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o desenho e a escola brasil:

O DESENHO E A ESCOLA BRASIL:

O Espaço Fundação Stickel estreia sua nova exposição “O Desenho e a Escola Brasil:”, em cartaz a partir de 30 de julho. A mostra joga luz na história na Escola Brasil: (assim mesmo, com dois pontos integrados ao seu nome), projeto vanguardista de ensino da arte no país que se propunha como:

“… um centro de experimentação artística dedicado a desenvolver a capacidade criativa do indivíduo.” – conforme anunciava o catálogo da iniciativa, no ano de sua criação – 1970.

Na Escola Brasil:, a prática, a troca de experiências e a vivência no ateliê se sobrepunham às teorias acadêmicas.

De um lado, a mostra traz desenhos e pinturas de artistas ligados ao grupo:
Dudi Maia Rosa, Evandro Carlos Jardim, Fernando Stickel, Frederico Nasser, Luiz Paulo Baravelli, Maciej Babinski, Renata Cook e Wesley Duke Lee.

Do outro, se dedica a documentar os breves anos do projeto através de uma série de fotografias, registros dos bastidores das aulas entre 1970 e 1974, de autoria de Leila Ferraz e outros não identificados. Nelas, vemos os artistas, professores e alunos em ação, apresentando a dinâmica inovadora da Escola Brasil:.

Além do caráter artístico, a exposição tem o interesse histórico de apresentar os signos e estímulos pertinentes à década de 1970, bem como o legado deixado pelo projeto até os dias atuais.
Abertura: sábado, 30 de julho, a partir das 11h Espaço Fundação Stickel Rua Nova Cidade, 195, Vila Olímpia.Aberta ao público de forma gratuita.
Curso presencial DESENHO DE OBSERVAÇÃO

Paralelamente à exposição O DESENHO E A ESCOLA BRASIL:, o Espaço Fundação Stickel recebe o curso “Desenho de Observação”, ministrado por Fernando Stickel, retomando as aulas de desenho que comandou entre 1986 e 2006. Neste curso, Fernando resgata a técnica aprendida com Frederico Nasser em seu atelier, durante os anos de Escola Brasil:.
Teremos duas novas turmas, à tarde e à noite nas terças-feiras, de 16 de agosto a 27 de setembro. Haverá ainda uma visita ao atelier de Luiz Paulo Baravelli.

é isso, por fernando stickel [ 7:25 ]

de pessoas e suas influências


Frederico Nasser e eu, na festa de noivado com Maria Alice Kalil, 1970

Somos a soma de nós mesmos com tudo o mais e mais um pouco, tudo misturado. Adicione ao seu eu genético, à sua estrutura biológica original, os aprendizados e as circunstâncias, as encrencas e os lugares, os amores e as paixões, as amizades, as viagens, os livros que leu e naturalmente os muitos erros e os poucos acertos eventualmente cometidos e me terás. Vou tentar explicar. Ou não.
Deixemos que as minhas memórias falem por si, em sua lógica peculiar.

No colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo, um único professor me deixou saudades, pelo seu brilho, personalidade e integridade: Albrecht Tabor, professor de biologia e cientista maluco… A mesma coisa aconteceu no Colégio Santa Cruz com Flavio Di Giorgi, professor de português e um sábio em geral. Me preparando para o vestibular de arquitetura no Cursinho Universitário em 1968, tive mestres como o artista plástico Luis Paulo Baravelli, que me capturou imediatamente com sua simpatia e a fascinante habilidade de desenhar, e o cineasta Francisco Ramalho Jr., professor de física.
Na mesma época, um amigo me falou de um curso de desenho do professor Frederico Nasser, em uma casinha de vila na Rua da Consolação, estúdio emprestado por Augusto Livio Malzoni. Procurei o Frederico e iniciamos nossas aulas.

Preciso abrir aqui um parêntese. Frederico Nasser teve uma importância gigantesca na minha vida e na minha opção pelas artes plásticas. Foi uma presença instigante, fascinante, generosa, surpreendente, carismática – um poderoso magneto que despertava conhecimento, provocava sede de saber e, de quebra, irradiava uma atração que amalgamou muitas pessoas em um grupo de amigos e amantes das artes que de uma maneira ou de outra gravitaram em torno dele e da Escola Brasil:. Amigos como Augusto Livio Malzoni, Sophia Silva Telles, Dudi Maia Rosa, Baby Maia Rosa, Gilda Vogt, Norma Telles, Lucila Assumpção, José Carlos BOI Cezar Ferreira, Leila Ferraz, Wesley Duke Lee, Maciej Babinski, Megumi Yuasa e muitos outros que aparecerão aqui e ali, ao longo das próximas linhas. Fecho aqui o parêntese.

Os alunos desenhavam em uma espécie de pátio, sob uma pérgula. Neste local, Frederico me apresentou Marcel Duchamp, através da “bíblia” The Complete Works of Marcel Duchamp, escrita por Arturo Schwarz e publicada pela Thames and Hudson em 1969, e assim selou meu destino, me conectando irremediavelmente às artes. Lá encontrei também o meu primo Marcelo Villares e fiquei conhecendo dona Rene, mãe do Dudi. Não sei como eu encontrava tempo para tudo isso, cursando simultaneamente o terceiro colegial, hoje o último ano do ensino médio. Foram tempos muito ricos e intensos!
Um dia precisei fazer um desenho grande e não tinha um lugar adequado. Meu amigo Rubens Mario se propôs a ajudar e disse que eu poderia usar a prancheta de um amigo dele, o arquiteto Eduardo Longo. Rubens Mario me garantiu que não haveria problema, que o Eduardo era “gente fina” e lá fui eu em uma tarde desenhar no apartamento do arquiteto na rua Bela Cintra. Fiquei maravilhado com o pequeno apartamento todo reformado, com o teto em ângulos, um biombo de metal e a porta do banheiro pintada de amarelo parecendo um submarino. Achei o máximo. Logo depois conheci o Eduardo pessoalmente e nos tornamos amigos desde então.
Pouco depois, passei no vestibular da FAUUSP e fui com meu colega Edo Rocha para a Bahia comemorar. Na volta de Salvador, capotamos o meu Fusca 68 bordô perto de Jequié, mas esta é uma outra história.

Em 1969, Frederico Nasser mudou seu espaço de aulas para um sobrado no Itaim, na rua Pedroso Alvarenga. Vários colegas recém-ingressados na FAUUSP desenhavam lá também, como o Edo Rocha e Cassio Michalany, Plinio de Toledo Piza, Leslie M. Gattegno e Claudio Furtado. Enquanto desenhávamos nus femininos dentro de casa, Frederico, muito focado, pintava coisas esquisitas no pátio externo…
No segundo semestre daquele ano, Frederico organizou em um domingo de manhã uma visita de seus alunos ao estúdio do mestre Wesley Duke Lee em Santo Amaro. Entrar naquele estúdio era um privilégio, fiquei totalmente fascinado. Com sua cultura e charme inigualáveis, Wesley falou sobre muitas coisas, mas sobretudo de tecnologia e da recém-ocorrida chegada do homem à Lua, no dia 20 de julho. Inesquecível.


