e voltaria ao hospital. No dia 15 de novembro ele voltou para casa.
Um mês depois, na quinta-feira, 16 de dezembro, a família estava reunida ao final da tarde ao lado do meu pai, que sofria muito, com dificuldade de se alimentar e mesmo de beber água. Mesmo sem muita clareza, ele nos comunicou que não aguentava mais e queria ser sedado, para minha mãe ele confidenciou:
– Eu quero atravessar o rio, quero ir para a outra margem.
Por volta das 22h, tendo ao seu lado minha mãe, meu irmão Neco, meu filho Antonio e eu, meu pai colocou os sedativos na palma da mão e olhou-os longamente, em silêncio. Em seguida, ainda em silêncio, tomou os remédios. Na manhã seguinte, 17 de dezembro, a ambulância o levou de volta, já inconsciente, para o Hospital Alemão Osvaldo Cruz.
Na noite de 23 de dezembro, minha prima Bel Cesar foi visitá-lo acompanhada do filho, o Lama Michel Rinpoche. Com 12 anos de idade, Michel deixou a família e foi estudar budismo tibetano na Índia, se transformando em monge aos 23 anos de idade. A visita foi muito boa, calma. Lama Michel fez uma longa oração pedindo a abertura de caminhos para a alma do meu pai se elevar e atravessar mais tranquilamente o “bardo” – a fronteira entre a vida e a morte, descrita com minúcias no budismo.
No dia 25, a família toda se reuniu no hospital. Meu pai, totalmente sedado, precisou ser movimentado na cama e eu ajudei o enfermeiro. Foi quando vi as escaras… Muito triste.
Me impressionou também o quanto ele ainda era um homem grande, apesar da magreza. Ao final da tarde, exausto, me despedi de todos e fui para casa. Por volta das 21h, o telefone tocou. Meu pai tinha acabado de falecer no dia de Natal de 2004.
E flutuou pela última vez.

Revisão do texto: Tato Coutinho

é isso, por fernando stickel [ 16:45 ]

festival faces


A 1ª edição do FACES – Festival de Arte e Cultura Erico Stickel está chegando! Ela acontece de forma 100% digital com mesas e ações on-line que trarão, entre outras reflexões, o papel da arte como instrumento propulsor de transformação social.

O FACES acontece de 11 à 20 de agosto 2021, mas a nossa jornada começa já na próxima semana: realizaremos a mesa de lançamento intitulada “JORNADA DA TRANSFORMAÇÃO”, com Fernando Stickel, Marcos Kisil, Lucas Cruz e mediação de Agnaldo Farias.

O FACES celebra o centenário de Erico João Siriuba Stickel, instituidor da Fundação Stickel, juntamente com sua mulher Martha Diederichsen Stickel, que teria completado 100 anos em 2020. Suas preocupações sociais, ações pioneiras e a afinidade com as artes nos inspiraram até aqui.

Aberto ao público! Esperamos vocês dia 15 de julho, a partir das 19h ao vivo no canal do YouTube da Fundação Stickel.

é isso, por fernando stickel [ 7:54 ]

erico 101 anos


Há 101 anos atrás, em 3 de abril de 1920, nascia meu pai Erico João Siriuba Stickel. Paulistano descendente de alemães, Erico instituiu a Fundação Stickel com minha mãe Martha Diederichsen Stickel em 1954, inicialmente com fins assistencialistas em Campos do Jordão.

Mas a arte, que hoje guia as ações da Fundação Stickel, sempre esteve em um lugar central de sua vida – além de advogado e industrial têxtil, ele foi um estudioso da iconografia e arte brasileira do século XIX, organizando uma biblioteca com importante acervo sobre o tema, e grande incentivador das artes plásticas.

Hoje, se vivo fosse, meu pai completaria 101 anos de idade, e agradeço nesta data a semente plantada, para que a Fundação Stickel siga atuante após mais de seis décadas de história, transformando vidas por meio da nossa paixão: a arte.

Para celebrar o seu legado, estamos preparando um festival de arte e cultura que levará o seu nome. Aguarde! – Em breve, compartilharei mais informações do que vem por aí!

é isso, por fernando stickel [ 9:01 ]

eu nasci


Dia 6 Outubro 1948 eu nasci na Pro Matre Paulista, minha mãe Martha comigo na cama da maternidade, reparem o telefone no criado mudo…


Chegamos em casa, na R. Henrique Martins 631 a bordo do Citroën Traction Avant do meu pai!


Minha mãe comigo no terraço da casa. Muitos anos depois esta casa abrigou o restaurante Roanne.


Todas essas fotos foram escaneadas de contatos 35 mm, que minha mãe encontrou em suas arrumações.


Com meu pai Erico.


Em Campos do Jordão.


Com minha avó Lili.

