Meus desenhos a nankin em um micro caderninho de artista de 7 x 10 cm, dos anos 70.
13 de maio de 2020
Novos jardins no Condomínio Modular Delta!
Projeto e execução da paisagista Flavia Tiraboschi.
Na sequência da pintura dos prédios o paisagismo foi a cereja no bolo!
é isso, por fernando stickel [ 19:13 ]
6 de maio de 2020
José Kalil, meu falecido sogro entre padres. À direita, na foto é provavelmente o Padre Rahme.
é isso, por fernando stickel [ 9:18 ]
1 de maio de 2020
Logotipos da Argos Industrial S.A. e da Fiação para Malharia indiana S.A. projetos dos anos 60-70 do designer gráfico Alexandre Wollner (1928-2018), considerado o pai do design moderno no Brasil. Wollner participou da fundação da primeira escola de design do país em 1962, a Escola Superior de Desenho Industrial do Rio de Janeiro – ESDI.
Sobre as empresas, no texto de 1959 “Os precursores do progresso do Brasil” de Eddie Augusto da Silva-Rubens Veras-Julio Ewigkeit, Editora Sociedade Brasileira de Expansão Comercial Ltda:
São múltiplos e notáveis os empreendimentos pessoais de ERNESTO DIEDERICHSEN. Em 1914 em sociedade com Luiz Trevisioli e Aleardo Borin, fundou uma fábrica de tecidos em Jundiai. Essa fábrica transformou-se no que é hoje a “Argos Industrial S/A” uma das mais pujantes organizações industriais do ramo. Acompanhado por alguns amigos ERNESTO DIEDERICHSEN fundou ainda a “S/A Fiação para Malharia Indiana”, o “Lanifício Argos S/A”, e adquiriu e ampliou a “S/A Cotonificio Adelina”.
Algumas marcas/logotipos projetados por Alexandre Wollner.
Um dos meus primeiros trabalhos gráficos foi criar os nomes para fibras especiais ALVIL e TEFIL, e as respectivas etiquetas.
Anúncio de revista.
é isso, por fernando stickel [ 14:12 ]
30 de abril de 2020
Marta Goes e Nirlando foram nossos hóspedes em Campos do Jordão em Julho 2003. Em Março do mesmo ano fomos hóspedes deles em sua casa na Powell Street em San Francisco, CA.
Faleceu hoje meu amigo Nirlando Beirão, vítima da terrível ELA – Esclerose Lateral Amiotrófica, ele tinha a mesma idade que eu, 71 anos. Há cerca de um ano atrás trocamos algumas palavras no Whatsapp, mas senti que a doença estava muito difícil pra ele.
Acho que no caso desta doença, a morte é um alívio, de tão cruel que é a degeneração. Que faça boa viagem, querido Nirlando.
é isso, por fernando stickel [ 23:26 ]
30 de abril de 2020
A imagem é do site da Johns Hopkins University
Além de estarmos fechados dentro de casa há mais de 40 dias, a crise do coronavírus começa a provocar atritos no condomínio, são reclamações de barulho das crianças nas áreas comuns, aglomerações de adultos irresponsáveis sem usar máscaras de proteção, e por aí vai…
Eu como membro do Conselho que auxilia os síndicos vou dando os meus palpites, que na maioria das vezes são radicais demais… Pouquíssimos adultos estão usando máscaras…
E não ajuda nada neste cenário o fato de Bolsonaro só fazer e falar bobagem a respeito, externando desprezo pelas fatalidades com seu “E daí?” O novo Ministro da Saúde Nelson Teich não consegue falar três palavras coerentes, só enrola.
O número de infectados e mortos só faz subir…Hoje são 3.200.000 casos confirmados no mundo e 229.000 mortes. No Brasil são 79.500 casos confirmados e 5.500 mortes.