Nas setas vermelhas eu e Maria Alice Kalil em Cabo Frio

E veio então o réveillon de 1970 em Cabo Frio, na casa do tio Bubi e da tia Lila, promovido pelo João e a Marília Vogt. O espírito da coisa era “EU VOU!”. Ninguém perguntou se tinha lugar ou convite, o negócio era simplesmente ir! (Os anfitriões não gostaram muito… mas no final deu tudo certo). Foram dias fantásticos, mais de 30 amigos e parentes, a casa explodindo, a pequena piscina abarrotada de gente!! Minha memória acusa a presença, entre outros, dos anfitriões Bubi e Lila e dos coanfitriões João e Marilia, claro, e de Baravelli e Sakae, de Zé Resende e Sophia, de Carlos Fajardo e Renata, mais o Frederico, Dudi, Gilda, Ricardo Alves Lima, Monica Vogt, Maria Alice Kalil.

Em janeiro de 1970 Frederico Nasser, Dudi, Augusto Livio e eu dividimos um gigantesco quarto no Wellington Hotel da 7ª Avenida em Nova York para um mês de imersão no universo das artes, com direito a tropeçar em Diane Arbus no restaurante Automat Horn & Hardardt na Rua 57 e visita à inesquecível exposição “New York Painting and Sculpture: 1940-1970” no Metropolitan Museum of Art, inaugurando o seu Departamento de Arte Contemporânea sob curadoria de Henry Geldzahler.


A Escola Brasil: na Av. Rouxinol 51

Pouco depois, na sequência do estúdio na Rua Pedroso Alvarenga, Frederico e os amigos e colegas das artes plásticas Baravelli, Fajardo e Zé Resende criaram o Centro de Experimentação Artística Brasil, na Avenida Rouxinol, em Moema. Conhecida como Escola Brasil:, eu fui um de seus alunos no ano de abertura.


Futebol dos “pernetas”na R. dos Franceses. De costas, Baravelli.

Foi também em 1970, na quadra multiuso nos fundos da casa dos meus pais, na Rua dos Franceses, que eu e o grupo de amigos da Escola Brasil: inventamos um jogo de futebol. O mais engraçado é que, se bem me lembro, nenhum dos participantes tinha muita intimidade com o esporte bretão – sempre fui um perna de pau, isso posso garantir! Além de mim e do Neco, meu irmão, jogavam Frederico, José Carlos BOI, Cassio, Fajardo, Leslie e Baravelli. Fora os “jogadores”, também estavam lá a Sakae, mulher do Baravelli, e o filho deles, o Zé.


Capa do catálogo de Frederico Nasser para a exposição BFNR, com dedicatória. Eu estou na foto de costas, em primeiro plano.

Em agosto do mesmo ano, os incansáveis Frederico, Baravelli, Fajardo e Zé Resende realizaram a poderosa exposição BFNR 1970 no MAM Rio de Janeiro, que viria no mês seguinte para o MACUSP, no prédio da Bienal em São Paulo – eu apareço na capa do catálogo do Frederico, de quem fiz alguns retratos para esta mesma edição. Fui ao Rio para a inauguração da exposição e me hospedei “comme il faut” no apartamento da vovó Zaíra, de frente para o mar no Posto 6, em Copacabana. Foram dias deliciosos com direito a um jantar no clássico Antonio’s.

Visitar o estúdio/oficina do Baravelli na Escola Brasil: era o máximo, assim como seus estúdios particulares, sempre fascinantes, muito bem resolvidos arquitetonicamente, amplos, limpos, organizados. (O mesmo fascínio e curiosidade acontecia também no novo estúdio do Fajardo, em um porão da Rua Pamplona, onde ele também dava aulas.)
Havia de tudo nos estúdios do Baravelli, até um pote com unhas cortadas… Foram muitos os espaços ao longo dos anos:
– Avenida Miruna, de 1967 a 1971;
– Rua Padre João Manoel, esquina com a Oscar Freire, de 1971 a 1974;
– Rua Pedroso Alvarenga, de 1974 a 1979;
– Rua João Cachoeira, de 1980 a 1984;
– Granja Viana, 1984 até hoje.
Pelo menos duas galerias saíram das hábeis mãos do Baravelli – a Galeria São Paulo, da Regina Boni, na Rua Estados Unidos, e a Galeria Luisa Strina, aberta em seu segundo estúdio particular, citado na lista ali em cima.
Com acesso pela Rua Padre João Manoel, uma escada levava à galeria na sobreloja. Passando por um pequeno espaço administrativo, chegava-se a um paralelepípedo de paredes brancas com o chão de tacos de madeira onde, logo à esquerda, o “escritório” da Luisa Strina era nada mais que uma mesinha com telefone e algumas cadeiras confortáveis. Sentada em seu canto, com as unhas impecavelmente esmaltadas de vermelho, ela recebia os amigos e os clientes, colecionadores, xeretas e desocupados em geral que lá ficavam papeando e, naturalmente, comprando!
Lá encontrei inúmeras vezes o meu contraparente Pituca Roviralta, um dos primeiros compradores do meu trabalho.


Frederico Nasser, Dudi Maia Rosa, Carlos Fajardo e José Carlos BOI Cezar ferreira

Em 1971 casei com Maria Alice Kalil e convidei o Frederico Nasser para ser meu padrinho. Durante alguns anos, Frederico frequentou assiduamente nosso apartamento na Rua Hans Nobiling. Éramos amigos íntimos, ele aparecia com presentes, uma bebida, um desenho do Evandro Carlos Jardim. No apartamento de cima, sempre havia umas festas e acabamos descobrindo que lá morava o mafioso Tommaso Buscetta!!
O casamento com a Alice terminou, mudei para um apartamento na Rua Tucumã, 141, e comecei a namorar a Iris Di Ciommo por volta de 1974.

No enorme apartamento na Avenida Angélica, de frente para a Praça Buenos Aires, onde morava com os pais, dona Rene e Lamartine, Dudi montou um pequeno atelier de gravura. Foi lá que ele me apresentou à técnica e eu fiz a primeira e única gravura da minha carreira ¬– me lembro bem até do dia – em 10 de agosto de 1972. Obrigado, Dudera!
Neste mesmo ano, Dudi e Gilda se casaram em uma linda festa na casa do João e Marília em Osasco.

