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uma pequena biblioteca particular


Finalmente o lançamento do livro do meu pai: Uma Pequena Biblioteca Particular – Subsídios para o estudo da Iconografia no Brasil

Erico Stickel possui uma respeitável biblioteca de títulos publicados no Brasil ou em outros países, que têm em comum o olhar sobre a cultura brasileira em seus aspectos mais variados. Neste livro, o autor apresenta aos leitores um pouco da história de formação da biblioteca, acrescentando comentários sobre os livros.
A coleção teve início com a biblioteca do naturalista alemão Johann Metz (1861-1936), tio-avô do autor, que chegou ao Brasil em 1893 trazendo em sua bagagem algo pouco usual entre os imigrantes da época: uma biblioteca.
A maioria dos títulos dessa biblioteca inicial era formada basicamente por obras em alemão, destacando-se os estudos sobre expedições científicas e explorações marítimas e terrestres. A esse acervo inicial, o pai do autor acrescentou outros títulos e o filho, por sua vez, ampliou ainda mais a coleção.
Neste núcleo original recebido por legado, encontravam-se muitas obras com temas bem definidos, mas também se fazia notar, por omissão, a falta de interesse por alguns outros temas importantes, tais como economia, política, astronomia e ciências exatas, tendência que também viria a nortear a minha formação, comenta Erico Stickel na introdução do livro.
Desse grande acervo, formado por vários núcleos temáticos, o autor destaca sua Pequena Biblioteca, desenvolvida em torno da representação artística que tivesse basicamente por alvo a paisagem, a cidade e sua arquitetura, o retrato, a fauna e a flora em seu ambiente natural, as festas populares e sacras, o patrimônio artístico e histórico nacional, imagens produzidas ao longo dos tempos por centenas de viajantes e pintores de todos os tipos, aventureiros, fotógrafos e outros, que percorreram o país em busca dessas imagens e que nos foram transmitidas em obras publicadas no país.
A Pequena Biblioteca, doada ao Instituto de Estudos Brasileiros da USP, é o tema deste livro, ilustrado com mapas, aquarelas, gravuras e desenhos, muitos dos quais inéditos, e acompanhado do estudo bibliográfico do autor.
Erico J. Siriuba Stickel é advogado, colecionador de arte brasileira e bibliófilo. Conviveu desde cedo com a biblioteca herdada de seu tio-avô, à qual adicionou sua própria coleção, da qual parte constitui a “Pequena Biblioteca” do título, doada ao Instituto de Estudos Brasileiros da USP.

é isso, por fernando stickel [ 14:56 ]

biblioteca carmelita brito


Igor, Rafael, eu e Miriam.

A Fundação Stickel vem se mobilizando por uma causa muito nobre, a montagem de uma biblioteca rural no sertão baiano, município de Casa Nova. A sede de logística e distribuição fica na Fazenda Santarém, a 74 km de Casa Nova, nas imediações da represa de Sobradinho, a cerca de 140 km de Petrolina / Juazeiro. Outras sete “sub-bibliotecas”se localizam na região, 2 em casa de família e 5 em escolas públicas.

A importancia dos livros está no DNA da minha família, meu pai Erico João Siriuba Stickel foi um bibliófilo e escritor, desde cedo convivi e me contaminei com sua paixão pelos livros, vivendo em uma casa abarrotada deles. A Fundação Stickel segue esta tradição, com vários títulos editados, e agora contribui com uma nova biblioteca.

Tudo começou quando a Elaine Scutellaro, aluna de um dos nossos cursos gratuitos nos perguntou se teríamos livros para doar. A Fundação fez a primeira doação de livros para a Biblioteca Carmelita Brito, e a bola começou a rolar…

Conhecemos a Simone Santarém, líder local e presidente da Associação Comunidade da Fazenda Santarém, Embaixadora das Mulheres Rurais, Embaixadora da ONU Brasil | FAO, e o Rafael Araujo, Coordenador Nacional da Biblioteca que nos visita aqui em São Paulo para retirar os livros.

Novas doações de livros se seguiram, e o Instituto Wesley Duke Lee doou a obra “Cartografia Anímica”, obra de tiragem limitada com 48 pranchas produzidas pelo artista na década de 1980. Esta obra com certeza despertará muita curiosidade e conexão com o mundo da ARTE!


Minha prima Isabel Villares Lenz Cesar (na foto do celular) ficou sabendo das doações e se interessou, a Fundação operacionalizou sua fantástica doação de livros sobre psicologia, budismo e muitos outros.


Meu amigo Alexandre Dórea Ribeiro, da DBA Editora, fez generosa doação de maravilhosos livros de arte, fotografia, culinária, etc…


Rafael Araujo, Coordenador Nacional da Biblioteca recebe cópia autografada do meu livro “aqui tem coisa”, no Espaço Fundação Stickel na Vila Olímpia. Na sequência, após viajar 2.300km o livro chegou às mãos de Joaquim Ribeiro, Embaixador da Biblioteca, lá no sertão da Bahia!


A sede da biblioteca no sertão baiano se localiza na Fazenda Santarém.


Este livro que doei, “The Grand Prix Car” escrito por Laurence Pomeroy em 1949, tem um significado muito especial. Recebi-o de meu pai Erico, oriundo da biblioteca VICSA, empresa do meu tio Luiz Dumont Villares, é talvez um dos livros que está comigo há mais tempo, e que mais prazer me trouxe. Amplamente ilustrado, trata do universo dos carros de Grand Prix pré-guerra, (1906-1939) suas características técnicas, e inovações de engenharia.


Tenho certeza que chegando às mãos de jovens interessados, este livro poderá despertar paixões pela engenharia, pelo design, e quem sabe pela carreira desportiva!


São dezenas de pranchas detalhando a mecânica de carros de marcas ainda existentes como Mercedes, Fiat, Bugatti, Alfa-Romeo, Maserati e Bentley, e tantas outras que não existem mais, como Delage, Itala, Ballot, Sunbeam, Auto-Union.

é isso, por fernando stickel [ 8:49 ]

pequena biblioteca particular

Meu pai, Erico João Siriuba Stickel, escreveu a obra que acaba de nascer editada pela EDUSP, com o título “Uma Pequena Biblioteca Particular – Subsídios para o estudo da Iconografia no Brasil”.