A adesão à quarentena vem diminuindo, do ideal de 70% na cidade de São Paulo, estamos hoje com 48%, nas periferias o comércio começa a funcionar normalmente, o que vai acabar provocando um desastre…
Mas o pior de tudo é a tradicional incompetência do Governo Federal em distribuir o auxílio emergencial de R$600,00 às famílias de baixa renda. A Caixa Econômica Federal não consegue montar um sistema que atinja a todos os necessitados, seus aplicativos e sites na internet funcionam mal, provocando filas gigantescas nas agências físicas, é uma tristeza…
é isso, por fernando stickel [ 12:46 ]
27 de abril de 2020
Em 1967, com a carteira de motorista recém obtida, Alice Kalil, minha namorada, eu e um casal de amigos, a Isa e o Paulo, viajamos para Brasília, DF, no Opel Commodore A Coupe prata, com capota de vimil preto da minha mãe, que me emprestou o carro.
Foi a primeira vez que dormi com a Alice num quarto de hotel, só nós dois. O por-do-sol que entrava direto pela janela, era a coisa mais potente e incrível de que me lembro.
Achei Brasília o máximo.
O Opel em melhor detalhe, no MG Club.
é isso, por fernando stickel [ 10:40 ]
23 de abril de 2020
Em 14 Dezembro 1999 lancei meu primeiro livro de poesias e desenhos “aqui tem coisa” pela Editora DBA, na A Estufa do Leo Laniado, na R. Wizard 53 na Vila Madalena.
Foi um evento alto astral, veja aqui.
Menos de um ano depois quatro poetas com livros recém lançados se organizaram em torno da Livraria Spiro da Lili Guimarães para fazer uma noite de leitura de poemas.
Eliane Accioly Fonseca – Trapeiro de Sonho
Fernando Stickel – aqui tem coisa
Luciana Wis – Vida
Rita Moreira – Perscrutando o Papaia
Criamos o grupo “Vozes do Ofício”, se bem me lembro fui eu que propus este nome, e convidamos o saxofonista Lloyd Bonnemaison para acompanhar a leitura. Jade Gadotti fez uma linda foto, imprimimos um convite, conquistamos alguns patrocinadores, e fizemos um lindo evento no dia 27 Junho 2000, na Al. Lorena 1979!
Lloyd e eu.
Meus pais Martha, Erico e eu.
Luciana Wis e Rita Moreira.
Eu com Eliane Fonseca.
Giovanna Pennacchi e Lili Guimarães, a anfitriã.
Naji e Roberta Ayoub com Anisio Campos
A audiência.
é isso, por fernando stickel [ 11:22 ]
21 de abril de 2020
Há mais de um mês de quarentena e esta bela máquina dormia na garagem… Hoje não resisti, um belíssimo dia de outono, feriado de Tiradentes e levei a Mercedes-Benz 280 SL 1970 a passear.
é isso, por fernando stickel [ 17:43 ]
21 de abril de 2020
Claudia e sua filha Isabela.
A quarentena serve inclusive para fazer arrumação, abrir gavetas, pacotes, pastas, etc… Abri uma pasta e fiquei morrendo de saudades da minha professora Claudia, meine liebe Lehrerin…
O meu aprendizado de alemão se deu principalmente na minha infância, através da governanta da casa dos meus pais, a Fräulein (Lina Johanna Dietze), que conversava comigo em alemão. A minha convivência com meus avós Arthur e Erna era também em grande parte em alemão. No Colégio Visconde de Porto Seguro tive também aulas de alemão.
A manutenção da língua, no entanto, é muito difícil, principalmente se você não a utiliza no dia-a-dia, e como meus pais nunca conversaram com os filhos em alemão, apesar de falarem a língua fluentemente, o meu alemão foi sumindo com o passar do tempo…Como eu tenho uma ligação muito forte com a origem germânica da família, eu não queria perder a fluência com a língua, e foi aí que em 2010 me indicaram uma professora de alemão, Claudia Thomé Witte.