Um dos integrantes da turma da Escola Brasil:, Xico Leão era um doce de pessoa, simpático, reservado, atencioso e, além de tudo, um excelente pintor. Marina, sua filha, muito jovem e delicada, caiu nas graças do professor Frederico Nasser. Quando o namoro evoluiu para o casamento, Frederico me convidou para ser seu padrinho. Felizes com a deferência, na quarta-feira 8 de dezembro 1976 Iris e eu embarcamos na minha VW Variant amarela para estarmos pontualmente, às oito e meia da noite, na casa dos pais da noiva, Xico e Zizá, na Rua Bolívia.
O casamento se deu em altíssimo astral. Nos divertimos muito, fiquei bêbado, conversei com todo mundo, foi uma farra! Lá pelas tantas, encontrei dona Maria Cecilia, minha professora do Kindergarten no Colégio Porto Seguro, e me apresentei a ela:
– D. Maria Cecilia, que prazer!!! A senhora está muito bem!!!
Ela me olhou de viés, sem entender direito, e eu prossegui rodopiando…
Iris e eu fomos os últimos a deixar a festa, comigo pilotando alegremente a Variant amarela como se fosse um Porsche. Lembro-me de que, no dia seguinte, repassando a façanha automobilística da madrugada, decidi comigo mesmo nunca mais cometer a tolice de pilotar embriagado.


Pinturas de Cassio Michalany, presente para a afilhada Fernanda.

Em 1977, nasceu minha filha Fernanda. Seu padrinho, o Cassio, a presenteou com uma tela de 15 x 15 cm, um ladrilho tecido e pintado a mão – em cada aniversário, ela ganharia mais um. Dois anos depois, nasceu o meu filho Antonio e convidei Frederico Nasser para ser seu padrinho, mas ele não pôde estar presente ao nascimento.
Na mesma época, Frederico planejava abrir uma livraria. Em uma conversa com Dudi no Guarujá , Claudinho Fernandes, que também flertava com a mesma ideia, ficou sabendo dos planos do amigo em comum e os dois acabaram se tornando sócios para abrir, em 1978, a Livraria Horizonte.
O imóvel selecionado na Rua Jesuíno Arruda, 806, quase esquina com a João Cachoeira, abrigava originalmente um açougue, mas Baravelli, o homem dos sete instrumentos, transformou o lugar em uma charmosa livraria de tijolinhos à vista. A Horizonte acabou virando ponto de encontro dos amigos artistas, sempre uma farra com sua enorme mesa central e poltronas confortáveis completando o ambiente acolhedor. No andar de cima, Frederico tocava sua editora Ex Libris. Naquela época, eu era sócio do Norberto (Lelé) Chamma na empresa de design gráfico und – assim mesmo, com minúscula – e produzimos alguns itens gráficos para a livraria.
Cerca de dois anos depois, Frederico desmanchou a sociedade com Claudinho e montou uma nova livraria a poucos metros da Horizonte, na Rua João Cachoeira, 267 – a Universo. Também com projeto do Baravelli, a execução da obra ficou a cargo do Roberto “faz tudo”, com o chão de tijolo aparente, cortado a 45 graus, dois mezaninos e janelas ilegalmente abertas para a lateral do prédio.
A Universo tinha como vizinhos a CLICK Molduras, de Odila de Oliveira Lee, mulher de William Bowman Lee, pais de Wesley; o estúdio da vez de Baravelli, na sobreloja; e o escritório de paisagismo de Toledo Piza, Cabral e Ishii, arquitetos associados, na edícula.
Algum tempo depois, a livraria fechou as portas ao público, trabalhando somente com visitas agendadas, agora especializada em livros raros. Lá, Frederico continuou a operar a Editora Ex Libris, lançando em 1987 o notável O Perfeito Cozinheiro das Almas deste Mundo, edição fac-símile do diário coletivo da garçonnière de Oswald de Andrade.
No estúdio em cima da Universo, Baravelli trabalhava à noite. Os amigos mais próximos se davam o direito de chegar, tocar a campainha, subir as escadas e ficar lá perturbando o artista. Por vezes, para frear o ímpeto da turma, ele colocava um bilhete na campainha: ESTOU TRABALHANDO – CAMPAINHA DESLIGADA.

Foi neste espaço que, certo dia, Baravelli confidenciou aos amigos:
– Estou com uma grana, não sei se faço uma revista de arte ou compro um Camaro…
A opção foi fazer a revista Arte em São Paulo. Muito pragmaticamente, ele fez uma lista dos itens necessários e comprou:
_ Impressora;
_ Prensa de hot stamping para as capas;
_ Encadernadora espiral;
_ Estoque de papel para impressão;
_ Estoque de cartão para as capas.
Em seguida contratou Lisette Lagnado e Marion Strecker Gomes, duas jovens estudantes de jornalismo, para tocarem a revista. O primeiro número saiu em 1981, com um texto meu sobre Cassio Michalany. O último saiu em 1985.

Entrando nos anos 1980, minha vida virou de ponta cabeça. Tomei a decisão de ser artista plástico em tempo integral, saí do escritório de design gráfico und e me separei da Iris, mudando para o apartamento da Rua dos Pinheiros.
Foi um ano estressante, trabalhoso, caótico!

A esta altura, começava a se quebrar o encanto dos anos 1970, criativos e loucos, com os contatos entre aquela grande turma de amigos se espaçando, as amizades se esgarçando, os filhos nascendo e crescendo, cada um cuidando de sua vida. Foi nessa época que Frederico Nasser iniciou um misterioso processo de se fechar para o mundo. Pouco a pouco, foi evitando o contato social com os amigos e a família, se isolando mais e mais, sem responder nem mesmo aos telefonemas. Ninguém entendia o que estava acontecendo.
Muitos anos depois, andando de carro pelo Itaim, o avistei caminhando na calçada oposta. Parei o carro e corri para ele de mão estendida, feliz com o encontro! Frederico me ignorou solenemente e passou reto… Fiquei ali incrédulo, parado com a mão estendida, observando ele se afastar totalmente alheio à minha presença…
Que Frederico Nasser era aquele?!!
Seu coração falharia definitivamente no início de 2020, aos 75 anos de idade. É sempre muito triste e difícil aceitar a perda de um amigo. O luto e a tristeza que senti naquele momento, na verdade, já vinha sentindo e trabalhando durante quase 40 anos…

Fernando Stickel,
9 de julho de 2020

Uma conjunção muito especial de fatores propiciou a sistematização destas memórias, focadas nos anos 1970, um pouco antes e um pouco depois. Em fevereiro de 2020, faleceu meu grande amigo Frederico Nasser. Em seguida, a pandemia do coronavírus e a quarentena redefiniriam o mundo como o conhecíamos.
Foi neste contexto que me voltei a arquivos fechados há muitos anos, repassando textos e a memorabilia do período para atualizar minhas memórias ¬– e este blog.
Um documento em particular atuou como poderoso catalisador de lembranças, o convite de casamento do Frederico e Marina. Foi fundamental a ajuda dos amigos em várias conversas para ajustar algumas datas, locais e nomes.
Deixo aqui um agradecimento especial para Sandra Pierzchalski, Plinio de Toledo Piza Filho, Claudio Furtado, Iris Di Ciommo, Claudio Fernandes, Mauro Lopes, Monica Vogt Marques, Luis Paulo Baravelli, Cassio Michalany e José Resende.