A noite de autógrafos será no dia 29 Março 2004 na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

A obra levou por volta de 30 anos para ser concluida, e minha mãe, Martha, pode-se dizer, é co-autora, ao menos na paciência de aguentar meu pai na obsessiva e interminável leitura e compilação de fichas, referências, notas, etc…

No início era apenas o fichamento das publicações que meu pai achava interessantes, as fichas em cartolina eram preenchidas à mão com caneta tinteiro e foram crescendo em número e complexidade. O centro de produção da obra é um quarto no piso superior da casa onde meus pais moram na Rua dos Franceses, na Bela Vista, com janelas abrindo para o jardim da casa e o vale da Rua Almirante Marques Leão.

De uns 8 a 10 anos para cá, por insistência minha, todo este vasto material foi introduzido no computador, operado pela eficientíssima Francis Melvin Lee. Foram muitos e muitos meses de uma minuciosa e cuidadosa rotina, de digitalização do material manuscrito, revisão e catalogação.

O livro é uma obra de peso, com cerca de 750 páginas e inúmeras reproduções a cores do Romulo Fialdini. Será sem dúvida uma necessária obra de referência para estudiosos.

Enfim, com o lançamento próximo, a família se mobiliza para encontrar os endereços de pesooas com nomes tais como Aracy, Odila, Aristoteles, Hans, Istvan, Erwin, Leopoldo, Gerda, Edel, para o envio dos convites.

Eu, como ativo representante da ala informatizada da família, chamei a mim a função de ampliar o meu cadastro de nomes na Palm, com todos os parentes e amigos que estão sendo localizados.

Desnecessário dizer que tenho passado muitas horas dedicado ao tedioso, porém necessário labor.

é isso, por fernando stickel [ 10:29 ]

história da fundação stickel 7


Stickel Heim

A HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO STICKEL – Parte 7

A atividade filantrópica da família Stickel não ficou restrita apenas à Fundação Stickel.

Em 1974 meus pais Martha e Erico doaram à Sociedade Beneficente Alemã – SBA, na comemoração do Sesquicentenário da Imigração Alemã 1824-1974, um pavilhão para uso de idosos denominado “Stickel Heim”, com 12 quartos, sala de estar, copa e terraço. O projeto arquitetônico foi do arquiteto Salvador Candia, em cujo escritório eu trabalhava na época, e a construção ficou a cargo da Wysling Gomes.


Placa comemorativa afixada ao prédio


No dia da inauguração, eu, meu pai Erico, Iris Di Ciommo, minha mãe Martha e o arquiteto Salvador Candia

As Aldeias Infantis SOS Rio Bonito, inaugurada em 1980, foi uma iniciativa de quatro casais de amigos, Peter e Scholy Mangels, Karin e Eckard Essle, Marta e Hans Von Heydebreck e meus pais, que doaram o terreno sobre o qual se ergueu a Aldeia, meu irmão Roberto executou o projeto arquitetônico.


Os fundadores das Aldeias SOS Brasil, meus pais são os últimos à direita

Em 1995 eu iniciei ajuda à Creche O Semeador, como descrito no capítulo 6.

A primeira oportunidade de fazer algo na área das artes surgiu em em 1998, quando alguém me procurou para ajudar na finalização do catálogo da exposição “Private Light / Public Light” do artista Mischa Kuball, representante da Alemanha na 24ª Bienal de São Paulo, o que fiz já com recursos da Fundação.

Em 2002, meu pai, com a solidariedade de minha mãe, doou ao Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo – IEB os cerca de quatro mil volumes de sua “Pequena Biblioteca Particular”. Esta biblioteca foi a base do estudo e pesquisa que meu pai realizou durante 30 anos, com a intenção de escrever um dicionário bibliográfico da iconografia brasileira, trabalho coroado com o lançamento de seu livro “Uma Pequena Biblioteca Particular – Subsídios para o Estudo da Iconografia no Brasil” no dia 29 março 2004, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Foi talvez o dia mais feliz da vida do meu pai.

Em 2004, no início da revitalização da Fundação, estabelecemos algumas ajudas pontuais a outras instituições, e, assim a ajuda à Creche O Semeador saiu do meu cuidado pessoal e foi transferida para a responsabilidade da Fundação, iniciamos uma ajuda à Associação Minha Rua Minha Casa, da qual fui conselheiro, e também voltamos a ajudar a Sociedade Beneficente Alemã – SBA.

é isso, por fernando stickel [ 15:23 ]

apoio ao terceiro setor

A Fundação Stickel contratou recentemente um novo administrador de seu Fundo Patrimonial, leia como se deu esta transformação, em artigo publicado pela FortunA Gestora em Comunicação de Luxo com foto de Júlio Trazzi:

Apoio ao terceiro setor

Os arquitetos Fernando Stickel e Sandra Pierzchalski são os responsáveis pela Fundação Stickel, criada em 1954 por Martha Diederichsen Stickel e Erico João Siriuba Stickel. Desde 2004, quando reativaram as atividades da instituição, que ficou durante algumas décadas parada, passaram por três empresas que administraram, “nem sempre com sucesso”, como acentua Fernando, o fundo patrimonial que sustenta as várias ações realizadas. “Há cerca de um ano eu e a Miriam Miranda Costa, gerente administrativa e financeira, decidimos buscar no mercado outra empresa. Estivemos com oito proponentes e não ficamos satisfeitos, até encontrar o Fernando Hormain, da Angatu Private, que nos sugeriu uma gestão mais adequada ao nosso perfil. A cereja do bolo foi o Selo de Investidor Cultural, que evidencia um ponto importante para nós, que é a captação de recursos”, conta Fernando Stickel.

Arquiteto e artista plástico, ele explica que a fundação não tem uma grande empresa ou banco por trás e, portanto, precisa captar recursos, sob pena de não ter condições de manter as atividades. “Nosso fundo patrimonial não dá conta de fornecer meios para todas as necessidades”, diz. Fernando Stickel acentua a importância da sensibilidade da Angatu e da proposição sob medida para as demandas da fundação. “Juntamos nessa nova parceria a gestão patrimonial mais adequada que tivemos até agora junto com a consciência de que ela precisa divulgar aos seus parceiros e usar esse recurso do selo como incentivo à doação.”

Esses recursos, tão difíceis de serem arrecadados num mercado nem sempre sensível à necessidade de projetos artísticos e culturais, são essenciais para colocar em prática o lema “Arte Transforma”, adotado pela fundação em 2012. Sob essa ideia, são realizados cursos gratuitos de temas variados, desde fotografia até design gráfico, na periferia de São Paulo; exposições, que divulgam o resultado dessas oficinas e também destacam artistas respeitados que nem sempre encontram espaço nos circuitos normais da arte; e publicações, que normalmente compilam os trabalhos dos alunos em catálogos e folders e depois são distribuídos para bibliotecas e escolas, sempre com um cuidado extremo na identificação de cada obra.

