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salto

“Aquilo que fica das atividades humanas não é o que serve, mas o que emociona”.
Le Corbusier

Pouco antes de completar 39 anos de idade resolvi me dar um presente: Um salto de para-quedas!!
Me informei onde e como, marquei e fui! Não contei para ninguém, era uma curtição só minha!

Sábado, 26 setembro 1987, amanhece glorioso. Ligo para Campinas e confirmo o salto. Tomo café e parto sozinho.
São quase duas da tarde. A porta do avião se abre.
Estamos a 10.000 pés, em pleno domínio dos Deuses, acima do ar sujo, acima de tudo.
O ar frio invade a cabine e eu me arrependo de não ter colocado uma camisa por baixo do macacão. Outro instrutor e seu aluno saltam pela porta aberta e eu espio dois pontos que desaparecem muito rapidamente.
O ar frio invade meu estômago. Butterflies…
Já estou de capacete, óculos e me ajoelho ao lado da cadeira do piloto.
Pedro Hilu, meu instrutor, se conecta aos meus arreios e passamos a ser um único volume de 170 kg.
Pé direito para fora do avião. Mão direita no montante da asa.
Mão esquerda na alça da porta.
Quatro pés no estribo do Cessna, motor reduzido, velocidade de 80 mph.
Olho para a frente e vejo o céu. Azul.
O sol brilha e o vento é gelado. Estamos totalmente fora da cabine.
A sensação é muito clara: Não vai dar para voltar atrás.
Pedro diz: “Cruze os braços”, eu solto as duas mãos e agarro meus arreios.
Ele diz: “Pernas pra cima” e já estou pendurado nele. Nisto, a vertiginosa aceleração. Estamos caindo. Perco o fôlego.
Meu coração dispara.
Sinto medo? Não sei se é medo ou excitação ou apenas uma brutal descarga de adrenalina nos canos. Sinto algo
vertiginosamente forte e brutal.
Talvez meus braços cruzados aumentem a sensação de impotência.
Sou uma pedra, um saco de batatas. Quem está voando de braços e pernas abertos, como se vê nos filmes, é o Pedro, grudado em cima de mim. O barulho do vento é infernal. Quando começo a me acostumar com a queda livre a 200 km/h, um violento tranco, os arreios se afundam nas minhas coxas, as pernas voam para a frente e pronto!
Estamos voando. Solto gritos. Estou excitadíssimo.
Pedro me passa os manetes de comando.
Dada a carga dupla, os comandos serão feitos a quatro mãos (e quatro braços).
Fazemos curvas para a esquerda, para a direita, ficamos girando como um carrossel, treinamos duas ou três vezes o procedimento de pouso.
As construções crescem. Estamos em cima dos hangares do Aeroclube. Na área de pouso pessoas correm em nossa direção.
O vento acaba, a biruta murcha, usamos toda nossa força para frear o enorme pára-quedas quadrado, azul-claro e azul-escuro.
Toco o chão e imediatamente percebo que aterrizamos sem muita classe. Amontoados no chão, no meio da poeira, cobertos de cabo e velame, dou gargalhadas.
Eu fiz!
Não é preciso ter coragem.

É preciso ter vontade.


Alguns exercícios e simulações no solo antes do vôo.


A aproximação para o pouso.


Comemorando com o Pedro!

é isso, por fernando stickel [ 22:30 ]

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