Foram três anos de muito aprendizado, e de convivência extremamente agradável com a Claudia, uma pessoa incrível que me recebia na sua casa sempre com um café e alguma guloseima… Neste período meu alemão renasceu com força! Interessante que este esforço concentrado me colocou em um nível onde ficou mais difícil de esquecer da língua, pois estou sempre prestando atenção em filmes e qualquer outro lugar onde apareça o alemão. Foram três anos de aula, e fiquei com saudades!
Além disso a Claudia é uma estudiosa de Dona Leopoldina da Áustria e irmã de Dom Pedro II, uma das maiores autoridades mundiais no assunto!
Claudia me enviou esta foto em seu estúdio, no início das nossas aulas em 2010.
é isso, por fernando stickel [ 14:09 ]
17 de abril de 2020
Meu pai Erico comprou em 1968 um Porsche 912 branco zero km na Dacon. Ele tinha o último motor dos 356, com quatro cilindros, 1.600 cc dois carburadores e 90 hp, cambio 5 marchas “dog leg”, ou seja, a primeira era para baixo. Era capaz de cerca de 190km/h, dado seu baixo peso de cerca de 900kg.
Foi um carro que eu guiei muito, curti muito, com minha carteira de habilitação recém obtida.
Fazia o maior sucesso na FAUUSP, meus colegas adoravam quando eu dava carona…
Lembro-me de uma viagem para Ilhabela, eu sozinho e o carro carregado até as tampas com mantimentos, etc… A estabilidade, que já era excelente, com o carro carregado ficou melhor ainda, e me diverti muito na serra de Caraguatatuba.
Era preciso se acostumar com o câmbio de 5 marchas com a primeira marcha para baixo, (no lugar da segunda marcha da câmbios tradicionais) mas fora isso o carro era uma delícia.
As rodas estampadas cromadas com calotas idem tinham um ar retro que eu gostava muito, e sem calotas ele ficava “malandro”…
é isso, por fernando stickel [ 15:17 ]
9 de abril de 2020
O Condomínio Modular Delta na Av. Lavandisca em São Paulo terminou a reforma das fachadas, pintura de muros e áreas comuns.
Eu faço parte do Conselho Consultivo de apoio ao trabalho da síndica Juliana e do sub-síndico Giuliano.
Sandra e eu ajudamos na reforma, ela com o projeto de decoração dos halls de entrada e eu coloquei agora a cereja no bolo, doando 4 fotos minhas para os dois halls sociais, duas no Prédio Azul, e duas no Prédio Verde.
é isso, por fernando stickel [ 15:24 ]
5 de abril de 2020
A minha turma na FAUUSP entrou na faculdade em 1969 e se formou em 1973. Logo que entramos conheci o Alberto Seixas Levy, que estava um ano na nossa frente. Ele tinha uma maravilhosa Moto BMW R69S.
Um belo dia eu simplesmente pedi a ele para dar uma volta na moto, ele me entregou a chave e disse pode ir…
Quase fiquei louco, aquilo era o sonho de qualquer tarado por motos como eu.
Saí da FAU e peguei a avenida principal em direção à saída da Cidade Universitária, me acostumando com a máquina, que era grande potente e pesada.
Este era o modelo mais potente da BMW, acelerava muito bem, mas eu mal havia tocado ainda nos freios… Cheguei na rotatória da avenida principal, na sequencia uma descida e uma nova rotatória, entusiasmado eu só queria acelerar, quando entrei na curva o peso da moto se fez sentir e eu quase não termino a curva, escapando de ralar a roda na guia por milímetros…
Respirei fundo com o coração quase saindo pela boca, me recompus e voltei tranquilamente para entregar a moto ao dono, agradecendo aos céus que nada havia acontecido!
