aqui no aqui tem coisa encontram-se
coisas, coisas, coisas...
...desde janeiro de 2003

tragédia em alagoas

Meu amigo Arthur Wolkovier manda relato de sua ajuda às vítimas das enchentes em Alagoas:

Meus queridos amigos,
Dina e eu acabamos de vivenciar a experiência mais marcante de nossas vidas.

Conforme havíamos anunciado, quarta feira passada fomos para Alagoas prestar alguma ajuda aos desabrigados de Branquinha (esse é o nome correto)- Branquinha é um dos dezenove municípios fortemente atingidos pelas enchentes do Rio Mandaú e um dos 15 considerados em estado de calamidade pública.

No aeroporto fomos recebidos pelo ten. Niglia, coordenador da defesa civil do Estado de SP, que de imediato nos levou ao município de Branquinha e nos apresentou à prefeita como voluntários vindos de São Paulo.
Andamos pelo pouco que restou da cidade e sentimos nossa impotência diante de tanta tragédia. Com os poucos recursos que recebemos, não sabíamos o que fazer face a tantas necessidades. Desta vez, foram poucos os que se sensibilizaram com o que ocorreu no nordeste.
Voltamos para o hotel um tanto desconcertados e fomos dormir pensando no ditado: “quando a gente quer muito alguma coisa, as forças do universo conspiram a nosso favor.”

No dia seguinte fomos a Muricí, município vizinho, verificar se lá poderíamos prestar algum tipo de ajuda. Ao entrarmos na cidade, nos deparamos com um conjunto de cinco galpões aonde se encontravam um sem numero de desabrigados. Entramos em dois deles e ao nos entreolharmos concordamos que esse era o nosso lugar. Quem assistiu ao Fantástico neste último domingo, terá visto a reportagem do Dr. Drauzio Varella, denunciando as precárias condições de higiene em que se encontravam adultos e crianças, exatamente nos galpões que elegemos como alvo do nosso trabalho. (nesta altura, ainda desconhecíamos a reportagem)
Durante a visita aos galpões, chegaram um caminhão do exército com pães e um da prefeitura com cestas básicas. Vieram em horários diferentes e estacionaram na mesma posição. Ato contínuo, vimos as pessoas correrem em desabalada carreira e formar uma enorme aglomeração em torno dos caminhões, gritando pelo direito de receberem sua merecida e esperada doação. Acompanhamos na integra as duas distribuições e constatamos que as quantidades enviadas eram indeterminadas e muito abaixo das necessidades. Eram sempre os moradores dos galpões mais próximos e os mais fortes, os beneficiados com a distribuição. Muitos deles levavam mais de uma pessoa da família e acabavam recebendo em dobro ou triplo. As grávidas, os idosos, os que moram nos galpões mais distantes e os que, por qualquer motivo não estivessem presentes naquele momento, acabavam por não receber nenhuma ajuda, provocando nessas pessoas um sentimento de total abandono e injustiça.

Saímos de São Paulo com a certeza de que poderíamos desenvolver uma ação que pudesse se diferenciar de tantas outras, dentro do orçamento que tínhamos no bolso, usando a experiência adquirida em SL do Paraitinga, contando com os preciosos recursos que a vida nos ensinou e sobre tudo, que pudesse ter um toque de calor humano e proximidade das pessoas.

Iniciamos então nosso desafio, cadastrando todas as famílias abrigadas. Neste trabalho que durou três dias, entrevistamos 178 mães chefes de família, levantamos o numero de moradores por cubículo, o numero de crianças e de bebes por família . Tomamos conhecimento das dificuldades que tinham com a alimentação, que as cestas eram muito básicas e que não tinham acesso a “misturas” . Muitas cozinhavam em espiriteiras a álcool e outras nem tinham como comprar o álcool.

Vimos as crianças vagando pelos galpões sem ter o que fazer, vimos as deploráveis instalações sanitárias onde apenas dois vasos sanitários serviam a cada cento e setenta pessoas, sentimos o terrível odor que pairava dentro de cada galpão, nos deparamos com pessoas doentes que levamos em nosso carro para o ambulatório, ouvimos as pessoas contarem seus dramas pessoais e familiares e o pior de tudo, vimos nos olhos de cada uma, a tristeza e o desamparo. Aonde sentíamos que era caso, entregamos frascos de Florais de Bach, gentilmente oferecido por uma farmácia de São Paulo.