Esse capricho Fernando Stickel parece ter herdado do pai, Erico Stickel, um aficionado das artes que foi dono do famoso quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral, durante quase 20 anos, e tinha como hobby garimpar obras de artistas que participaram das famosas expedições que vinham da Europa ao Brasil durante o século XIX. “Ele visitava feiras como a do Bixiga e do MASP, sebos e comerciantes de arte à procura dos trabalhos dos artistas que acompanhavam essas viagens. Tinha uma coleção riquíssima e, como era um estudioso, anotava tudo cuidadosamente em fichas, com o nome artista, ano, expedição e referências bibliográficas.” Erico chegou a publicar um dicionário chamado Uma Pequena Biblioteca Particular, pela Edusp.

Leia a revista FortunA aqui.


No Espaço Fundação Stickel, com Fernando Hormain da Angatu.

é isso, por fernando stickel [ 9:09 ]

estevão kiss

Estevão Kiss, o primeiro à esquerda é avô da minha amiga Sonia Kiss, ao lado dele o meu avô Ernesto Diederichsen. O prédio ao fundo é a creche da Argos Industrial SA em Jundiaí SP.

A maior indústria de Jundiaí SP até por volta de 1930 era a tecelagem Argos Industrial, produtora de tecidos de algodão e lã, fundada em 1913 pelos imigrantes italianos Aleardo Borin e Luiz Trevisioli, com o nome de Sociedade Industrial Jundiaiense, mas cujo controle foi adquirido, logo depois, por Ernesto Diederichsen, que era o gerente no Brasil da multinacional teuto-santista Theodor Wille & Cia.

Localizada na Avenida Dr. Cavalcanti, a Argos Industrial foi administrada pelo engenheiro têxtil húngaro Estevão Kiss de 1930 a 1947. Contando com vendedores em todo Brasil, a Argos conquistou o mercado têxtil ano após ano. Produzia gabardines de primeira linha e o famoso verde-oliva para vestir o Exército.

O maior destaque da empresa era o avanço em benefícios sociais e respeito aos seus funcionários. Além da associação de empregados, a empresa mantinha uma cooperativa, loja, grupo escolar, creche, escola de fiação e tecelagem, curso pré-vocacional para os filhos dos funcionários, refeitório, cinema, parque infantil, capela e uma pequena biblioteca.

As obras da creche, a primeira do município, foram iniciadas em 1943, por iniciativa de Estevão Kiss, e concluídas no dia 17 de novembro de 1945. Inicialmente, atendia 40 crianças em período integral, que recebiam café da manhã, instruções primárias, moral, cívica e religiosa, assistência médica e dentária, e ainda brincavam sob a orientação das professoras.

Além de suas instalações, a creche contava com uma capela. Com pé direito de cerca de nove metros de altura, é dedicada a Stephanus (Santo Estevão). O altar possui mármore carrara com detalhes coloridos. Na parte superior das paredes, há afrescos datados de 1945 e restaurados em julho de 1959 por Amadeu Accioly, e o piso é do tipo hidráulico pintado artesanalmente.

No início da década de 80, a empresa sofreu crises internas e acabou falindo em 1984. Com a falência, a Argos fechou as portas e demitiu os funcionários, pondo fim num império industrial que marcou seus anos de glória. A creche também sofreu o abandono após a falência. O tempo passou e a Argos se transformou em ruínas.

No entanto, em 1989 a Administração Municipal, ainda na gestão do prefeito Walmor Barbosa Martins, comprou o prédio com verba destinada à educação. Nesse mesmo período, foi decretado o tombamento provisório do imóvel pelo Condephaat. Hoje, o local abriga o Complexo Argos, e a creche passou a ser gerida pela Prefeitura.


Maquete preparada pelo Centro Internacional de Estudos, Memórias e Pesquisas da Infância de Jundiaí SP.

é isso, por fernando stickel [ 13:05 ]

o dia em que meu pai flutuou


Erico Stickel na noite de autógrafos de seu livro “Uma Pequena Biblioteca Particular – Subsídios para o Estudo da Iconografia no Brasil”, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional em 29 de março de 2004.


O livro.

Meu pai, Erico João Siriuba Stickel, foi antes de tudo um bibliófilo, um amante da cultura e dos livros ou, como ele mesmo gostava de se referir, um “bicho de livro”. Ele era daquelas pessoas que invariavelmente eram duas, ele e o livro que carregava.
Me lembro, quando era pequeno, de acompanhá-lo no combate às pragas que ameaçavam sua biblioteca. Com um canivete, ele alargava os túneis que atravessavam páginas, capítulos, séculos, sem respeitar margens, parágrafos ou pontuação, e extraía das profundezas dos volumes as criaturas que insistiam em arruinar o seu tesouro.
Nossa casa, na Rua dos Franceses, em São Paulo, era tomada por estantes de livros na sala, no escritório, nos corredores, no porão, onde houvesse um espaço livre. Em lugar de destaque, ficava a Brockhaus Enzyklopädie, que durante décadas fez o papel de Google ao lado da Encyclopedia Britannica, de dicionários diversos e de muitos outros livros de referência e de arte. A história era a mesma em seu escritório. Sede da Fundação Stickel, a casinha de vila na Rua Bela Cintra era também abarrotada de livros e arquivos.


A casa inteira tomada pelos livros…

Através dos anos, sua biblioteca foi se especializando em autores e estudiosos da iconografia brasileira, dando corpo ao que se transformaria em sua única obra, Uma Pequena Biblioteca Particular – Subsídios para o Estudo da Iconografia no Brasil. Publicado pela Edusp, em 2004, o livro levou por volta de 30 anos para ser concluído e minha mãe, Martha, pode-se dizer, é coautora, ao menos na permanente companhia na obsessiva leitura e compilação de fichas, referências, notas etc. em um quarto no piso superior da casa onde morávamos na Rua dos Franceses, com janelas abertas para o jardim e o vale da Rua Almirante Marques Leão.
A intenção de meu pai era escrever um dicionário bibliográfico da iconografia brasileira, à semelhança de autores como Rubens Borba de Morais ou Rosemarie Horch, mas baseado em sua própria biblioteca.
No início era apenas o fichamento dos livros e publicações que ele achava interessantes. As fichas em cartolina eram preenchidas à mão com caneta tinteiro e com o tempo foram crescendo em número e complexidade.
As coisas começaram a mudar de figura em 1995, ano iniciado com o nascimento do meu caçula Arthur. Paralelamente ao trabalho como professor de desenho, me dividia entre a edição de meu livro aqui tem coisa, com a colaboração de meu pai, e a gestão de seu patrimônio. Com a parceria diária, consegui convencê-lo a iniciar a sistematização do vasto material de sua pesquisa, o que seria feito com a compra de um computador e a contratação da pesquisadora Francis Melvin Lee.