Na sequência o Alberto apareceu com uma Kawasaki 350 de dois cilindros e dois tempos, e eu naturalmente pedi para dar uma volta, dessa vez peguei a Marginal, e como já conhecia a fama da moto se ser potentíssima, girando a 8.000 rpm, eu manerei logo do início, e não tomei susto!
Recentemente criou-se um grupo de WhatsApp da nossa turma da FAU, e foi através deste grupo que eu fiquei sabendo do falecimento recente do Alberto, vítima do coronavirus… nós não eramos próximos, na verdade perdi contato ainda na faculdade, mas bem ou mal ele é a primeira pessoa de um grupo próximo vítima do coronavirus. Que você fique bem Alberto, talvez no teu paraiso você encontre maravilhosas máquinas dos anos setenta…
é isso, por fernando stickel [ 18:15 ]
3 de abril de 2020
Erico João Siriuba Stickel (1920-2004)
Fosse vivo, meu pai completaria hoje 100 anos de idade!!!
é isso, por fernando stickel [ 10:23 ]
3 de abril de 2020
Jair Bolsonaro virou piada internacional, este é o ponto a que chegamos! Sua insistência em afirmar que a crise nada mais é que uma “gripezinha” está sendo criticada violentamente, por todos os espectros políticos.
Mesmo seu ídolo Trump mudou o discurso após as evidências da agressividade do coronavírus.
As hostes bolsonaristas são imunes à ciência, à inteligência e ao bom senso, então o perigo é este irresponsável levar milhares de brasileiros às ruas e aumentar ainda mais a contaminação no Brasil.
Milhares morrerão, o vírus agradecerá.
A situação da pandemia hoje.
Bolsonaro comete o supremo desatino de atacar, dia sim e dia também seu excelente Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que está fazendo um excelente trabalho. Chefe fraco com inveja de subordinado forte…
é isso, por fernando stickel [ 10:16 ]
2 de abril de 2020
O universo digital apresenta, por vezes, algumas distorções. Como as “fake-news” muito em moda recentemente…
É o caso dos leilões on-line. Há centenas deles, vendendo tudo que é possível imaginar, incluindo arte.
Por conta da crise do coronavírus explorei um pouco os leilões de arte à distancia, e encontrei à venda duas obras de Mira Schendel muito curiosas, digamos assim, vejam:
Quem conhece a obra da artista sabe que ela dificilmente trilharia os caminhos que levam a estas duas obras, pois são caminhos conflitantes, na obra vertical, por exemplo, o caminho seria o dos “toquinhos”, executados em papel com aplicação de Letraset, que Mira no entanto jamais executou em pintura com areia.
O trabalho horizontal, por outro lado, junta vários simbologias, nenhuma delas usual na obra de Mira
Cada uma destas obras tem o lance mínimo de R$6.000,00
é isso, por fernando stickel [ 19:52 ]
2 de abril de 2020
Takashi Fukushima me passa outra história relatada pelo Prof. Flavio Motta, escrita pelo seu amigo Guen Yokoyama:
Homens não choram
O relato abaixo, ouvi contado por Flavio Motta, meu ex-professor da FAUUSP, quando fomos visitá-lo, eu e Takashi Fukushima. É sobre Assis Chateaubriand. Ele o conhecia desde quando deu cursos no MASP.
Um dos ídolos de Assis Chateaubriand era Winston Churchill. Uma de suas maiores vontades era conhecê-lo. O britânico, além de ter levado os Aliados à vitória na Segunda Guerra Mundial, primeiro ministro durante e depois dela e bom escritor, pintava.
Chateaubriand comprou uma tela sua, como meio de poder conhecê-lo. Através de seu fiel secretário, paraibano como ele, conseguiu arrumar uma visita, em Londres. Finalmente conseguiu conhecê-lo. Churchill, àquela altura, um senhor de avançada idade, contava alguma reminiscência e, emocionado, começou a chorar. Chateaubriand, que não falava uma palavra de inglês, dirigiu-se ao fiel secretário e disse: “Arrume um jeito de terminarmos a visita. Não suporto ver homens chorando.”