Fernando Stickel,
10 de outubro de 2021

Revisão do texto: Tato Coutinho

é isso, por fernando stickel [ 10:37 ]

caderno de viagens

Professor Flavio Motta (1923-2016)
Durante o ano de 1973 os alunos de graduação do 5º ano de arquitetura da FAUUSP se dedicaram ao Trabalho de Conclusão do Curso – TCC, ou Tese, não lembro mais do nome.
Eu propus aos meus orientadores, Flavio Motta e Aracy Amaral fazer um “Caderno de Viagens”, similar aos cadernos que meus professores na Escola Brasil: nos incentivavam a fazer, com desenhos, anotações, reflexões, colagens, etc…
A proposta foi aceita, no primeiro semestre trabalhei em folhas soltas, depois encadernadas e no segundo semestre mandei encadernar um belo caderno de folhas em branco e capa de couro com a inscrição:

Diário de Viagens
Fernando D. Stickel
1973- 2ª Parte

Após a entrega do trabalho, consegui surrupiar o original da biblioteca, deixando uma cópia xerox, e como o caderno ainda não estava totalmente preenchido continuei a trabalhar nele até o final.
Hoje seria impensável aluno de arquitetura conseguir executar um trabalho assim…foi graças à personalidade esfuziante do Mestre Flavio que isso foi possivel, ele era irreverente, inteligente, imprevisivel, genial e companheiro!!


Flavio Motta e o arquiteto Vilanova Artigas (1915-1985) autor do projeto da FAUUSP, provavelmente em uma de suas sala de aula.
Na lousa a famosa frase do arquiteto Auguste Perret (1874-1954), pioneiro no uso de concreto protendido: “É preciso fazer cantar o ponto de apoio.” (L’architecture, c’est l’art de faire chanter le point d’appui)


Meu retrato feito pelo Flavio Motta no “Diário de Viagens”

é isso, por fernando stickel [ 18:07 ]

faleceu frederico jayme nasser


Faleceu o meu amigo Frederico Jayme Nasser aos 75 anos de idade.

Ele teve uma importância gigantesca na minha vida e na minha opção pelas artes plásticas. Foi uma presença instigante, fascinante, generosa, surpreendente e carismática.

Frederico foi meu professor, abriu caminhos e me apresentou ao mundo das artes plásticas do final dos anos 60 e início dos 70. Amigos como Augusto Livio Malzoni, Dudi Maia Rosa, José Carlos BOI Cezar Ferreira (1944-2018), Wesley Duke Lee (1931-2010) e muitos outros foram fruto desta amizade.

Juntamente com os amigos Luiz Paulo Baravelli, Carlos Fajardo e José Resende, Frederico instalou em 1970 o Centro de Experimentação Artística Brasil: na Av. Rouxinol 51 em Moema, que teve importância capital na formação de toda uma geração de artistas, eu incluido.

Além de tudo isso nós éramos muito amigos, tivemos uma relação pessoal muito forte, ele foi meu padrinho de casamento com a Alice Kalil em 1971, e eu fui padrinho do casamento dele com a Marina Leão em 1976, ele foi ainda padrinho (ausente, diga-se) do meu filho Antonio em 1979.

Ocorre que logo na sequência desses eventos familiares muito alegres, e entrando nos anos 80 o Frederico iniciou um processo misterioso de se fechar para o mundo, pouco a pouco ele foi evitando o contato social com amigos, família e foi se isolando. Ninguém entendia o que estava acontecendo.

Certa feita andando de carro pelo Itaim vi o Frederico andando a pé na calçada oposta, parei o carro e me dirigi a ele de mão estendida, feliz com o encontro! Frederico simplesmente me ignorou e passou reto… eu fiquei ali incrédulo, parado com a mão estendida, observando ele se afastar totalmente alheio à minha presença…

Seu coração falhou, não uma e definitiva vez há dois dias atrás, mas falhou durante quase quatro décadas. Foi muito triste e difícil de aceitar a perda de um amigo ainda vivo, o luto e a tristeza que agora sinto já senti e trabalhei durante quase 40 anos…


Polaroid do estúdio do Frederico Nasser em 28/12/1975
Da esquerda para a direita, Iris Di Ciommo, Frederico Nasser, Cassio Michalany e eu.


Transcrevendo o recorte:
Marina Ferraz de Camargo Leão tornou-se pela Lei dos Homens a sra. Frederico Jayme Nasser durante recepção na residência de sua avó, Haydée França Ferraz de Camargo, viuva de meu saudoso amigo José Ferraz de Camargo. Foi uma reunião íntima, co-anfitrionada pelos pais de Marina e Frederico: Helena Ferraz de Camargo e Francisco Moreira Dubeux Leão, Elisa e Jayme Nasser.
A casa da rua Bolivia era decorada por Mareio à base de malvas, jasmins e crisantemos e na pauta gastronomica: salada primavera, lagosta com camarão e molho rosé, rosbife com batata doce caramelada ao Madeira, e o Moet et Chandon correndo de ponta a ponta.
Foram padrinhos da noiva (vestida em tons cinza do Red E Blue): Josefina Leão e Joaquim Leão, Helena Moreau e Ornar Campos, Monica Frier e José Luiz Leão. Testemunharam pelo noivo, Maria Elisa Nasser e Augusto Livio Malzoni, sr. e sra. Fernando Stickel e o sr. e sra. Raphael Rosi (engano da redação, o nome correto é Rafael Maia Rosa)
A cerimonia religiosa oficiada ontem por Monsenhor Benedito Calazans foi em casa dos pais de Marina, na rua Bolivia.

é isso, por fernando stickel [ 16:50 ]

profissão difícil

escola brasil pintura
Fazendo pose de bacana.

Em 1970 frequentei a Escola Brasil: onde Baravelli, Fajardo, Nasser e Resende, discípulos de Wesley Duke Lee, propunham ensino não acadêmico da arte.

Os alunos eram encorajados a desenvolverem seus próprios projetos, e eu resolvi pintar uma tela de grandes dimensões. Aí estou na foto com 21 ou 22 anos de idade e a pintura que não saiu deste estágio, e se perdeu no tempo.

Não é mole ser artista, pintor, fotógrafo, etc… Lembro bem da sensação de olhar para a pintura inacabada e pensar: E agora?…

Nestas horas é bom perder a arrogancia, abaixar a crista e entender o quanto de trabalho e estudo envolve a conquista desta profissão.

