Fui ao encontro relatado abaixo nesta Mercedes-Benz 500SL 1986, cuja história contarei um outro dia…
Óbviamente o almoço deu-se muitos anos antes da Lei Seca, e os anjos da guarda estavam todos atentos…
Charuteiros
Dedico esta humilde crônica à memória de meu avô, Arthur Stickel.
Segundo o relato de Eduardo Matarazzo, que tive o prazer de ouvir hoje, meu adorável avô, que foi fumante, mas de quem só me lembro da fase de bom copo, se apresentou ao trabalho vestindo fraque, no dia 1º de março de 1920, nas Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo. Ainda segundo sua narrativa, meu avô teria sido um grande companheiro nosso na tarde de hoje, no que concordo.
Consegui chegar em casa ileso às 18h30, não sei bem como.
Tomei um banho frio.
Tomei dois goles de guaraná.
Dei vários beijos no meu filho Arthur Siriuba Stickel, de quase cinco anos de idade.
É preciso um mínimo de lucidez para relatar os fatos.
Almoço no Fasano hoje, sábado, 11 de dezembro de 1999, às 13h, promovido pelo meu grande amigo Beto Ranieri, convite a R$250 com direito a uma montanha de abobrinhas, muita amizade, charutos, inúmeras taças de prosecco Ruggieri, almoço, bom vinho tinto que esqueci o nome, conhaque e mais outras toneladas de bobagens. São 19h e tento me lembrar dessa tarde emblemática, quase final de século em São Paulo.
Aos fatos (fatos?!):
Tudo começou numa mesa de bar. Não um bar qualquer, mas o bar do Fasano. Do meu lado esquerdo Olivier Anquier, do meu lado direito Cassio Gabus Mendes, em frente Max Abdo, todo de preto com um lindo broche “2000” em falsos brilhantes do Arnaldo Guaraná Brasil, à sua esquerda meu colega artista plástico Dudu Santos. Mais à esquerda Gaston Hamaoui, Guilherme Afif Domingos e Eduardo Matarazzo.
Por volta das 15h mudamo-nos para a mesa de almoço no salão principal do restaurante, e nossa companhia foi acrescida de um senhor bastante luminoso, estabelecido à rua Paula Souza: José Orlando Ferreira, Jota para os amigos.
A perdiz pouco fibrosa só para os sóbrios nos fez lembrar do almoço no Cruzador Prinz Eugen, atracado em Santos, quando Don Eduardo, supimpa, culpou o Rearmamento Moral pela tertúlia flácida, já se alongando, já que o velho Stickel dizia nos anos 40 que Hitler iria humilhar a Alemanha. Sugeriram então que procurássemos o Júlio, uma pessoa contundente, na Paula Souza, onde o estado imunológico intelectual cairia como uma luva na oligarquia paulista getulista filha de uma puta.
Olivier, respondendo ao Jota, deu sua receita do bom amanhecer:
“Ter a satisfação de ter ido dormir tendo feito tudo que tinha para fazer e começar o novo dia sem saber o que fazer, em vez de não ter nada para fazer”.
Fizemos então uma rápida pesquisa sobre os pontos mais significativos desse nosso evento:
1o lugar: O vírus do absurdo, a falta de seriedade, amizade, abobrinha, mulher (não foi bem esse o termo usado…).
2o lugar: As bebidas, bêbado é uma merda.
3o lugar: O que nos une, charutos.
4o lugar: A comida é detalhe. Eu diria novamente abobrinha.
A pesquisa foi aprovada por umidade avançada.
Houve então um HOMEM RURAL fazendo questão da prevalência de sua opinião sobre o cancro cítrico sendo equivalente a doença venérea. Ex-amigo senador não, És amigo. Votei nele pra presidente.
A primeira dama do ES, mostrando a coleção de relógios do palácio do governo, explicava a Olivier a razão de tantos pêndulos imóveis em tantos relógios antigos ostentando a hora certa – “O pessoal aqui é muito criativo, retiraram as engrenagens, que não serviam pra nada, e botaram raiovac em tudo!” – e os pêndulos imóveis, mortos, brochas, precisando de próteses!
Jota nunca havia tomado dry-martini. Quando cometeu a experiência, numa tertúlia informal, mandou logo doze, oito no Gero e quatro no Fasano. Diz que chegou em casa guiando, normalmente. Tem que haver algum santo zelando por nós!
Foi proposto para ser discutido no chá das cinco da ABL:
Tomem-se três charutos, dois sem fluxo e um com, é a mesma coisa que tomarmos três mulheres, duas sem buceta e uma com!
Don Eduardo propôs a substituição do símbolo nacional por um muro muito longo, em cima do qual se acomodaria a maioria dos políticos nacionais. Não houve contestação.
Estávamos em meio a uma digressão filosófica quando apareceu o Beto e chegamos à conclusão de que somos nós que pagamos a festa de fim de ano para seus principais clientes e amigos!
Lida por todos a ata foi declarada com fome e por todos assassinada.
Fica faltando a historia correta do “avanti c’ol culo, ma sempre avanti”, que o Guilherme não me enviou, e ficamos assim.
Grande e afetuoso abraço em todos,
Fernando Stickel