Não foi com essas palavras que Flavio Motta contou-nos essa e outras inúmeras. Foi uma bela visita. Mostrou-nos desenhos que Saul Steinberg tinha feito quando esteve no Brasil, os seus – tinha um caderno em que fazia um por dia, sempre. Acabamos almoçando com ele e sua filha.
é isso, por fernando stickel [ 9:45 ]
1 de abril de 2020
Guto Lacaz e o Prof. Flavio Motta, na casa deste na R. Bartira em São Paulo.
Em 2004 Takashi Fukushima e Guto Lacaz foram visitar o Prof. Flavio Motta em sua residência, Guto escreveu o relato da experiência:
Visita ao Prof. Flavio Motta
O Prof. Flavio Motta e a Coca Cola – Encontro com o Prof. Flavio Motta – sexta feira dia 9 de abril de 2004 das 16 às 19h
Há muito ouvia falar do Prof. Flavio Motta, de sua sabedoria, do encanto que exercia sobre seus alunos e da forma pessoal como abordava os assuntos e citava fontes. Primeiro, foi na década de 70, durante a Faculdade de Arquitetura de São José dos Campos através de meu colega Fernando Zanforlin, amigo de Marcelo Nitsche que convivia com o prof. naquela época. Depois, na década de 80, através de Rafic Jorge Farah, ex aluno do prof. na FAU USP. Farah me narrou uma emblemática passagem com o mestre. Estava ele parado na rampa da FAU, obeservando grande manifestação no salão caramelo em oposião à ditadura militar vigente no país. O prof. passa e para ao lado dele, observa a cena e diz: Farah…a maior subversão é ser. Em seguida continua sua caminhada. (isso é com o Farah. Não me lembro. Mas convenhamos é uma tirada aceitável:vide Hamlet)
Na década de 90 quem narrou seus encontros com o prof. foi o colega Marcelo Cipis. Soube também de uma passagem ocorrida na casa de Lina e Pietro Maria Bardi no Morumbi. O casal recebia o artista Saul Steinberg em visita ao Brasil. Com a chuva, os vidros da casa embaçaram e se transformaram em efêmero suporte para Saul Steinberg realisar um desenho com o dedo indicador, a figura de uma mulher nua, junto a uma coluna grega. Devido ao calor da lareira, na “casa de Vidro”, o desenho começou a escorrer. Verteu-se em lágrimas. Foi a maior tristeza daquela noite inesquecível. Choramos de rir.
Agora, uma garrafa de Coca Cola realiza o antigo sonho de conhecer o prof. …o filho de Takashi Fukushima me convida para a festa surpresa que organizava para o aniversário de seu pai. Durante a festa Takashi me mostrou uma garrafa de Coca Cola que havia ganho,vinda do Egito . Me falou de sua admiração pelo produto e de sua coleção de garrafas e latas. Logo me lembrei de uma garrafa que possuia que tinha recebido para fazer um stand que nunca saiu do papel. Era uma edição especial em plástico prateado. Antes de dizer que possuia tal raridade e que iria presente-á-lo, tomei o cuidado de localizá-la. Uma vez encontrada liguei para o Takashi e deixei recado dizendo que a garrafa era dele. Dias depois ele me ligou agradecendo e dizendo ter vindo do atelier de Luis Paulo Baravelli onde realizou entrevista para sua tese sobre o ensino de desenho. Me disse também que havia agendado a proxima entrevista com o Prof. Flavio Motta. Logo me adiantei dizendo que queria aproveitar a oportunidade para conhecê-lo. Takashi gentilmente aceitou minha intromissão e comunicou ao prof. minha presença no encontro. Disse o prof. que eu era benvindo e que conhecia meu pai. O prof. ainda não havia chegado do almoço e quem nos recebe é sua filha Guli que conhecia de passagens pela Pinacoteca e pelo MAC. Começamos a observar as muitas pinturas, desenhos e objetos na casa neo colonial na rua Bartira próxima a PUC,onde mora. Logo chega o prof. e sorrindo nos cumprimenta.