Francis com minha mãe, e o local de trabalho.

Foram muitos anos de uma minuciosa e cuidadosa rotina, da digitação do material manuscrito às revisões e catalogação final. Francis se dedicou também a organizar e catalogar em pastas um tesouro secreto de meu pai, escondido de todos em várias mapotecas. Eram obras em papel, aquarelas, desenhos e gravuras relacionadas à paisagem, à gente e aos costumes brasileiros, retratados por viajantes estrangeiros, ao final incorporados ao projeto.
Em 2002, tendo praticamente concluído sua pesquisa, meu pai, com a solidariedade de minha mãe, doou ao Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo os cerca de quatro mil volumes de sua “Pequena Biblioteca Particular”. Incorporada ao acervo do IEB como a “Biblioteca Martha e Erico Stickel”, ele a definiria – em texto introdutório à edição que viria pela frente – como uma coleção desenvolvida “em torno da representação artística que tivesse basicamente por alvo a paisagem, a cidade e sua arquitetura, o retrato, a fauna e a flora em seu ambiente natural, as festas populares e sacras, o patrimônio artístico e histórico nacional, imagens produzidas ao longo dos tempos por centenas de ‘viajantes’ e pintores de todos os tipos, aventureiros, fotógrafos e outros […]”.
Como resultado, Uma Pequena Biblioteca Particular se tornou um livro de peso, com cerca de 750 páginas e inúmeras reproduções a cores de Romulo Fialdini. Sem dúvida uma importante obra de referência para os estudiosos do assunto, gosto de folheá-lo também como um tributo a um desses dedicados autores bissextos, com o trabalho de uma vida indispensável à compreensão do mundo como o conhecemos – meu pai.
O amigo Emanoel Araújo assim o definiria em prefácio ao volume: “Erico Stickel poderia ser um colecionador frio, desses que costumam entesourar maravilhas que amealham durante toda uma vida só para sua satisfação pessoal. O resultado de suas visitas a exposições, livrarias e eventos culturais poderia permanecer como atividade privada e anônima como talvez se esperasse de um espartano como ele, pesquisador silencioso e sequioso de seu tempo. Entretanto, seguramente Erico Stickel desde muito cedo alimentou de maneira quase religiosa esta ideia que ora se materializa em forma de livro. Dar a público o resultado de suas constantes e laboriosas incursões pela cultura de nosso país”.

No início de 2003, com 82 anos de idade, meu pai passou a reclamar com frequência de um pigarro que o incomodava já havia algum tempo. Após visitas a diversos médicos e muitos exames depois, ele foi diagnosticado com um câncer no pâncreas. A notícia devastou a família, pois era de conhecimento comum que este diagnóstico equivalia a uma sentença de morte. Na sequência, os médicos decidiram que era necessária uma cirurgia exploratória.


Em recuperação após a cirurgia, com minha mãe e minha irmã Ana Maria.

Internado no Hospital Alemão Osvaldo Cruz no início de março, a cirurgia evidenciou que um tumor pressionava o esôfago, daí o pigarro. A equipe decidiu não tocá-lo pelo risco de provocar uma hemorragia e/ou metástase, optando por intervenções no entorno para aliviar o stress no esôfago.


A comemoração do aniversário de 83 anos.

Após a recuperação no hospital, meu pai voltou para casa a tempo de comemorar em 3 de abril, e muito bem disposto, o seu 83º aniversário. Veio então a quimioterapia, que no início provocou reações muito agressivas, mas tornou-se suportável após ajustes na dosagem da medicação.

Pouco a pouco, a vida foi voltando ao normal. Tão normal quanto possível para alguém que recebeu uma sentença de morte. Ocorre que meu pai era um ser agnóstico e sempre se comportou como tal, as questões espirituais não faziam parte de seu universo. Conhecendo este seu lado, aproveitei um dia em que fomos passear no Parque Trianon, um dos locais onde ele gostava de caminhar, e pragmaticamente desferi a pergunta:
– Então, pai, o que você quer fazer, quais são as tuas prioridades?
E ele, sem titubear: – Quero fazer o livro.
– Ok, pai, vamos fazer o livro!
De volta ao seu escritório, na Rua dos Franceses, conversei com a Francis, sua fiel auxiliar, e pedi a ela uma impressão do volume em edição. Levei a grossa encadernação ao professor Plinio Martins Filho, da Editora da Universidade de São Paulo, e contei a ele a história.
– Mas já está pronto? – ele perguntou, impressionado.
– Sim, Plinio, está pronto! Falta apenas revisão e a edição de arte.
– Vamos fazer!
E assim a obra de uma vida inteira entrou rapidamente na reta final, com meu pai animadíssimo com o interesse da Edusp em seu livro.

Mais ou menos nesta época, fui a uma palestra de Aldaiza Sposati, então secretária de Assistência Social da Prefeita Marta Suplicy, e lá conheci Agnes Ezabella. Foi ela quem me alertou que o novo Código Civil passou a permitir a penalização de fundações que não cumprissem sua missão, exatamente o caso da Fundação Stickel, instituída pelos meus pais em 1954 e paralisada havia 30 anos.
Levei a questão a um almoço de família, com a presença de meus pais e meus irmãos, fiz a explanação do caso e perguntei o que cada um gostaria de fazer a respeito. Meu pai disse que estava no fim da vida e não tinha mais interesse no assunto. Quando minha mãe e meus irmãos também não se interessaram, eu então, tomado por desconhecida coragem, declarei:
– Eu cuidarei da Fundação, contanto que ela tenha como missão a arte e a cultura!
Todos concordaram. E assim se iniciou a nova fase da Fundação Stickel, sob o meu comando.

Terminada a primeira bateria da quimioterapia, como meu pai se sentisse muito bem, planos de viagem foram feitos, pois viajar era uma de suas grandes paixões. Em um primeiro ensaio para ver se aguentaria ir para a Europa, ele e minha mãe foram a Buenos Aires em julho daquele mesmo ano. Aprovado no teste, em outubro viajaram para a Espanha, onde visitaram minha filha Fernanda, que estudava em Barcelona, e para a Itália, a Roma e Positano.