é isso, por fernando stickel [ 18:06 ]

escola brasil: na galeria garage

workshop
Na próxima quarta-feira 27/8 vou falar sobre a minha experiência na Escola Brasil:, que frequentei em 1970.
Junto comigo estará Guto Lacaz, falando sobre a as artes na década de 80.
Das 20 às 22h na Galeria Garage, R. Miguel Rodrigues 88, Vila Madalena Tel 3816-2424

guto fs
Foto do evento

é isso, por fernando stickel [ 16:02 ]

meu quarto de solteiro

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Meu quarto na casa dos meus pais na Rua dos Franceses, Bela Vista, no início dos anos 70.
Nesta época eu estava totalmente “intoxicado” pelo mundo das artes, frequentava a Escola Brasil: e tinha aulas com os mestres Luiz PauloBaravelli, Carlos Fajardo, Frederico Nasser e José Resende.
Vivia as artes intensamente, com curiosidade e tesão e mesclava as artes “da casa dos pais” com as minhas aventuras na pintura.
Em Maio 1971, me casei com a Alice e saí da casa dos meus pais.

tanque
Meu quarto refletido no tanque de gasolina cromado da motocicleta Royal Enfield 350 “Bullet”, que eu havia desmontado.

é isso, por fernando stickel [ 10:14 ]

rouxinol 51, o catálogo

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A capa do catálogo

Em 2005/06 a Fundação Stickel dedicava-se ao projeto de implantação, ao longo de três anos, de um “Centro de Pesquisas sobre a Escola Brasil: e a Arte Contemporânea Paulista”, sob coordenação da Profª Drª Claudia Valladão de Mattos, constituindo um espaço de referência sobre este tema, aberto ao público, com múltiplas atividades, inclusive banco de dados informatizado.
A Escola Brasil: fundada em 1970, pelos artistas Luiz Paulo Baravelli, Carlos Fajardo, Frederico Nasser e José Resende, funcionou como instituição de ensino entre 1970 e 1974 e opôs-se às formas pedagógicas tradicionais. Sua proposta de aprendizagem baseava-se na vivência e na atividade artística como experimentação, apoiando-se fortemente no modelo de formação recebido pelos seus fundadores na convivência com Wesley Duke Lee.
Procurando romper com as formas de ensino tradicionais, fundadas numa relação autoritária entre professor e aluno, os quatro artistas organizaram a Escola, não em torno de um currículo fixo e progressivo, mas em torno das personalidades de cada um dos fundadores. Os Ateliês tinham o nome de seus professores com a constante modificação do conteúdo de acordo com a orientação do professor.

Este trabalho de pesquisa resultou na exposição ROUXINOL 51 – UM OLHAR SOBRE A ESCOLA BRASIL: com a edição de um catálogo, com projeto gráfico de Iris Di Ciommo e texto da Profª Drª Claudia Valladão de Mattos, a seguir:

“Arte é muitas coisas”:
sobre a Escola Brasil: e o ensino da arte contemporânea

Prof. Dra. Claudia Valladão de Mattos

Rouxinol 51. Nesse endereço funcionou entre 1970 e 1974 a Escola Brasil:. Seus fundadores, os jovens artistas Baravelli, Fajardo, Nasser e Resende, possuíam uma história comum de aprendizagem com Wesley Duke Lee, alguma experiência como professor e o desejo de realizar uma revolução no ensino das artes. De acordo com Baravelli, a idéia inicial de fundar uma escola foi de José Resende e surgiu na época em que, após terem sido ‘diplomados’ por Wesley, os quatro passaram a compartilhar um mesmo ateliê: “Um dia ele falou: ‘Olha, vamos lá no bar pedir um chopp que eu preciso conversar uma coisa com vocês aí, quero fazer uma proposta.’ ‘Está bom, vamos lá’. ‘Vamos fazer uma escola.’ ‘Escola? Como? Quem? Como fazer uma escola?’ ‘Essa coisa que a gente está fazendo aqui, a gente pode expandir, aumentar e tal’”.
Pouco depois, a experiência de ateliê comum terminou, tendo cada um alugado seu próprio espaço, mas a idéia da escola permaneceu viva. Ainda de acordo com Baravelli, nos dois anos seguintes os quatro artistas passaram a fazer uma espécie de teste piloto do que poderia ser a escola, até finalmente decidirem de fato realizá-la: “tínhamos discussões contínuas tentando dar corpo ao que seria o nosso ensino, o que seria a Escola Brasil:”, lembra Fajardo.
Claro estava que o fundamento da escola deveria ser suas próprias experiências como artistas. Mas que experiência exatamente tinham esses quatro jovens no momento da fundação da Escola Brasil:? E por que tal experiência exigia um novo projeto pedagógico?

Devemos lembrar que os quatro artistas começaram suas carreiras durante um período especialmente significativo para a história da arte brasileira. A passagem dos anos 60 para os anos 70 foi marcada por grandes transformações políticas, econômicas e sociais que alteraram significativamente o cenário das artes em São Paulo. Foram os anos da ditadura e da articulação de novas formas de resistência e sobrevivência cultural, mas também os anos do‘milagre econômico’ que proporcionou as condições para o surgimento da cultura de massas, para o nascimento de um mercado de arte, propriamente dito, e para uma internacionalização da produção artística. Ampliaram-se, num espaço relativamente curto de tempo, os horizontes tradicionais da arte, e ela passou a se caracterizar fundamentalmente por uma intensa experimentação, tanto no que se refere aos materiais, quanto a conceitos.

O convívio com Wesley Duke Lee havia posto os quatro artistas, desde muito cedo, em contato direto com os debates sobre arte que se desenvolviam então em São Paulo. As atividades do Grupo Rex, organizadas em torno da figura irreverente de Wesley, das quais participaram ‘milagre econômico’ que proporcionou as condições para o surgimento da cultura de massas, para o nascimento de um mercado de arte, propriamente dito, e para uma internacionalização da produção artística. Ampliaram-se, num espaço relativamente Resende, Fajardo e Nasser, atualizavam o pensamento de Duchamp, questionando as formas geralmente aceitas de arte, denunciando a relação entre arte e mercado e propondo novos modelos de atuação para o artista. No final da década de 60 também se multiplicaram as oportunidades para dialogar com a produção artística internacional mais recente. Um dos espaços privilegiados para isso eram as Bienais. A Bienal de 1967 trouxe uma mostra da arte Pop, por exemplo, e em 1969 uma exposição de arte conceitual. O MAC-USP, sob a direção de Walter Zanini, também tornou-se fórum da nova arte no início dos anos 70, abrindo espaço para exposições de jovens artistas e valorizando uma produção conceitual.

