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meine liebe lehrerin


Claudia e sua filha Isabela.

A quarentena serve inclusive para fazer arrumação, abrir gavetas, pacotes, pastas, etc… Abri uma pasta e fiquei morrendo de saudades da minha professora Claudia, meine liebe Lehrerin…

O meu aprendizado de alemão se deu principalmente na minha infância, através da governanta da casa dos meus pais, a Fräulein (Lina Johanna Dietze), que conversava comigo em alemão. A minha convivência com meus avós Arthur e Erna era também em grande parte em alemão. No Colégio Visconde de Porto Seguro tive também aulas de alemão.

A manutenção da língua, no entanto, é muito difícil, principalmente se você não a utiliza no dia-a-dia, e como meus pais nunca conversaram com os filhos em alemão, apesar de falarem a língua fluentemente, o meu alemão foi sumindo com o passar do tempo…Como eu tenho uma ligação muito forte com a origem germânica da família, eu não queria perder a fluência com a língua, e foi aí que em 2010 me indicaram uma professora de alemão, Claudia Thomé Witte.

Foram três anos de muito aprendizado, e de convivência extremamente agradável com a Claudia, uma pessoa incrível que me recebia na sua casa sempre com um café e alguma guloseima… Neste período meu alemão renasceu com força! Interessante que este esforço concentrado me colocou em um nível onde ficou mais difícil de esquecer da língua, pois estou sempre prestando atenção em filmes e qualquer outro lugar onde apareça o alemão. Foram três anos de aula, e fiquei com saudades!
Além disso a Claudia é uma estudiosa de Dona Leopoldina da Áustria e irmã de Dom Pedro II, uma das maiores autoridades mundiais no assunto!


Claudia me enviou esta foto em seu estúdio, no início das nossas aulas em 2010.

é isso, por fernando stickel [ 14:09 ]

seu arruda, farmacêutico

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O nome dele era “Seu” Arruda, baixinho, de meia idade, sempre de terno e gravata chegava em casa com sua fala rápida e enrolada, munido de maletinha de couro preta recheada de remédios, ampolas e seringas de vidro, agulhas, tudo devidamente esterilizado e guardado em estojos de aço inoxidável.

Simpático, discreto e eficiente, conhecia todos os glúteos da casa. Sua profissão, farmacêutico, sua missão, aplicar injeções. Eu gostava muito de observar a rotina de cortar o pescoço da ampola com uma serrinha e depois quebrá-lo com um ‘pop’.
Não sei por que me lembrei dele, presença constante na casa dos meus pais na Rua dos Franceses. Havia sempre alguém precisando de uma injeção, a casa era cheia de gente, meus pais, quatro irmãos, minha avó Lili, a Fräulein governanta e o “Seu” Paulo jardineiro.

é isso, por fernando stickel [ 23:32 ]

seu paulo


Hiroshi Okumura

Conhecido como “Seu Paulo” o jardineiro japonês que trabalhou décadas para os meus pais na casa da R. dos Franceses era uma figura.
Tinha hábitos exóticos, como colocar jornal dentro do sapato, cozinhar no quarto e curtir fotografia.
Lia revistas em japonês, e guardava pilhas delas em seu quarto em cima da garagem.
Não se alterava jamais, porém de tempos em tempos procurava minha mãe, tirava os óculos, punha as mãos na cintura e reclamava:
– Dona Marta! Axim no e poxivel! Dona Frola non sabe o que quer!!

Isso porque a Fräulein ou “Dona Frola” era desorganizada e pedia para o “Seu Paulo” ir ao Monte Azul, mercearia do bairro umas quinze vezes por dia…

é isso, por fernando stickel [ 10:17 ]

uma história de amor


Seu Paulo e Dona Frola (Fräulein) eram duas figuras ímpares. Ambos solteiros, sem família, um nascido no Japão, outra na Alemanha.
Seus nomes eram Hiroshi Okumura e Lina Johanna Dietze, trabalharam como jardineiro e governanta na casa dos meus pais na R. dos Franceses durante décadas.
Ambos dividiam a guarda do Lumpi, basset que meus pais não gostavam de ver pela casa, e que portanto vivia ou no jardim ou na cozinha.

Dona Frola, já aposentada, morava em uma bela casa na R. Brunilda, e vivia das rendas de outras duas casa que comprou ao longo da vida com a ajuda dos meus pais.

Certo dia, por volta de 1987, cerca de 10:00h eu recebo um telefonema mais ou menos assim:
-Sr. Fernando, eu sou a vizinha da Dona Frola, e estamos preocupados pois ela não abriu a janela hoje.
-Vizinha de muro?
-É, nós conhecemos bem os hábitos dela, acho que aconteceu alguma coisa com ela…
-Estou indo para aí.