Carrega uma pequena sacola feita com um pedaço de manga de camisa onde leva seus remédios e utensílios para sua higiene pessoal e se queixa do desconforto pós operatório. Takashi o presenteia com o belo livro que fez por ocasião da exposição de seu pai Tikashi Fukushima na Pinacoteca em 2001. Flavio Motta o pega com carinho e nos sentamos para que ele o observe. O prof. começa a olhá-lo do final para o começo onde estão reproduzidas as fotografias de eventos artísticos. Com rapidez FM vai identificando…Tomie Othake, Walter Zanini, Renina Katz, Takaoka e outros contemporaneos. Admira outras reproduções e mesmo nas pinturas abstratas consegue ver montes, neve e água corrente típicos da pisagem japonesa. Takashi pergunta sobre uma xerox colorida sendo montada em partes sobre a mesa. Ele nos diz que é uma colagem com retalhos de costura que pegou de uma de suas filhas. Takashi lhe fala de um certo retrato e ele lembra Quentin Metsys dizendo ter feito o melhor retrato de Erasmo de Roterdam. Diz que Erasmo ao saber de tal afirmação replicou dizendo que seu melhor retrato eram seus textos! – (Mas não podemos descartar a possibilidade de estar reproduzido, no “Elogio da loucura”, uma edição com o retrato feito por Holbein.)
Pergunta então o que quer o Takashi. Takashi lhe fala da tese que está fazendo sobre o ensino de desenho e que está entrevistando antigos mestres para uma reavaliação de suas aulas e de seus métodos. Flavio Motta diz que a questão é oportuna e cita o pequeno livro Pincelada Unica de Shitao que sestá lendo no momento. Traz uma cópia presenteada pelo colega Feres Khoury. Lê pausadamente uma página onde diz que o pincel é Yin e a tinta Yang.. Juntos, quando desenham colocam ordem no caos. (vide também pg. 414 do YIN-YANG – CHEVALIER, Jean:GHEERBRANT, Alain,Dictionnaire DES SYMBOLES.Paris.SEGNERS,1974. – VON FRANZ, Marie-Louise, TIME. Rhythmand Repose, Thames and Hudson London 1972.P YANG (masculine):Tempo YIN(feminine):Espaço)
Falou da concentração e da atenção necessarias para desenhar e dos muitos movimentos que o corpo, o braço e a mão podem fazer para descrever trajetórias no papel ou no espaço. Falou que o mestre pede ao discípulo para traçar uma linha entre dois pontos. Feita a linha o mestre diz ao discípulo que ele não havia vivido a linha, que ela carecia de expressão. Falamos da palavra desenho, sua origem designio, dar nome, designar ou destino, direção, desejo. Design, draw e draft. Lê um trecho de Saramago – “A Caverna” pg. 84 – toda a arqueologia de materiais é uma arqueologia humana.O que este barro esconde e mostra é o trânsito do ser no tempo e sua passagem pelos espaços. Os sinais dos dedos, as raspaduras das unhas, as cinzas e os tições das fogueiras apagadas, os caminhos que eternamente se bifurcam e são distanciados e se perdem uns dos outros. Este grão que aflora à superfície é uma memória, esta depressão a marca que ficou de um corpo feito. O cérebro perguntou e pediu, a mão respondeu e fez. Leu citação de Goethe no livro “Esboço para um Auto Retrato” de Bernard Berenson. Onde fala da diferença entre desejo e vontade. Falou de que hoje já se pode realizar o sonho dos alquimistas de transformar mercurio em ouro.(vide Plank) Falou do conceito metafórico de alquimia onde, pode se transformar, pelo pensamento, a qualidade das escolhas. Diz que quimica quer dizer suco, em Grego. Da sala fomos para a salinha.