Ana Maria, Joana, Erico, Martha, Antonio no Txai.


Itacaré, BA

Para comemorar o Réveillon de 2004, meu pai convidou toda a família para o Txai Resort, em Itacaré na Bahia. De volta a São Paulo, ele e minha mãe comemoraram, em 6 de janeiro, seu aniversário de 57 anos de casamento. Uma verdadeira bênção!


Noite de autógrafos! O coroamento de 30 anos de trabalho!

Um ano depois da cirurgia, aconteceria o grande dia. Na segunda-feira, 29 de março de 2004, às 19h, iniciou-se a noite de autógrafos de Uma Pequena Biblioteca Particular – Subsídios para o Estudo da Iconografia no Brasil, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Posso dizer com certeza que foi a ocasião em que vi meu pai mais alegre, realizado, feliz, sorridente, na companhia da família, de dezenas de amigos, seus colegas bibliófilos e “bichos de livro” em geral.

Ele flutuava sobre o solo!

A vida seguiu seu rumo. Em maio, meu pai me presenteou com o lindo Patek Phillippe de bolso, de ouro, que foi do meu avô Arthur Stickel. Pouco depois, ele e minha mãe embarcaram para a Europa, desta vez para Praga, na República Checa, de onde seguiram de navio a Berlim, na Alemanha, e finalmente a Paris, na França.


Em Campos do Jordão, na mesa Sandra, minha mãe, Antonio e Joaninha.


As leituras e o jogo de xadrez.

Em julho, na casa de Campos do Jordão, jogou xadrez com meu filho Arthur. Em setembro, depois de cerca de 30 sessões, a quimioterapia foi suspensa. No início de outubro, os médicos liberaram meu pai para mais uma viagem.
No dia 13 daquele mês, o novo Estatuto da Fundação Stickel foi assinado, oficializando a minha gestão. Em seguida, ele e minha mãe embarcaram para mais uma viagem, outra vez à Itália, rumo a Veneza, Positano e Roma. Mas não seria uma viagem como as outras.
Acometido de fortes dores em Roma, meu pai consultou o médico do hotel. Ao saber de seu histórico, recomendou Buscopan e a volta imediata ao Brasil. A viagem, graças ao poderoso analgésico transcorreu em paz, já em casa em São Paulo meus pais jantaram e assistiram a um filme de Charlie Chaplin. Na manhã seguinte, dia 4 de novembro, meu pai não acordou bem, ao chegar na casa encontrei-o dobrado com dores e levei-o imediatamente ao Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

No dia 7 de novembro, ao levar meu filho Arthur, então com 9 anos de idade, para visitar o avô no hospital, travamos a seguinte conversa no carro:
– Papi, o que é que o vovô tem?
– Um tumor no pâncreas.
– O que é pâncreas?
– É um órgão que fica mais ou menos embaixo do estômago, no começo do intestino.
– Ele pode morrer disso?
– Pode, mas ninguém sabe quando – fez-se um longo silêncio.
– Papi – disse ele, chorando. – Estou muito triste que o vovô vai morrer.
– Não chora, Arthur. Estamos todos tristes, mas a gente tem que ser forte e chegar lá legal para dar um beijo no vovô, dar uma força para a vovó. Estamos torcendo para ele sair do hospital logo.
– É, mas eu estou muito triste ¬– ele continuou chorando.
– Arthur… – disse ao chegar no hospital, também quase chorando. – Deixa eu te explicar uma coisa. O vovô não consegue comer pela boca, então eles colocaram uma sonda nele – expliquei o que era a sonda – para ele poder se alimentar e ficar mais forte.
– Mas ele sente o gosto?
– Não, a comida, que é uma papinha líquida, vai direto para o intestino.
– Mas ele não fica com fome?
– Não, e também não sente dor nenhuma porque os médicos estão tratando muito bem dele.
Chegando ao quarto, meu pai dormia de boca aberta na cadeira. Arthur cumprimentou a tia e recomeçou a chorar. Deitado no colo da avó, conversaram um pouco até que ele se acalmasse. Passado um tempo, o avô acordou. Arthur deu um beijo no avô. Conversaram. Assistimos todos a um programa sobre tubarões no canal National Geographic.
Na saída, Arthur já não chorava mais:
– Papi, eu quero vir visitar o vovô todos os dias.

Em 12 dias de internação, os médicos controlaram a obstrução intestinal e estabilizaram meu pai. Explicando que a doença chegara ao estágio terminal, pediram à família uma decisão sobre como prosseguir. Ele escolheu ficar em casa enquanto as condições fossem favoráveis, concordando que, se as coisas se complicassem, seria sedado e voltaria ao hospital. No dia 15 de novembro ele voltou para casa.
Um mês depois, na quinta-feira, 16 de dezembro, a família estava reunida ao final da tarde ao lado do meu pai, que sofria muito, com dificuldade de se alimentar e mesmo de beber água. Mesmo sem muita clareza, ele nos comunicou que não aguentava mais e queria ser sedado, para minha mãe ele confidenciou:
– Eu quero atravessar o rio, quero ir para a outra margem.
Por volta das 22h, tendo ao seu lado minha mãe, meu irmão Neco, meu filho Antonio e eu, meu pai colocou os sedativos na palma da mão e olhou-os longamente, em silêncio. Em seguida, ainda em silêncio, tomou os remédios. Na manhã seguinte, 17 de dezembro, a ambulância o levou de volta, já inconsciente, para o Hospital Alemão Osvaldo Cruz.
Na noite de 23 de dezembro, minha prima Bel Cesar foi visitá-lo acompanhada do filho, o Lama Michel Rinpoche. Com 12 anos de idade, Michel deixou a família e foi estudar budismo tibetano na Índia, se transformando em monge aos 23 anos de idade. A visita foi muito boa, calma. Lama Michel fez uma longa oração pedindo a abertura de caminhos para a alma do meu pai se elevar e atravessar mais tranquilamente o “bardo” – a fronteira entre a vida e a morte, descrita com minúcias no budismo.
No dia 25, a família toda se reuniu no hospital. Meu pai, totalmente sedado, precisou ser movimentado na cama e eu ajudei o enfermeiro. Foi quando vi as escaras… Muito triste.
Me impressionou também o quanto ele ainda era um homem grande, apesar da magreza. Ao final da tarde, exausto, me despedi de todos e fui para casa. Por volta das 21h, o telefone tocou. Meu pai tinha acabado de falecer no dia de Natal de 2004.
E flutuou pela última vez.