Cheguei lá, tudo trancado, batemos na porta, chamamos, gritamos e nada. Liguei para os bombeiros que chegaram e entraram pelo telhado, logo depois abriu-se a porta e me chamaram.
Ela estava deitada na cama, semi-inconsciente, diagnóstico dos bombeiros desidratação grave, levaram-na para o pronto-socorro.
Dei uma olhada na casa, tudo em ordem, era muito limpo e organizado, porém uma coisa me chamou a atenção, na geladeira havia inúmeros potes de margarina, e mais nada.

Daí para a frente um longo processo se seguiu para convencê-la de que não poderia mais morar sozinha, se bem me lembro havia um diagnóstico de Parkinson e/ou Alzheimer. Meu pai negociou com a Sociedade Beneficente Alemã recebê-la, o que aconteceu em 1988, e como ela não tinha herdeiros, acabou por doar seus imóveis à Sociedade, que em contrapartida acolheu-a até seu falecimento.

Agora é que vem a parte interessante da história. Na época em que Dona Frola foi internada, o Seu Paulo, também aposentado, morava em um apartamento na R. Jacarei, a poucos passos da Assembléia Municipal.
Quando ele soube da internação, passou a visitar Dona Frola regularmente, e finalmente acabou por se tornar seu guardião, cuidando dela e vivendo com ela no Asilo, até sua morte.
Alguns anos depois ele também faleceu no Asilo, lembro-me de sua fisionomia na capela, já no caixão. Parecia um Buda. Iluminado e tranquilo.

O escritor Rubem Alves conta esta história de amor bem melhor do que eu, aqui.

é isso, por fernando stickel [ 9:54 ]

seu paulo


Meu irmão descolou não sei onde esta foto do “Seu Paulo” nome adotado por Hiroshi Okumura, japonês que trabalhou como jardineiro na casa dos meus pais na R. dos Franceses durante décadas.
Ele falava muito mal o português, em compensação conhecia bem a escrita japonesa, algo de que meu pai, bibliófilo, se valia sempre que necessário.

Ele morava em um quarto em cima da garagem, e lá mantinha como hobby um laboratório fotográfico, e dividia com a Fräulein, ou “Dona Frola” os cuidados do basset Lumpi, no colo dele.

é isso, por fernando stickel [ 15:21 ]

lumpi

fraulein
Bilhete que enviei ao meu filho Arthur, alguns anos atrás, quando morreu sua Beagle Madonna:

Arthur,
Quando eu tinha a sua idade, eu e os meus irmãos tínhamos uma babá chamada Fräulein (o nome real dela era Lina Johanna Dietze, mas todo mundo chamava ela de “Dona Frola”), que morava conosco na casa da vovó Martha e vovô Erico, na R. dos Franceses.
A Fräulein tinha um cachorrinho que se chamava Lumpi, era um Dachshund (Salsicha) pretinho.
Teus avós não gostavam de cachorro, e o Lumpi ficava o tempo todo atrás da Fräulein na cozinha, na área de serviço e no jardim, nunca dentro da casa.
Todas as noites ela escovava os dentes do Lumpi, e quado ele morreu, já bem velhinho, foi enterrado no mesmo jardim onde tanto passeou e brincou.

Foi graças à Fräulein que hoje falo alemão razoavelmente, e pude voltar a ter aulas em um nível avançado, pois ela só falava comigo em alemão.

é isso, por fernando stickel [ 12:14 ]

batedeira


Ganhei esta batedeira da minha sogra.
Ao vê-la, imediatamente me vieram lembranças profundas.
Na casa dos meus pais, na Rua dos Franceses, morava com a família uma poderosa governanta alemã, de nome Lina Johanna Dietze, (na foto escaneada de uma 3×4 de 1987) mais conhecida como “Dona Frola”, uma abreviatura tupiniquim de Fräulein (senhorita).
Dona Frola tinha uma incrível habilidade para fazer bolos, tortas e biscoitos, particularmente na época do Natal.
Eu, desde cedo, tinha uma insaciável curiosidade por tudo o que ocorria na casa. Naquela época, ínicio dos anos 50, não existia pré-escola, e as crianças brincavam em casa até a hora de ir para o Kindergarten (jardim de infância) aos 6 anos de idade.
Portanto os assuntos do dia eram variados. Logo cedo acompanhar Dona Maria, a cozinheira, na execução da galinha para o almoço, (tinha galinheiro em casa) observava com certo horror a execução da penosa com um tranco no pescoço, com fascínio e nojo o processo de arrancar as penas, extrair os intestinos, verificar o conteúdo da moela da falecida, etc…
Em seguida descer ao porão e acompanhar o trabalho da costureira, depois andar de velocípede no quintal, à tarde sintonizar o rádio galena, quem sabe produzir um pouco de pólvora no almofariz, e assim passava-se o dia, encapsulado dentro de casa.
Um dos meus assuntos preferidos era ajudar a Fräulein na feitura dos bolos e tortas, e é aí que entra a poderosa lembrança da batedeira…
Grande parte do alemão que falo hoje (“Küchen Deutsch”), devo a Nani, o apelido que eu e meus irmãos usávamos com a Dona Frola.

é isso, por fernando stickel [ 22:05 ]