é isso, por fernando stickel [ 17:07 ]

erico nasceu no hotel albion


Hotel Albion, então ocupando a antiga residência de Antônio Álvares Leite Penteado, futuro Conde Álvares Penteado, na Rua Brigadeiro Tobias, c. 1929.

Meu avô Arthur Stickel isolou-se na Ilhabela durante a Primeira Grande Guerra, por ter sido perseguido em São Paulo por ser alemão. A solução foi buscar refúgio, acompanhado de sua mulher Erna, na Praia da Siriuba.

A Ilhabela naquela época era muito, muito longe de tudo. Minha avó ficou grávida e o casal, temendo não ter condições adequadas, resolveu vir a São Paulo para o parto. A viagem se iniciava em uma canoa com destino a Bertioga…

Chegaram em São Paulo e se dirigiram ao Hotel Albion, no centro histórico da cidade. Na recepção do hotel minha avó entrou em trabalho de parto, rapidamente providenciaram uma parteira, e foi ali mesmo que meu pai nasceu em 3 Abril 1920.

Por conta da permanência na Ilha, meu pai recebeu uma homenagem ao local de sua concepção em seu nome, Erico João SIRIUBA Stickel

O almanaque da Província de São Paulo, editado em 1885, registra a existência então dos seguintes hotéis: Hotel Brasil-Itália, na rua Boa Vista; Hotel Fasoli, na rua Senador Feijó; do Hotel Boa Vista, na rua do mesmo nome; Hotel Provenceau, na rua São Bento; Hotel Albion, na rua Alegre, atual Brigadeiro Tobias; Hotel das Famílias, próximo ao Mercado, no fim da General Carneiro; Hotel Bristol, na rua Gusmões; Hotel Suiço e a Pensão Morais, no Paissandu. Alguns outros hotéis de quase nenhuma expressão ainda existiam na capital paulista. Mas com características de hotel e capacidade de hospedagem e prestação de serviços, os hotéis paulistanos eram os acima enumerados.

é isso, por fernando stickel [ 11:52 ]

almoço no salvador


Almoço nos anos 70 na casa do arquiteto Salvador Candia na R. Inglaterra em São Paulo. As pessoas presentes nesta mesa eram parte de um grande grupo de amigos do qual meus pais faziam parte. Possivelmente havia neste dia uma segunda mesa com Minuta e Rubens, irmãos do Salvador, Luisinho Villares, Terezinha Schnorremberg e outros amigos como Gerard Loeb (1928-2020), Irene e Jacob Ruchti (1917-1974) ou Laura e Miguel Forte (1915-2002) e os Aflalo.

Nesta época eu trabalhava como arquiteto recém formado no escritório do Salvador e entre outras tarefas fui incumbido de detalhar o gaveteiro do closet do dono da casa. A casa foi reformada e era bastante convencional, a mesa ao ar livre ficava em baixo de uma pérgola. O grande diferencial e charme da casa era a ampla biblioteca/estúdio, que tinha o teto em formato de pirâmide, com iluminação zenital.

Na mesa estavam:

1. Salvador Candia (1924-1991) o dono da casa. Moravam com ele na casa os irmãos Filomena (Minuta) e Rubens, também falecidos.
2. Martha Diederichsen Stickel, minha mãe.
3. Joanninha da Cunha Bueno Marques (1924-2018) amiga íntima de minha mãe, e mãe do Renato e do fotógrafo Joaquim da Cunha Bueno Marques (1950-2004)
4. Erico João Siriuba Stickel (1920-2004) meu pai.
5. Helenita Ratto Villares (1931-2013), primeira mulher do meu primo Luiz Diederichsen Villares (1930-2020)
6. Antonio Soares de Gouvêa, marido da Joaninha
7. Roberto Schnorrenberg (1929-1983) – Maestro e pai do Raimundo, que herdou a casa do Salvador.
8. João Carlos Vogt, marido da
9. Marília Vogt, pais da Gilda Vogt, esposa do Dudi Maia Rosa
10. Norberto Nicola (1931-2007) – Tapeceiro


Em outro almoço no Salvador, meus pais Martha e Erico felizes da vida!

é isso, por fernando stickel [ 19:07 ]

martha e o dry martini

Minha mãe Martha e meu pai Erico estavam em New York nos anos 70 e foram assistir na companhia dos amigos cariocas Sonia e Jorge Diehl ao Die Dreigroschenoper, peça com música de Kurt Weill e letra de Bertolt Brecht, em algum teatro Off-Broadway.

Em frente ao teatro havia um bar, onde os amigos tomaram um dry-martini antes do início da peça.

Minha mãe, já durante a performance começou a passar mal, e meu pai saiu do teatro em busca de um sanduíche, cuja ingestão colocou tudo nos devidos lugares.

é isso, por fernando stickel [ 8:11 ]