Revisão do texto: Tato Coutinho

é isso, por fernando stickel [ 16:45 ]

erico feliz


As fotos são da Tati Nolla

A nova versão do IPhoto da Apple, que instalei ontem traz um recurso interessante, o “Faces” (Rostos) que identifica e cria pastas com os rostos de pessoas, você só precisa colocar o nome.
Foi assim que encontrei no meu atual arquivo de mais de 16.000 fotos, a do meu pai Erico João Siriuba Stickel no dia mais feliz de sua vida, aos 84 anos de idade.
Foi no lançamento de seu livro: Uma Pequena Biblioteca Particular / Subsídios para o estudo da iconografia no Brasil na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na segunda-feira 29/3/2004, nove meses antes de falecer.
Pequeno detalhe, a pesquisa e todo o trabalho para chegar ao livro levou mais de trinta anos!

é isso, por fernando stickel [ 8:39 ]

coleção iconográfica

Deu na Veja:

Segredos do Brasil
Moreira Salles compra acervo com 1.500 imagens raras do país dos séculos XVI ao XIX.

bras21.jpg
Foto: Roberto Setton

bras31.jpg
Foto: Fernando Stickel

UM HOMEM DISCRETO
Erico Stickel, morto em 2004, foi dono do Abaporu. Era um grande colecionador, mas nem seus filhos sabiam do tesouro que ele reuniu.
O colecionador de arte Erico Stickel, falecido em 2004, era um homem reservado. Saía pouco de casa, não freqüentava vernissages e só exibia as preciosidades de sua coleção a amigos raros. Durante duas décadas, manteve em uma das paredes de sua residência, em São Paulo, o quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral, hoje avaliado em 10 milhões de dólares e tido como a estrela do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires – MALBA.
Ao longo da vida, Stickel reuniu em casa 1 500 obras de arte, principalmente desenhos, aquarelas e gravuras, que retratam o Brasil desde o século XVI, em cartografia, até o século XIX, em registros do cotidiano. Todo esse acervo ficava num único quarto, isolado até da própria família. Apenas uma pequena parte, mais precisamente 10% dela, foi divulgada no livro Uma Pequena Biblioteca Particular (Imprensa Oficial/Edusp), que o colecionador publicou em 2004.
Ele nem sequer fazia seguro das obras. Por isso, foi uma surpresa para os filhos quando, após sua morte, surgiu uma coleção variada e poderosa, com trabalhos de autores famosos como Johann Moritz Rugendas, Henry Chamberlain e o botânico alemão Carl Friedrich von Martius. É esse material que a família acaba de vender ao Instituto Moreira Salles, a um preço que não é revelado por nenhuma das partes, mas que o mercado estima ser próximo de 1,5 milhão de dólares.
Embora o acervo conte com nomes de peso, nas pesquisas em feiras e leilões de arte Stickel não buscava apenas assinaturas. Valorizava trabalhos que registrassem aspectos da vida brasileira, independentemente do autor. O resultado é um conjunto diversificado e original. A visão que se tem hoje do Brasil no século XIX, antes da invenção da fotografia, é bastante influenciada pelo olhar de franceses, como Jean-Baptiste Debret e Nicolas-Antoine Taunay, cujos trabalhos são mais conhecidos do grande público. Na coleção de Stickel, há também obras de ingleses, italianos, alemães, portugueses, belgas, holandeses, austríacos, irlandeses e russos. A variedade se dá também no espaço. Além do Rio de Janeiro, a capital mais pintada e posteriormente mais fotografada do país, há imagens de Recife, Salvador, Florianópolis, Porto Seguro, Ouro Preto, Mariana, Sorocaba e do interior de Goiás. “Erico Stickel tinha uma capacidade ímpar de prospecção de obras. Não cultuava os valores do mercado, era um intelectual e sabia discernir algo que fosse de fato relevante sob o ponto de vista histórico e cultural. Daí sua importância”, diz a pesquisadora Ana Maria Belluzzo, autora do livro O Brasil dos Viajantes (Editora Objetiva).

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Foto: Roberto Setton

TRÊS MOMENTOS
Paisagem de Ouro Preto, pelo botânico alemão Von Martius em sua expedição pelo interior do Brasil, em 1817; cena da Guerra do Paraguai, feita pelo italiano Edoardo de Martino no campo de batalha; e o mapa de 1552, a peça mais antiga da coleção, com a América do Sul habitada por canibais: preciosidades garimpadas por Stickel ao longo de quatro décadas
A peça mais antiga do acervo é um curioso mapa feito pelo cartógrafo alemão Sebastian Münster, que mostra a América do Sul povoada por canibais. É datado de 1552, ou seja, pertence a um período de escassa iconografia, que se estende pelos 300 anos seguintes, mas do qual o colecionador conseguiu registros importantes – por exemplo, uma gravura de 1668 com navios holandeses no litoral de Recife, feita a partir de desenho de Frans Post. A coleção traz também obras produzidas por pessoas que foram testemunhas privilegiadas da história, como o italiano Edoardo de Martino, que presenciou a Guerra do Paraguai a bordo de um navio brasileiro. Ele deixou como legado diversos registros de batalha – uma espécie de fotojornalismo a lápis – cujos esboços originais são preciosos. Outro tesouro de Stickel são 78 desenhos originais feitos por Von Martius, que percorreu o interior do Brasil entre 1817 e 1820, viajando de barco e em lombo de burro. Ele catalogou 22 700 espécies de planta, publicadas na monumental obra Flora Brasiliensis, e também retratou algumas cidades que encontrou pelo caminho. O livro é ilustrado com litografias feitas por artistas europeus a partir de desenhos originais como os obtidos por Stickel, que são o registro feito pelo próprio Von Martius e acabam sendo mais vivos e ricos em detalhes do que as imagens publicadas no livro.
O caráter instantâneo destaca-se na coleção de Stickel, de uma forma geral. Boa parte das obras são desenhos e aquarelas produzidas em campo. Nesse sentido, o conjunto complementa e se afina com o acervo de fotografias do Instituto Moreira Salles, que tem a coleção de Marc Ferrez, composta de 6 000 imagens.
“Os desenhos e pinturas mostram o Brasil até o século XIX. As fotos dão continuidade a esse registro daí em diante”, diz o superintendente executivo do instituto, Antonio Fernando De Franceschi. A imagem principal que ilustra esta reportagem mostra justamente a confluência desses dois formatos. Trata-se de uma litografia colorida com aquarela e lápis de cor, feita a partir de uma imagem do Rio de Janeiro captada por daguerreótipo, provavelmente na metade do século XIX. O autor é o francês Eugène Cicéri, considerado um dos maiores litógrafos do período. Na época, embora já existisse a fotografia, sua transposição para o papel continuava sendo feita em gravura, que permitia a reprodução em tamanho maior e podia ser colorida a mão. É um trabalho que sintetiza o valor dessa coleção impressionante e reveladora de aspectos pouco conhecidos da paisagem, da história e da vida cotidiana do Brasil.
:: Marcelo Bortoloti – Revista Veja

