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Arquivo: dezembro de 2025

o tarado de itanhaém


Na parede de tijolinhos o Restaurante La Tartine

Amor aos Pedaços ou O Tarado de Itanhaém

(Porquê ressuscitei este texto de 22 anos atrás: Conheci recentemente Itanhaém, e fiquei impressionado com a pobreza e a carência da cidade…)

Sandra e eu fomos ao teatro assistir a comédia “Vestir o pai”, de Mário Viana, com Karin Rodrigues, dirigida por Paulo Autran. Hilária, excelente!
Após o teatro fomos jantar no bistrô La Tartine, vizinho do restaurante Mestiço, muito gostoso simpático e barato, sempre com lugares disponíveis, ao contrário do Mestiço, sempre lotado. Nas mesas ao lado desenrolam-se cenas fascinantes, nos esforçamos para escutar sem dar bandeira, Sandra com seu ouvido de tísica é especialista na espionagem.

Ele: Alto, forte, ombros largos, por volta dos 45 anos, grisalho nas têmporas, cara de serial killer, médico legista contratado por concurso pela Prefeitura de Itanhaém, SP, prolixo, encantado com sua própria voz, alta e pausada, veste jeans, tênis e camisa cinza escuro e discorre sobre o milhão de dólares necessário para montar uma franquia McDonalds ou os R$ 200.000 para montar uma Amor aos Pedaços.
Ela: Mignon, gostosinha, parda, vulgar, sorriso semi-cretino nos lábios, bibliotecária do interior, parece ser excelente ouvinte, ou então está apenas embevecida pelo bonitão. Não sabe o que é Amor aos Pedaços. Ele: (declamando): – “Você é a coisa mais importante que aconteceu na minha vida, você não sabe como estou feliz” e olha profundamente nos olhos dela, inclina-se para a frente e segura a mão da moça bem apertada. Logo a seguir: -“Você pode escolher o prato quente para dividirmos” mudando abruptamente para: “Eu sonhei em ter uma livraria”, e conta como é apaixonado pelos livros desde criança.

E assim vai ele solando sobre os mais diversos assuntos, conta como foi contratado pela Prefeitura, ela fixada nele. Aí conta como conseguiu obter gravações da ex-mulher com o amante, através de um enfermeiro do Savoy Pronto Socorro, e continua descrevendo suas aventuras para a baixinha, sempre vidrada nele, sempre com olhar entre embevecido e completamente idiota, depois volta a falar das franquias e da sua paixão pelos livros e a vontade de ter uma livraria, e também o desejo de montar academia de artes marciais… , o tempo passa, Sandra e eu mal conseguimos disfarçar a excitação, anotamos algumas coisas em guardanapos de papel, o assunto é extremamente fascinante. A moça não se dá conta, mas está correndo perigo. Algo neste casal nos passa uma tragédia suspensa por fios muito tênues, a brutal diferença física entre os dois, a obsessão sinistra do grandalhão evidenciada no seu falar pausado e monocórdio, a improvável salada de objetivos de vida…

Atrás de nós outro casal curioso, ele um jovem gatão gringo, cabelos longos, mãos bonitas e costas largas, na segunda caipirinha tripla, ela mulata esguia, cabelos anelados, insinuosa e sorridente, no segundo balde de dry-martini. Falam alto, ele em inglês e ela macarronicamente se dedica mais ao “body language”, se pegam, se beijam, a certa altura se levantam, e no meio do restaurante entre as mesas abraçam-se num longo beijo tarado e voltam a se sentar sorridentes. Mais dry-martini, mais caipirinha, o tom de voz se eleva, começam a brincar com os talheres fazendo um barulho danado, daqui a pouco se levantam novamente e se agarram mais intensamente, mão na bunda, beijos profundos, parece que de comum acordo estão fazendo uma prévia dos corpos, antes que desmaiem de tanto beber, dane-se o restaurante e quem estiver por perto. Neste caso a tragédia será apenas acordar com aquela puta dor de cabeça, talvez algumas manchas roxas e tentar se lembrar do que aconteceu na noite anterior…

é isso, por fernando stickel [ 20:47 ]

uma semana em los angeles

Uma Semana em Los Angeles

Em 1985 eu morava em Nova York e já havia marcado minha volta definitiva ao Brasil para passar o Natal com a família. No dia 23 de novembro, recebi uma ligação do meu querido amigo Jay Chiat (1931–2002):
— Hi Fernando! I’m going to LA, would you like to come?
Respondi imediatamente: Sure!
Jay enviou as informações da viagem e eu comprei um voo “red-eye” da PANAM, pousando em Los Angeles às três da madrugada de 3 de dezembro. No saguão, um motorista me aguardava e seguimos em uma Mercedes-Benz até 6 North Star, Marina del Rey. A rua estava completamente escura e, tateando no breu (sem celulares e lanternas…), procurei a campainha. Não lembro bem como consegui chamá-lo, mas depois de uns 20 minutos Jay abriu a porta. Fomos dormir.


Apartamento do Jay em Marina Del Rey

Na manhã seguinte descobri que estávamos literalmente de frente para o Pacífico, pé na areia. Saímos para fazer compras e tomar café no Porsche 944 preto. Depois corremos na praia e, pela primeira vez, mergulhei nas águas geladas do Pacífico.
Banho tomado, roupa limpa, fomos almoçar no 72 Market Street, decorado com obras de Billy Al Bengston e DeWain Valentine. Em frente ficava o estúdio de Jonathan Borofsky.