Terminado o cadastramento contabilizamos 178 famílias, 786 pessoas, 183 meninos de 1 a 10 anos, 171 meninas da mesma faixa etária e 24 bebes abaixo de um ano. Com esses dados e as informações pessoais em mãos, decidimos que faríamos a distribuição de uma cesta especial, contendo além do básico, mortadela, lingüiça, carne de sol, latas de leite em pó, temperos prontos, latas de sardinhas, goiabada, margarina, pacotes de cuscus e outros itens que são do hábito dos alagoanos e que nunca fazem parte das outras cestas distribuídas. Adquirimos 500 brinquedos que atendessem a todas as crianças, diferenciados por sexo e idade e ainda, entregamos às 60 famílias que não tinham como cozinhar, um conjunto de fogão e botijão de gás para cada uma.

A distribuição levou pouco mais de quatro horas. Através de chamada nominal e por galpão, todas as famílias, sem exceção, compareceram para receber o que lhes foi destinado, tornando assim possível uma distribuição justa e igualitária. Esta distribuição comovente, foi documentada pela TV Gazeta de Alagoas, afiliada da Globo, e levada ao ar no Bom Dia Alagoas, o equivalente ao Bom Dia São Paulo. Veja a reportagem no link: http://gazetaweb.globo.com/v2/videos/video.php?c=7662

O que nos deixou muito felizes com essa ação, é que a distribuição não foi feita de forma mecânica, nesse caso as pessoas tinham nome e tiveram individualmente, algumas de suas necessidades básicas atendidas.

Dois abrigos menores da cidade não foram atendidos por falta de recursos, e aqueles que ainda quiserem fazer algo por eles, estaremos recebendo doações até o último dia deste mês e transferindo para Maceió, para que o nosso amigo e colaborador Aníbal Veloso, replique essa experiência nos outros abrigos.

Tudo isso só foi possível graças aos que contribuíram e acreditaram no nosso trabalho, graças à preciosa colaboração do nosso novo amigo Aníbal Veloso, gerente do HSBC em Maceió, que com seu conhecimento de pessoas e empresas da cidade, viabilizou com extrema rapidez e eficiência, a compra de todos os itens em condições especiais e nos proporcionou frete gratuito do material adquirido até o local de distribuição, tendo também participado da distribuição juntamente com Niriam, sua esposa e seu filho. Também somos imensamente gratos ao Ten. Niglia da Defesa da Civil de São Paulo, que alem de nos ter facilitado os contatos junto às autoridades locais, trabalhou com sua equipe na distribuição das doações e providenciou que a Defesa Civil de Alagoas e um efetivo da Força Nacional estivessem presentes para garantir a ordem no local. Finalmente agradecemos àqueles que não puderam colaborar, mas que torceram para que essa empreitada fosse coroada de êxito, levando a solidariedade de São Paulo a essa sofrida população.

Gostaria de transcrever um trecho que li durante o vôo São Paulo – Maceió, na revista da companhia aérea: “ Aquele que não faz uso de todo potencial de sua vida, de alguma maneira diminui o potencial dos outros “ – do livro A Alma Imoral de Nilton Bonder.
Um abraço a todos,

Dina e Arthur

Neste fim de semana ediatremos as fotos que tiramos e aqueles que tiverem interesse em receber, nos informem que teremos prazer em compartilhar.
Se quiserem ajudar, mandem sua contribuição para:
Arthur Wolkovier – Banco Itaú – Ag. 3741 – cc. 42481-0 – cpf: 063.213.308-25

é isso, por fernando stickel [ 19:30 ]

2 comentários

martinez

julho 16th, 2010 at 9:32

A gente conhece as pessoas pelos amigos que ela tem. A Voce e seus amigos eu estou respeitando cada vez mais.
gde abraço
martinez

fernando stickel

julho 19th, 2010 at 10:36

Martinez, obrigado!

Deixe seu comentário