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Fajardo e Baravelli

Os futuros fundadores da Escola Brasil: circulavam por estes espaços e discutiam os novos rumos da arte. Nesse contexto, surgiu uma questão central: se a arte deixou de ser definida através de seus meios artesanais tradicionais (pintura, escultura, desenho, gravura) para ampliar-se e tornar-se “muitas coisas”, para citar a definição de arte que mais tarde nortearia as atividades da Escola Brasil:, as formas tradicionais de ensino da arte também deveriam mudar. Sabemos que o ensino tradicional das “belas artes” organizara-se, ao longo de vários séculos de tradição, em torno dos gêneros tornou-se fórum da nova arte no início dos anos 70, abrindo espaço para exposições de jovens artistas e valorizando uma produção conceitual. Os futuros fundadores da Escola Brasil: circulavam por estes espaços e discutiam os novos rumos da arte. Nesse artísticos que definiam o campo da arte então. Assim, o aluno ingressando em uma instituição voltada para a formação de artistas passaria por diversos ateliês onde as técnicas tradicionais vinculadas a cada um dos gêneros da arte eram transmitidas. Este cânone acadêmico mantinha-se, paradoxalmente, ainda vivo na década de 70 (e, diga-se de passagem, continua sendo adotado por muitas instituições de ensino de arte hoje), mesmo sendo totalmente incoerente com o novo modelo ampliado de arte que estava sendo adotado por uma nova geração de artistas.

Encontrar uma nova proposta de ensino que estivesse em sintonia com os novos modelos teóricos contemporâneos que circunscreviam o campo das artes, tornou-se o desafio principal dos quatro artistas fundadores da Escola Brasil:. Esta tarefa realizou-se não sem muita discussão e experimentação no decorrer dos anos em que funcionou a Escola. Se a Escola Brasil: deu alguma contribuição significativa para o campo das artes em São Paulo, foi através da realização desse novo modelo pedagógico. Um modelo que poderíamos denominar de “didática do processo” (por razões que ficaram claras a seguir) e que se mostrou mais coerente e em sintonia com uma definição contemporânea de arte.

A apostila que definia os princípios e objetivos da Escola Brasil: abria com as seguintes palavras que deixavam claro as intenções de seus autores: “Brasil: não é uma escola de arte no sentido usual. Nas escolas de arte, em geral, o que interessa primeiro são as matérias, o aprendizado ‘teórico’. Elas estão preocupadas com os resultados imediatos e com a especialização, dando aos alunos um falso conhecimento artístico, fragmentando-o e reduzindo-o a modalidades acadêmicas de expressão. Em Brasil: o mais importante é o interesse do aluno e suas experiências. A ênfase está na experimentação constante, na investigação do processo criativo, no investigar durante o fazer, no conhecimento artístico como um todo.” Concluindo: “O processo de envolvimento do aluno durante o trabalho interessa mais do que o resultado final desse trabalho.”
Os princípios fundamentais expressos aqui valorizam o elemento conceitual (em sentido amplo) da arte, expresso através da idéia de processo. A arte deixou de ser definida através de seus materiais intrínsecos para tornar-se reflexão sobre a realidade, produzida por uma mente criativa e investigativa que lança mão, para tanto, de qualquer tipo de material para expressar-se.

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Créditos das imagens do catálogo

A estrutura do curso da Escola Brasil: espelhava esta concepção contemporânea de arte. Ao invés de organizar a Escola por ateliês ligados a diferentes meios: pintura, gravura, escultura, etc., Baravelli, Fajardo, Nasser e Resende optaram por distribuir as aulas em quatro ateliês, cada um vinculado a um deles. Nesses ateliês ocorriam atividades as mais diversas, visando estimular a criatividade e a capacidade discursiva do aluno. “A minha idéia era fazer perceber que a arte é uma linguagem que opera em todos os níveis”, recordaria Frederico Nasser em um depoimento para a revista Arte em São Paulo, em 1984.
Aprender a operar com essa linguagem seria o objetivo primeiro do curso. A apostila Brasil: descreve alguns dos exercícios idealizados para cada ateliê. Fajardo, por exemplo, propunha diferentes temas e pedia para que os alunos se manifestassem. Remontar um texto de James Joyce, criar uma topografia com massa de modelagem, ou trabalhar a partir do I-Ching, eram algumas das atividades propostas. Já o José Resende priorizava a questão da relação aluno/espaço, desenvolvendo atividades como caminhar pela escola com um rolo de barbante, ou realizar uma intervenção no espaço, acendendo e apagando as luzes. Tais investigações sobre o espaço ocorriam também fora da sala de aula, em exercícios denominados “atividades de percurso”, onde os alunos saíam para explorar a malha urbana da cidade de São Paulo.

O conceito ampliado de arte que embasava a pedagogia da Escola Brasil: permitiu ainda a ampliação do âmbito de formação do aluno. Aprender a operar de forma criativa com a linguagem das artes plásticas poderia não só ajudar na formação de um artista, mas também de outros agentes culturais, como galeristas, diretores de museus, etc.
A herança duchampiana que marcava o modelo de arte adotado pelo fundadores da Escola alertava para a impossibilidade de compreender a arte fora de seus circuitos e este princípio era levado a sério. Assim, a Escola Brasil: ajudou a formar alguns galeristas, como Luisa Strina e Regina Boni, designers e outros profissionais vinculados ao campo das artes que, como vimos, se expandia em São Paulo.

Um olhar retrospectivo sobre as atividades da Escola Brasil: nos anos de sua atuação talvez nos permita considerá-la como a primeira escola de arte verdadeiramente contemporânea em São Paulo. A presente exposição que traz uma série inédita de fotografias tiradas durante os anos de funcionamento da Escola, acompanhada de trabalhos dos alunos realizados na época, configura-se como uma tentativa de reconstruir o cotidiano da escola e com ele ressaltar a originalidade do projeto pedagógico desenvolvido ali.

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Placa da Av. Rouxinol em Moema, São Paulo, onde se localizava a Escola Brasil:

é isso, por fernando stickel [ 14:36 ]

eduardo lunardelli

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Na última sexta-feira recebi na Fundação Stickel o meu amigo Eduardo Lunardelli, e recebi de presente simpático opúsculo de suas poesias: Poema [ENTRE CHAVES]
Conversamos horas sobre o delicioso ofício de fazer livros, sobre os tempos de Escola Brasil:; as artes, os trabalhos da Fundação, enfim, colocando a conversa em dia durante longo almoço na Praça São Lourenço.
Eduardo lançará a seguir um livro sobre sua experiência como blogueiro, seu blog principal é o “Varal de Idéias”

é isso, por fernando stickel [ 13:39 ]

caderno de anotações

Os alunos do curso Aproximações com a Arte realizado pela Fundação Stickel em parceira com o IMPAES, CENPEC e a Subprefeitura Freguesia do Ó/Brasilândia terão que elaborar, durante o curso, um diário de suas experiências, observações, etc…
A Fundação forneceu a cada aluno um caderno em branco para este propósito.
Eu mesmo aprendi, lá nos idos dos anos 70, na Escola Brasil: o benefício, para o fazer artístico, deste tipo de registro. Tenho, daquela época, cerca de 20 cadernos, de todos os formatos e tamanhos, cheios de desenhos, colagens e textos.