é isso, por fernando stickel [ 19:47 ]

fotos do lançamento

Chegaram as fotos do lançamento do livro ‘Uma pequena biblioteca particular” do meu pai Erico Stickel na Livraria Cultura. A fotógrafa é a Tati Nolla.
Olha só a felicidade dele, merece cada milímetro, e no sábado completa 84 anos!!!

é isso, por fernando stickel [ 20:47 ]

amantes das artes

Não de esqueçam, amantes das artes, dos desenhos, aquarelas, e gravuras executadas pelos viajantes estrangeiros do século passado (minto, retrasado) em visita à nossa terrinha que retrataram a fauna, flora, o povo e a paisagem do Brasil.
É amanhã!!
Meu pai, Erico Stickel, na véspera de completar 84 anos lança seu livro:
Uma pequena biblioteca particular / Subsídios para o estudo da iconografia no Brasil – Editora Edusp
Livraria Cultura do Conjunto Nacional, segunda-feira 29/3, 19h00 às 22h00.

é isso, por fernando stickel [ 0:46 ]

flavio motta e guto lacaz


Guto Lacaz e o Prof. Flavio Motta, na casa deste na R. Bartira em São Paulo.


Em 2004 Takashi Fukushima e Guto Lacaz foram visitar o Prof. Flavio Motta em sua residência, Guto escreveu o relato da experiência:

Visita ao Prof. Flavio Motta

O Prof. Flavio Motta e a Coca Cola – Encontro com o Prof. Flavio Motta – sexta feira dia 9 de abril de 2004 das 16 às 19h

