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coisas da semana

Encontrei no meu computador este meu texto, pré-blog, achei interessante…

COISAS DA SEMANA por Fernando Stickel 19/2/2000

“Eis a verdade!”
Andei lendo Nelson Rodrigues e reparei no uso frequente que ele faz dessa expressão.
Pensei em começar com “pois é,” mas acho que pois é, da maneira que está sendo dito hoje, pressupõe um certo torcer dos lábios. “Eis a verdade” é mais direto, não aceita rodeios nem caras e bocas, é meu estado de espírito, doa a quem doer.
Eis a verdade: Estou num buraco, numa situação meio esquisita, numa letargia, parálise, preguiça, inércia.
TORPOR: indiferença ou inércia moral. Desalento, esmorecimento, falta de ação, moleza.
Não que isto seja novidade, de jeito nenhum, conheço de longa data esta sensação. Apenas que desta vez está me incomodando mais. Como diz João Ubaldo nas páginas amarelas da Veja, o meu pequeno Fernando não sai do meu pé, cobrando, exigindo, reclamando ação, trabalho, iniciativa, criatividade.
Também essa semana foi de fuder. Meu carro me deixou na rua, não queria pegar, o outro carro, a minha querida Mercedes-Benz 500 SL 1986, a Polícia Federal quer levar embora por conta de problemas de documentação do primeiro dono. Os abajures da casa queimam misteriosamente, um atrás do outro, a esteira ergométrica foi ligada no 220, por uma distraçãozinha da empregada. Queimou tudo, puta preju. Essas coisas acontecem, mas não ajudaram em nada o meu já péssimo humor.
Aí a minha mulher teve a boa idéia de comprar entradas para o teatro pelo telefone, pra quem não sai de casa jamais até que foi um bom empurrão.

Primeiro programa: PAULO AUTRAN no Teatro Renaissance. Escrevo assim em maiúsculas porque ele merece. Uma hora de monólogo cativante, engraçado, emocionante. Saio alegre, acreditando na arte, na vida, na delícia de escrever, ouvir, representar, interpretar.

Segundo programa: Peça escrita por Antonio Ermírio de Morais, Brasil SOS ou qualquer coisa assim no Teatro da FAAP. Que sono! Que chatice! Que porre! Tudo muito correto, mas chato, chato, chato. Na saída, encontramos nossa amiga Karin Rodrigues, que faz o papel de Diretora do Hospital na peça, elogiamos muito seu colar…

Terceiro programa: Exposição de pinturas do BOI na Galeria Nara Roesler. Também com maiúsculas, porque maravilhosa. Nosso velho amigo José Carlos BOI Cezar Ferreira “at his best”, grande alegria!

Quarto programa: Ópera Cazas de Cazuza no Tom Brasil, dirigida por um tal de Pitta, também com esse nome…Minha mulher escolheu porque adora Cazuza, eu também gosto, bem… O espaço é idêntico ao Palace, ou seja, uma merda. Mesinhas mínimas, cadeirinhas mais mínimas, gente mínima, serviço mínimo e fumantes máximos, milhares deles se deleitando em produzir um ambiente de quinta categoria. People that came from strange zip codes, loiras fudidas, apertadas em jeans, homens de meia idade todos de preto, se achando o máximo, apesar da barriga e da careca.
O espetáculo?
Bem, o sentido da palavra afinação, para dizer o mínimo, foi assassinado, morto, sepultado e totalmente esquecido. Coitado do Cazuza, deve ter dado boas cambalhotas em seu caixão.

Quinto programa: Exposição múltipla no Centro Cultural Itaú. Essa então dá mais desânimo ainda de contar, afinal trata-se de um dos maiores orçamentos da América Latina. Bom, pra resumir, uns quinhentos curadores incompetentes selecionam, em torno de um tal “eixo curatorial” outros quinhentos jovens, desorientados, ambiciosos e preguiçosos com três ou quatro exceções, assim ditos “artistas”, afinal pra tirar foto sem foco e mandar ampliar só precisa ter um pouco de paitrocínio, para expor num prédio de quinta categoria (na Av. Paulista!) uma salada que eles curadores pensam justificar com textos absolutamente incompreensíveis e pretensiosos. Submetidos ( os textos) a um painel de “scholars” tenho certeza de que ninguém entenderia patavina. A quem será que eles pensam que enganam, deve ser a mesma turma que aplaude emocionada “Cazas de Cazuza”.

Sem mencionar a gripe que me pegou bem no meio da fumaça no Tom Brasil. Ah, sim! Que alegria! Na saída do Tom Brasil (saímos no meio do “espetáculo”) encontramos um congestionamento total,
a Vila Olímpia paralisada.
Legal, né?

é isso, por fernando stickel [ 12:54 ]

1 Comentário

o foco — aqui tem coisa

novembro 19th, 2013 at 16:51

[…] que nada funciona, as horas passam e nada acontece. Às vezes dura horas, outras vezes dias.(veja aqui a descrição em Fevereiro 2000) Não há o que fazer, a não ser evitar fazer besteira enquanto […]

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