é isso, por fernando stickel [ 12:10 ]

varzea alegre

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Semana que vem irei para Várzea Alegre no sertão do Ceará. O vôo da Ocean Air fará escala em Brasília e nos deixará, Antonio meu filho e eu em Juazeiro do Norte. Lá um taxi nos apanhará e levará para a casa do artista plástico Maciej Babinski, que será nosso anfitrião, juntamente com sua esposa Lidia, por dois dias.
Antonio levará equipamento e vamos entrevistar o Babinski e gravar seu depoimento em vídeo para o Banco de Dados sobre a Escola Brasil: desenvolvido pela Fundação Stickel.
Estou excitado com esta rápida viagem. Acho que será MUITO interessante.

é isso, por fernando stickel [ 0:19 ]

estúdio do wesley

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A foto foi tirada no estúdio do artista plástico Wesley Duke Lee, em 2 Dezembro 2005.

A Fundação Stickel estava fazendo naquela época o levantamento e registro digital dos arquivos do Wesley, como parte do Projeto de Banco de Dados sobre a Escola Brasil:
Wesley nos recebeu de braços abertos, abriu as portas dos seus estúdios em Santo Amaro, (são pelo menos três) e chegou a me dizer:
– Fique com a chave do estúdio, venha a hora que quiser, monte seu computador, é só vir aqui fotografar, escanear, etc…
No meio do processo, enquanto nos preparávamos para montar uma estação de trabalho “in loco” recebo um belo dia um telefonema mal educado de uma pessoa se dizendo próxima do Wesley, insinuando que nós estaríamos “invadindo” o estúdio e falando coisas ainda piores, exigindo que devolvessemos todo o material do Wesley em nosso poder em 24 horas, ou haveria processo judicial.
Argumentei que tudo era feito com a total concordancia do Wesley, em clima de confiança absoluta, etc…etc…, sem resultado.
No dia seguinte ao espantoso telefonema devolvemos os materiais, e assim acabou-se melancólica e prematuramente o nosso trabalho.
Infelizmente, desde aquela época o próprio Wesley já se queixava de perda de memória, e mencionou isto no depoimento em vídeo que gravamos, falava-se na época no “Alemão” (Alzheimer).
Sabe Deus o que lá ocorreu nestes dois anos e pouco. Ouvi por aí que houve um “rapa” geral no estúdio, não sei se é verdade.

é isso, por fernando stickel [ 19:51 ]

macc campinas


Fiquei feliz, realizado e orgulhoso.
A exposição ROUXINOL 51 que abriu hoje no Museu de Arte Contemporânea de Campinas – MACC é o primeiro fruto de parceria da Fundação Stickel com outras instituições, para realização de evento cultural.
Montagem perfeita, o espaço é muito bom, a equipe da Fundação Stickel funcionou com eficiência exemplar, enfim, sucesso total!
Parabéns a todos que trabalharam neste projeto!
A Fundação inicia 2007 com o pé direito, no seu primeiro evento público do ano.

é isso, por fernando stickel [ 23:30 ]

rouxinol 51


Prefeitura Municipal de Campinas e Fundação Stickel convidam para a abertura da exposição:

ROUXINOL 51
UM OLHAR SOBRE A ESCOLA BRASIL:
Curadoria: Claudia Valladão de Mattos

Abertura: Terça-feira 3 de Abril às 20h

Exposição: 3 Abril a 20 Maio 2007
terça a sexta-feira das 9 às17h sábado das 9 às 16h domingo das 9 às 13h

Museu de Arte Contemporânea de Campinas José Pancetti – MACC
R. Benjamin Constant 1633 Centro de Campinas
tel 19 2116-0346

Idealização: Fundação Stickel

Esta exposição é parte de um projeto que implantará ao longo de três anos um “Centro de Pesquisas sobre a Escola Brasil: e a Arte Contemporânea Paulista” constituindo um espaço de referência sobre este tema, aberto ao público, com múltiplas atividades.
A Escola Brasil: fundada em 1970, pelos artistas José Resende, Carlos Fajardo, Luiz Paulo Baravelli e Frederico Nasser, funcionou como instituição de ensino entre 1970 e 1974 e opôs-se às formas pedagógicas tradicionais. Sua proposta de aprendizagem baseava-se na vivência e na atividade artística como experimentação, apoiando-se fortemente no modelo de formação recebido pelos seus fundadores na convivência com Wesley Duke Lee.
Procurando romper com as formas de ensino tradicionais, fundadas numa relação autoritária entre professor e aluno, os quatro artistas organizaram a Escola, não em torno de um currículo fixo e progressivo, mas em torno das personalidades de cada um dos fundadores. Os Ateliês tinham o nome de seus professores com a constante modificação do conteúdo de acordo com a orientação do professor.

A exposição apresenta:

– 60 fotos, em grandes ampliações, do cotidiano da EscolaBrasil:
– Trabalhos realizados nos Ateliês, de ex-alunos da escola como Leila Ferraz, Fernando Stickel, Suca Mattos Mazzamati, Gilda Maia Rosa, Flávia Ribeiro, José Carlos BOI Cezar Ferreira, Helena Carvalhosa, Sara Goldman-Belz, Gemma Giafonne.
– Documentos da época como cartas, apostilas, panfletos de divulgação, a única edição do jornal da Escola, Dois Pontos, revistas, catálogos das exposições dos professores nos anos 70 e o programa com a filosofia da escola estarão expostos em vitrines.
– Vídeo com entrevistas com os professores
– Distribuição de um catálogo gratuito, com texto da Profª Drª Claudia Valladão de Mattos e ilustrações diversas.
– Distribuição da reedição do trabalho de 1978 de Helena Carvalhosa e Regina Sawaya, “Sobre a Escola Brasil:”

Desde o final de 2006 a Fundação Stickel deixou de ter espaço para exposições. Esta mostra no MACC Campinas é o primeiro fruto de parcerias, estratégia atual para concretização de exposições.

é isso, por fernando stickel [ 21:10 ]

final de ciclo


A exposição da Luise Weiss no Espaço Fundação Stickel encerra um ciclo de nove exposições, desde Outubro 2005:

LUISE WEISS – SAGA
JUAN ESTEVES E JOAQUIM MARQUES – Fotografias
ROUXINOL 51 – UM OLHAR SOBRE A ESCOLA BRASIL:
FERES KHOURY – Desenhos de grandes dimensões
4 LINHAS – Carla Ricciuti, Cris Mie, Malvina Sammarone, Renata Cook
JOSÉ CARLOS BOI CEZAR FERREIRA – Pinturas
MAGY IMOBERDORF
CÁSSIA GONÇALVES – Grafo esculturas transparentes
LUIZ PAULO BARAVELLI – Pinturas da Série Arte e Ilusão

Trabalhamos muito e com enorme prazer para que tudo isso fosse possível. Iniciamos com a exposição do Baravelli, e a cada exposição sentimo-nos mais e mais no caminho correto. Em 2007 a Fundação Stickel não terá mais disponível o espaço de exposições da R. Ribeirão Claro, teremos que procurar outro espaço, se possível com parcerias, ou outras soluções, mas com a certeza absoluta de que o rumo será mantido.

