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...desde janeiro de 2003

mercedes-benz: queda

Diz a sabedoria popular que não há alegria que não se acabe, nem tristeza que dure para sempre…

Minha tristeza como proprietário da Mercedes-Benz 500 SL 1986, se iniciou com o processo de licenciamento do carro, provavelmente em 1996. O despachante me ligou informando que os documentos não estavam liberados, havia alguma restrição. Fiquei muito bravo exigi que ele encontrasse uma solução.

Após longa peregrinação encontraram a origem do problema, um bloqueio na Receita Federal. De posse dos detalhes contatei um advogado especializado que finalmente me forneceu o diagnóstico:

Licenciamento do carro bloqueado, pela cassação no STF de uma liminar que permitia a compra de carros usados no exterior. Todos os carros nesta situação (eram muitos) ficaram ilegais do dia para a noite.

Me desesperei, fiquei indignado e disse ao advogado que o meu objetivo seria usar o carro ao máximo, pois foi para isso que o havia comprado.

O advogado montou uma estratégia para que eu recebesse de volta os impostos pagos, pois ao ser internalizado todos os impostos tinham sido pagos. E continuei a usar o carro, sem documentos, correndo o risco de tê-lo aprendido a qualquer momento. Até um momento pitoresco ocorreu, quando voltando do Guarujá para São Paulo em uma segunda-feira de manhã fui parado por um policial rodoviário, em frente à COSIPA. Conversa vai, conversa vem, o policial não pediu os documentos e acabou elogiando muito a Mercedes, me liberando… Ufffaaaa!!!

Esta situação perdurou dois ou três anos, um belo dia até emprestei o carro para o meu filho Antonio namorar…
Finalmente o advogado me alertou que todos os recursos judiciais falharam, e que eu estava sujeito à “Pena de Perdimento”, ou seja, eu deveria entregar o carro à Receita Federal, que o levaria à leilão.

Totalmente arrasado, montei uma estratégia para comprar o carro quando fosse a leilão, e depenei-o, para diminuir seu valor, retirando faróis de milha, estepe, compressor do ar condicionado, rádio, antena elétrica, ferramentas, tapetes e a capota rígida. Finalmente, muito revoltado, em um dos dias mais tristes da minha vida entreguei o carro na Receita, no centro da cidade.

Passei a monitorar os avisos de leilão, e nada… Havia até frequentado um leilão de veículos para ver como era ao vivo, passaram-se os anos e nada do leilão… Até o dia em que recebi um telefonema, o homem se identificou dizendo que havia comprado o “meu” carro no leilão. Quase caí de costas! Como assim? Ele me explicou que os leilões eram destinados apenas a pessoas jurídicas, haviam mudado as regras.

Foi o segundo dia mais triste da minha vida… Finalmente fiz um acordo com o comprador e vendi a ele todas as peças que havia retirado do carro, e tentei esquecer o triste episódio. Só agora, cerca de 20 anos depois estou conseguindo contar essa história com certo distanciamento.


Pedi ao comprador para ver o carro, e encontrei-o nesta situação lastimável. Após vários anos no depósito da Receita, as rodas originais sumiram, lataria toda riscada, manchado, uma tristeza.


Painel arrebentado, estofamento rasgado.


Tudo sujo, enferrujado, decaído.

Foi muito, muito doído perder um carro perfeito. Como terceiro de boa fé eu não poderia ter sido punido tão drasticamente. Falta muito para o Brasil se tornar um país mais justo, em todos os sentidos.

é isso, por fernando stickel [ 10:00 ]

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