Há muito ouvia falar do Prof. Flavio Motta, de sua sabedoria, do encanto que exercia sobre seus alunos e da forma pessoal como abordava os assuntos e citava fontes. Primeiro, foi na década de 70, durante a Faculdade de Arquitetura de São José dos Campos através de meu colega Fernando Zanforlin, amigo de Marcelo Nitsche que convivia com o prof. naquela época. Depois, na década de 80, através de Rafic Jorge Farah, ex aluno do prof. na FAU USP. Farah me narrou uma emblemática passagem com o mestre. Estava ele parado na rampa da FAU, obeservando grande manifestação no salão caramelo em oposião à ditadura militar vigente no país. O prof. passa e para ao lado dele, observa a cena e diz: Farah…a maior subversão é ser. Em seguida continua sua caminhada. (isso é com o Farah. Não me lembro. Mas convenhamos é uma tirada aceitável:vide Hamlet)
Na década de 90 quem narrou seus encontros com o prof. foi o colega Marcelo Cipis. Soube também de uma passagem ocorrida na casa de Lina e Pietro Maria Bardi no Morumbi. O casal recebia o artista Saul Steinberg em visita ao Brasil. Com a chuva, os vidros da casa embaçaram e se transformaram em efêmero suporte para Saul Steinberg realisar um desenho com o dedo indicador, a figura de uma mulher nua, junto a uma coluna grega. Devido ao calor da lareira, na “casa de Vidro”, o desenho começou a escorrer. Verteu-se em lágrimas. Foi a maior tristeza daquela noite inesquecível. Choramos de rir.
Agora, uma garrafa de Coca Cola realiza o antigo sonho de conhecer o prof. …o filho de Takashi Fukushima me convida para a festa surpresa que organizava para o aniversário de seu pai. Durante a festa Takashi me mostrou uma garrafa de Coca Cola que havia ganho,vinda do Egito . Me falou de sua admiração pelo produto e de sua coleção de garrafas e latas. Logo me lembrei de uma garrafa que possuia que tinha recebido para fazer um stand que nunca saiu do papel. Era uma edição especial em plástico prateado. Antes de dizer que possuia tal raridade e que iria presente-á-lo, tomei o cuidado de localizá-la. Uma vez encontrada liguei para o Takashi e deixei recado dizendo que a garrafa era dele. Dias depois ele me ligou agradecendo e dizendo ter vindo do atelier de Luis Paulo Baravelli onde realizou entrevista para sua tese sobre o ensino de desenho. Me disse também que havia agendado a proxima entrevista com o Prof. Flavio Motta. Logo me adiantei dizendo que queria aproveitar a oportunidade para conhecê-lo. Takashi gentilmente aceitou minha intromissão e comunicou ao prof. minha presença no encontro. Disse o prof. que eu era benvindo e que conhecia meu pai. O prof. ainda não havia chegado do almoço e quem nos recebe é sua filha Guli que conhecia de passagens pela Pinacoteca e pelo MAC. Começamos a observar as muitas pinturas, desenhos e objetos na casa neo colonial na rua Bartira próxima a PUC,onde mora. Logo chega o prof. e sorrindo nos cumprimenta.
Carrega uma pequena sacola feita com um pedaço de manga de camisa onde leva seus remédios e utensílios para sua higiene pessoal e se queixa do desconforto pós operatório. Takashi o presenteia com o belo livro que fez por ocasião da exposição de seu pai Tikashi Fukushima na Pinacoteca em 2001. Flavio Motta o pega com carinho e nos sentamos para que ele o observe. O prof. começa a olhá-lo do final para o começo onde estão reproduzidas as fotografias de eventos artísticos. Com rapidez FM vai identificando…Tomie Othake, Walter Zanini, Renina Katz, Takaoka e outros contemporaneos. Admira outras reproduções e mesmo nas pinturas abstratas consegue ver montes, neve e água corrente típicos da pisagem japonesa. Takashi pergunta sobre uma xerox colorida sendo montada em partes sobre a mesa. Ele nos diz que é uma colagem com retalhos de costura que pegou de uma de suas filhas. Takashi lhe fala de um certo retrato e ele lembra Quentin Metsys dizendo ter feito o melhor retrato de Erasmo de Roterdam. Diz que Erasmo ao saber de tal afirmação replicou dizendo que seu melhor retrato eram seus textos! – (Mas não podemos descartar a possibilidade de estar reproduzido, no “Elogio da loucura”, uma edição com o retrato feito por Holbein.)
Pergunta então o que quer o Takashi. Takashi lhe fala da tese que está fazendo sobre o ensino de desenho e que está entrevistando antigos mestres para uma reavaliação de suas aulas e de seus métodos. Flavio Motta diz que a questão é oportuna e cita o pequeno livro Pincelada Unica de Shitao que sestá lendo no momento. Traz uma cópia presenteada pelo colega Feres Khoury. Lê pausadamente uma página onde diz que o pincel é Yin e a tinta Yang.. Juntos, quando desenham colocam ordem no caos. (vide também pg. 414 do YIN-YANG – CHEVALIER, Jean:GHEERBRANT, Alain,Dictionnaire DES SYMBOLES.Paris.SEGNERS,1974. – VON FRANZ, Marie-Louise, TIME. Rhythmand Repose, Thames and Hudson London 1972.P YANG (masculine):Tempo YIN(feminine):Espaço)
Falou da concentração e da atenção necessarias para desenhar e dos muitos movimentos que o corpo, o braço e a mão podem fazer para descrever trajetórias no papel ou no espaço. Falou que o mestre pede ao discípulo para traçar uma linha entre dois pontos. Feita a linha o mestre diz ao discípulo que ele não havia vivido a linha, que ela carecia de expressão. Falamos da palavra desenho, sua origem designio, dar nome, designar ou destino, direção, desejo. Design, draw e draft. Lê um trecho de Saramago – “A Caverna” pg. 84 – toda a arqueologia de materiais é uma arqueologia humana.O que este barro esconde e mostra é o trânsito do ser no tempo e sua passagem pelos espaços. Os sinais dos dedos, as raspaduras das unhas, as cinzas e os tições das fogueiras apagadas, os caminhos que eternamente se bifurcam e são distanciados e se perdem uns dos outros. Este grão que aflora à superfície é uma memória, esta depressão a marca que ficou de um corpo feito. O cérebro perguntou e pediu, a mão respondeu e fez. Leu citação de Goethe no livro “Esboço para um Auto Retrato” de Bernard Berenson. Onde fala da diferença entre desejo e vontade. Falou de que hoje já se pode realizar o sonho dos alquimistas de transformar mercurio em ouro.(vide Plank) Falou do conceito metafórico de alquimia onde, pode se transformar, pelo pensamento, a qualidade das escolhas. Diz que quimica quer dizer suco, em Grego. Da sala fomos para a salinha.
Ali ele tinha seu lugar predileto, encostado a parede repleta de pinturas. Disse que se o achássemos feio poderiamos olhar os quadros. Falou da aula de física onde seu prof.mostrava um raio de luz atravessar um celofane e este o fazia mudar de cor. Mais um celofane, uma nova cor. Pediu para que o lembrasse de falar sobre a torção no raio de luz. Repentinamente nos sugeriu desenho de uma estrela de 7 pontas. Ficamos estudando sua construção, divisão da circunferência, movimentos, trajetórias, angulos, formas ocultas e outras estrelas – 4 pontas, 5 pontas, 6 pontas. Com sua lapiseira nos mostrou a construção, o peixe e o vaso nela ocultos. (Anexar copia da folha). Desenhamos outras possibilidades de alfabetos e falamos no código binário. Nos contou de um congresso de comunicação na Itália onde representou o Brasil. Nos contou dos livros de Bruno Munari que apresentam a laranja como se fosse um produto desenhado por designers e do filme que apresentou no congresso onde um atleta dá um salto mortal filmado em hiper camera lenta acompanhado de trilha sonora (som puro) e quase enervante. Disse que nesse congresso só os europeus falavam e que a comissão brasileira resolveu se pronunciar. Neste congresso, Humberto Eco, Abraham Moles, Argan, entre outros… F.M. então se apresentou para fazer um pronunciamento sobre comunicação e informação. Disse que comunicação é a ponte entre dois extremos, inclusive fisiológicos, o que arrancou sorrisos na platéia. (vide “Lógica da Vida” – François Jacob) Apresentando ou comentando um assunto acolhedor em seguida a outro, nos falou do livro de Saramago que conta a história de uma tradicional família de poteiros portugueses acostumados a uma rotina secular de produzir e vender potes. Até que um dia a loja recusa novas encomendas pois haviam chegado os novos potes de plástico. O poteiro tem então que decidir por outro produto para manter o negócio. Decide produzir figuras, bonecos… Nos conta que no estacionamento no bairro soube de um pintor que escreveu LAVA-SE CARRO. Comparou a dificuldade e determinação ao tempo levado para “dar o salto mortal” no filme de Bruno Munari, reproduziu lentamente a possível trajetória do pincel acompanhado de um FIIIIII semelhante à trilha sonora original. O prof. ia ligando uma história em outra, uma citação em outra de forma poética e anárquica, elucidou.
Takashi lhe contou de uma biblioteca que visitou na China onde os livros eram laminas de pedra gravadas e que o frequentador podia imprimir o que desejasse. Disse que sua filha gostaria de escutar essa história e logo veio Paula que disse já ter conhecimento do fato pois Rubens Matuck havia contado. Com a presença de Paula o prof. procura o editor do livro Pincelada Única. Encontramos na ficha o nome de uma cidade XXXX que todos desconheciam.Logo pensamos tratar-se de uma ediçâo portuguesa. O prof. sai e logo volta trazendo um grande livro de capa vermelha e apontando nos diz; ….cidade portuguesa e também brasileira. Enquanto Takashi conversava com Paula o prof. me fez um sinal.Percebendo que eu não o havia acompanhado retornou e tocou meu braço para acompanhá-lo. Retirou um volume da biblioteca e me mostrou uma gravura de Durer onde ao fundo de uma cena aparecia um incomum sólido geométrico ( a pedra filosofal da “Melancolia”) Pediu-me que o identificasse mas não consegui. Era um sólido irregular. Ao nos despedirmos me abraçou dizendo: Guto você já é de casa. Nos acompanhou pelo jardim até o portão. Disse que gostamos muito da conversa. Ele disse: conversa sim…não gosto de bate papo!
Guto Lacaz posted by takashi fukushima @ 7:07 AM

é isso, por fernando stickel [ 12:14 ]