Agora que começam as férias de Julho me lembrei de um episódio curioso, ocorrido por volta de 2004, quando eu ainda dava aulas de desenho de observação no meu estúdio da Vila Olímpia.
Fui contratado por uma família para dar aulas durante as férias para várias meninas, idades de 11 a 16, em um grupo fechado.
Expliquei que 11 anos era fora do meu público, que pela minha experiência a idade mínima para este tipo de aula seria de 13 anos, mas como era um grupo de irmãs e primas deveria dar certo.
Muito bem. Iniciei as aulas, tudo correu bem, até o dia em que passei lição de casa e pedi para que observassem em casa, ou no caminho de casa algo que lhes chamasse a atenção e depois me relatassem.
Foi difícil fazer com que elas entendessem “algo que lhes chamasse a atenção”, enfim, passada a lição de casa veio na próxima aula o resultado. Uma observou uma árvore, a outra uma peça de arte, assim por diante, até que veio a resposta:
– O meu Bulgari!
Esta menina trazia no pulso um relógio Bulgari, eu pedi para ela tirá-lo, peguei-o, pedi para que ela o examinasse em detalhe e perguntei:
– O que você reparou de especial no seu relógio?
– É um Bulgari!!!
– Sim, mas ele é especial porque? Tem uma cor, um desenho, formato, o tipo de números, qual a particularidade que lhe chamou a atenção?
– Uai, é um Bulgari!
Tentei, mas foi impossível explicar que o simples fato de algo ter uma assinatura de grife não torna este objeto necessáriamente especial. Minha aluna encerrou o curso de férias sabendo desenhar, mas não conseguiu se despir do preconceito.
4 comentários
madoka
julho 9th, 2010 at 22:10
pois é Fernando, por isso, por conta do preconceito nós não podemos nos calar,e falar falar falar muito, seja com filhos, alunos, com quem convivemos do lado , no trabalho em casa, na vizinhança, no clube, etc…. embora saibamos que é pouco, temos que falar.
abraço
fernando stickel
julho 10th, 2010 at 10:22
Madoka, pequenas gotas pingadas no oceano…
Don Victor
julho 10th, 2010 at 23:38
Não ligo para marcas, tanto que não tenho um Bulgari, nem Rolex, muito menos um Vacheron Constantin, na verdade nem sou um amante de relógios!! No entanto, realmente um Bulgari é um Bulgari… mas diferente do que a menininha pensa, não pela sua marca, mas sim por sua qualidade, riqueza de detalhes como o fino acabamento do visor, da caixa, bem como um Porsche possui uma qualidade inigualável, ainda mais comparado a um Gol, sem menosprezá-lo. Por esta justa razão estes produtos são inquestionavelmente distintos.
Enfim, hoje em dia o status está acima de tudo, e, as coisas são mais enfocadas por sua marca do que por sua qualidade ou opções disponíveis.
fernando stickel
julho 12th, 2010 at 10:15
Don, assim como o ufanismo vazio é uma merda, o status pelo simples status idem!
Deixe seu comentário