Ali ele tinha seu lugar predileto, encostado a parede repleta de pinturas. Disse que se o achássemos feio poderiamos olhar os quadros. Falou da aula de física onde seu prof.mostrava um raio de luz atravessar um celofane e este o fazia mudar de cor. Mais um celofane, uma nova cor. Pediu para que o lembrasse de falar sobre a torção no raio de luz. Repentinamente nos sugeriu desenho de uma estrela de 7 pontas. Ficamos estudando sua construção, divisão da circunferência, movimentos, trajetórias, angulos, formas ocultas e outras estrelas – 4 pontas, 5 pontas, 6 pontas. Com sua lapiseira nos mostrou a construção, o peixe e o vaso nela ocultos. (Anexar copia da folha). Desenhamos outras possibilidades de alfabetos e falamos no código binário. Nos contou de um congresso de comunicação na Itália onde representou o Brasil. Nos contou dos livros de Bruno Munari que apresentam a laranja como se fosse um produto desenhado por designers e do filme que apresentou no congresso onde um atleta dá um salto mortal filmado em hiper camera lenta acompanhado de trilha sonora (som puro) e quase enervante. Disse que nesse congresso só os europeus falavam e que a comissão brasileira resolveu se pronunciar. Neste congresso, Humberto Eco, Abraham Moles, Argan, entre outros… F.M. então se apresentou para fazer um pronunciamento sobre comunicação e informação. Disse que comunicação é a ponte entre dois extremos, inclusive fisiológicos, o que arrancou sorrisos na platéia. (vide “Lógica da Vida” – François Jacob) Apresentando ou comentando um assunto acolhedor em seguida a outro, nos falou do livro de Saramago que conta a história de uma tradicional família de poteiros portugueses acostumados a uma rotina secular de produzir e vender potes. Até que um dia a loja recusa novas encomendas pois haviam chegado os novos potes de plástico. O poteiro tem então que decidir por outro produto para manter o negócio. Decide produzir figuras, bonecos… Nos conta que no estacionamento no bairro soube de um pintor que escreveu LAVA-SE CARRO. Comparou a dificuldade e determinação ao tempo levado para “dar o salto mortal” no filme de Bruno Munari, reproduziu lentamente a possível trajetória do pincel acompanhado de um FIIIIII semelhante à trilha sonora original. O prof. ia ligando uma história em outra, uma citação em outra de forma poética e anárquica, elucidou.
Takashi lhe contou de uma biblioteca que visitou na China onde os livros eram laminas de pedra gravadas e que o frequentador podia imprimir o que desejasse. Disse que sua filha gostaria de escutar essa história e logo veio Paula que disse já ter conhecimento do fato pois Rubens Matuck havia contado. Com a presença de Paula o prof. procura o editor do livro Pincelada Única. Encontramos na ficha o nome de uma cidade XXXX que todos desconheciam.Logo pensamos tratar-se de uma ediçâo portuguesa. O prof. sai e logo volta trazendo um grande livro de capa vermelha e apontando nos diz; ….cidade portuguesa e também brasileira. Enquanto Takashi conversava com Paula o prof. me fez um sinal.Percebendo que eu não o havia acompanhado retornou e tocou meu braço para acompanhá-lo. Retirou um volume da biblioteca e me mostrou uma gravura de Durer onde ao fundo de uma cena aparecia um incomum sólido geométrico ( a pedra filosofal da “Melancolia”) Pediu-me que o identificasse mas não consegui. Era um sólido irregular. Ao nos despedirmos me abraçou dizendo: Guto você já é de casa. Nos acompanhou pelo jardim até o portão. Disse que gostamos muito da conversa. Ele disse: conversa sim…não gosto de bate papo!
Guto Lacaz posted by takashi fukushima @ 7:07 AM