é isso, por fernando stickel [ 18:12 ]

rouxinol 51


No Espaço Fundação Stickel, a inauguração da exposição
ROUXINOL 51
UM OLHAR SOBRE A ESCOLA BRASIL:
Na foto de cima, da esq. para a direita: Gilda Vogt Maia Rosa, Carlos Fajardo, Dudi Maia Rosa, eu, José Carlos BOI Cezar Ferreira.
Em baixo, Clauke com sua camiseta “dois pontos” e Luiz Paulo Baravelli.

é isso, por fernando stickel [ 10:13 ]

montagem rouxinol 51


Fundação Stickel convida para a abertura da exposição

ROUXINOL 51
UM OLHAR SOBRE A ESCOLA BRASIL:
Curadoria: Claudia Valladão de Mattos

Abertura: sábado, 23 de setembro das 16 às 20h

Exposição: 23 setembro a 29 outubro de 2006
segunda a sexta-feira das 14 às 20h
sábado das 11 às 15h

Espaço Fundação Stickel – R. Ribeirão Claro 37 Vila Olímpia
04549 060 São Paulo
tel 11 3849 8906

Patrocínio: Fundação Stickel

Esta exposição é parte de um projeto que implantará ao longo de três anos um “Centro de Pesquisas sobre a Escola Brasil: e a Arte Contemporânea Paulista” constituindo um espaço de referência sobre este tema, aberto ao público, com múltiplas atividades.
A Escola Brasil: fundada em 1970, pelos artistas José Resende, Carlos Fajardo, Luiz Paulo Baravelli e Frederico Nasser, funcionou como instituição de ensino entre 1970 e 1974 e opôs-se às formas pedagógicas tradicionais. Sua proposta de aprendizagem baseava-se na vivência e na atividade artística como experimentação, apoiando-se fortemente no modelo de formação recebido pelos seus fundadores na convivência com Wesley Duke Lee.
Procurando romper com as formas de ensino tradicionais, fundadas numa relação autoritária entre professor e aluno, os quatro artistas organizaram a Escola, não em torno de um currículo fixo e progressivo, mas em torno das personalidades de cada um dos fundadores. Os Ateliês tinham o nome de seus professores com a constante modificação do conteúdo de acordo com a orientação do professor.

A exposição apresenta:

– 60 fotos, em grandes ampliações, do cotidiano da EscolaBrasil:
– Trabalhos realizados nos Ateliês, de ex-alunos da escola como Leila Ferraz, Fernando Stickel, Suca Mattos Mazzamati, Gilda Maia Rosa, Flávia Ribeiro, José Carlos BOI Cezar Ferreira, Helena Carvalhosa, Sara Goldman-Belz, Gemma Giafonne.
– Documentos da época como cartas, apostilas, panfletos de divulgação, a única edição do jornal da Escola, Dois Pontos, revistas, catálogos das exposições dos professores nos anos 70 e o programa com a filosofia da escola estarão expostos em vitrines.
– Uma estação com dois computadores estará a disposição do público, para consulta ao banco de dados da Escola Brasil:
– Projeção em tela das informações do banco de dados.
– “Cristaleira’ do BOI, com esculturas de Baravelli, Fajardo, Resende, Dudi, Megumi, Fernando Stickel e Guto Lacaz.
– Vídeo com entrevistas com os professores
– Distribuição de um catálogo gratuito, com texto da Profª Drª Claudia Valladão de Mattos e ilustrações diversas.
– Distribuição da reedição do trabalho de 1978 de Helena Carvalhosa e Regina Sawaya, “Sobre a Escola Brasil:”

PS: A montagem está sensacional, a equipe de parabéns, vai ficar o máximo!
Não deixem de visitar amanhã, sábado, a partir das 16 horas.

é isso, por fernando stickel [ 10:49 ]

rouxinol 51


Fundação Stickel convida para a abertura da exposição

ROUXINOL 51
UM OLHAR SOBRE A ESCOLA BRASIL:
Curadoria: Claudia Valladão de Mattos

Abertura: sábado, 23 de setembro das 16 às 20h

Exposição: 23 setembro a 29 outubro de 2006
segunda a sexta-feira das 14 às 20h
sábado das 11 às 15h

Espaço Fundação Stickel – R. Ribeirão Claro 37 Vila Olímpia
04549 060 São Paulo
tel 11 3849 8906

Patrocínio: Fundação Stickel

Esta exposição é parte de um projeto que implantará ao longo de três anos um “Centro de Pesquisas sobre a Escola Brasil: e a Arte Contemporânea Paulista” constituindo um espaço de referência sobre este tema, aberto ao público, com múltiplas atividades.
A Escola Brasil: fundada em 1970, pelos artistas José Resende, Carlos Fajardo, Luiz Paulo Baravelli e Frederico Nasser, funcionou como instituição de ensino entre 1970 e 1974 e opôs-se às formas pedagógicas tradicionais. Sua proposta de aprendizagem baseava-se na vivência e na atividade artística como experimentação, apoiando-se fortemente no modelo de formação recebido pelos seus fundadores na convivência com Wesley Duke Lee.
Procurando romper com as formas de ensino tradicionais, fundadas numa relação autoritária entre professor e aluno, os quatro artistas organizaram a Escola, não em torno de um currículo fixo e progressivo, mas em torno das personalidades de cada um dos fundadores. Os Ateliês tinham o nome de seus professores com a constante modificação do conteúdo de acordo com a orientação do professor.

A exposição apresenta:

– 60 fotos, em grandes ampliações, do cotidiano da EscolaBrasil:
– Trabalhos realizados nos Ateliês, de ex-alunos da escola como Leila Ferraz, Fernando Stickel, Suca Mattos Mazzamati, Gilda Maia Rosa, Flávia Ribeiro, José Carlos BOI Cezar Ferreira, Helena Carvalhosa, Sara Goldman-Belz, Gemma Giafonne.
– Documentos da época como cartas, apostilas, panfletos de divulgação, a única edição do jornal da Escola, Dois Pontos, revistas, catálogos das exposições dos professores nos anos 70 e o programa com a filosofia da escola estarão expostos em vitrines.
– Uma estação com dois computadores estará a disposição do público, para consulta ao banco de dados da Escola Brasil:
– Projeção em tela das informações do banco de dados.
– “Cristaleira’ do BOI, com esculturas de Baravelli, Fajardo, Resende, Dudi, Megumi, Fernando Stickel e Guto Lacaz.
– Vídeo com entrevistas com os professores
– Distribuição de um catálogo gratuito, com texto da Profª Drª Claudia Valladão de Mattos e ilustrações diversas.
– Distribuição da reedição do trabalho de 1978 de Helena Carvalhosa e Regina Sawaya, “Sobre a Escola Brasil:”

é isso, por fernando stickel [ 18:40 ]