Market Street, Venice. À direita o restaurante, à esquerda o estúdio de Borofsky


Convite da galeria LA Louver para exposição Larry Bell

Após o almoço, visitamos a Galeria L.A. Louver, na 77 Market Street, onde havia uma exposição de Larry Bell. Jay me apresentou ao proprietário, Peter Goulds. Depois passamos no escritório do designer Bob Runyan (1925–2001), onde bebemos vinho e demos boas risadas.
Os dias seguintes foram nessa toada: Spago, Scratch, Chinois, La Toque, Michaels… No MOCA, vi pela primeira vez o trabalho de James Turrell, na retrospectiva Occluded Front.


James Turrell, retrospectiva Occluded Front. Fiquei impressionado com este trabalho


Frank Gehry

Um dia Jay me levou ao estúdio de Frank Gehry (1929-2025) em Venice — uma enorme fábrica caótica, com dezenas de maquetes de papelão penduradas no teto e poltronas igualmente de papelão espalhadas pelo espaço aberto. Gehry nos recebeu com simpatia.

À noite, fomos jantar no Rebecca’s, na 2025 Pacific Avenue, projeto recente de Gehry. Chegamos no 944 preto e, para minha vergonha, eu não conseguia achar a maçaneta — o manobrista precisou ajudar. Entrar no restaurante foi um deslumbramento: o bar de alabastro/ônix reluzia na atmosfera sensual de luzes rebaixadas, e um enorme crocodilo metálico pendurado no teto. O ambiente era o mais ousado que eu já tinha visto.
Os convidados começaram a chegar, Jay me apresentando a todos — entre eles, Dennis Hopper (1936–2010). Lembro Jay discutindo com ele a compra de um warehouse para um projeto conjunto. Eu ali, sentado ao seu lado, saboreava o privilégio de jantar com um dos monstros sagrados do cinema.

Em outro dia, Jay, Keith Bright (1932-2018) e Bob Runyan organizaram um almoço onde me apresentaram Riaya, linda jovem de origem árabe. Convidei-a para jantar. Keith ouviu e disse:
— Fernando, take my car, you will love it!
O carro era simplesmente o sonho californiano: um Cadillac 1959 conversível cor-de-rosa. À noite, capota aberta, Venice parecia o Guarujá da minha infância — ruas escuras, trechos desertos. Após o jantar, seguimos passeando. Parei num farol vermelho e virei à direita, tudo vazio. De repente, como em filme, uma viatura da polícia surgiu do nada. O policial perguntou se eu não havia visto o sinal vermelho, examinou os documentos e perguntou:
— Have you been drinking?
— Well, I had dinner…
Depois de algumas advertências e muitos Yes, officer, ele devolveu meus documentos e nos liberou. Seguimos, aliviados, na maravilhosa “banheira”.


Cadillac 1959 Convertible

Em mais uma tarde memorável, Jay me levou à galeria de um amigo (cujo nome esqueci) onde me deparei com inúmeras caixas de Joseph Cornell. Ao perceber meu fascínio, o galerista me levou ao acervo e colocou outras caixas em minhas mãos. Um privilégio raro.

Um belo dia Jay falou assim:
— Fernando, I’m not going to use the car tomorrow, you wanna use it?
Aceitei na hora. No dia seguinte, acordei cedo, tomei banho, vesti minha Lacoste azul-marinho, peguei os óculos escuros e o mapa da cidade e rodei cerca de 400 milhas por Los Angeles — no Porsche 944 preto. Visitei o Getty Museum, San Fernando Valley, Griffith Observatory; passei pela Rodeo Drive, Beverly Hills, Sunset Boulevard… Foi um dia glorioso.


Griffith Observatory

Houve ainda um episódio divertido: em um almoço, nossa garçonete era jovem, bonita e usava grandes argolas. Keith chamou-a e comentou:
— Quanto maior o diâmetro da argola, maior a sensualidade; quanto maior a espessura, maior o sex drive.
Quando ela trouxe o troco, veio junto um de seus brincos… Jay e eu saímos, e Keith ficou paquerando a moça.

Minha semana em LA, hóspede do Jay, encerrou com chave de ouro meus 15 meses nos EUA. Conviver com ele e seus amigos — todos bem-sucedidos, premiados, mas sobretudo generosos e curtidores — ampliou meu entendimento sobre amizade, profissionalismo e generosidade.
Jay era sócio da agência Chiat/Day, tinha 54 anos e estava no auge do sucesso, sua agência atendia clientes como Apple, Pizza Hut, Suntory, Nike e Porsche. Keith aos 53 e Bob, 60, eram designers gráficos de sucesso. Eu, aos 37 anos de idade, bebia gulosamente na fonte de sabedoria dos amigos americanos…


Keith, eu, Jay e Bob de smoking

Voltei a Nova York, fiz as malas e, em 13 de dezembro, cheguei a São Paulo carregando um grande rolo de obras em papel produzidas em NY. Após emolduradas, deram origem à exposição NYC85, apresentada em abril de 1986 na Galeria Suzanna Sassoun.

é isso, por fernando stickel [ 7:33 ]

pantanal


Visitamos o Pantanal Matogrossense. Lindo. Poderoso. Encantador.

A poucos metros da maravilhosa Pousada Caiman, onde nos hospedamos, a natureza se apresenta avassaladora.

é isso, por fernando stickel [ 8:43 ]

4º salão paulista

Participei do 4º Salão Paulista de Arte Contemporânea no Pavilhão da Bienal de São Paulo no Ibirapuera em 1986, com três pinturas de grandes dimensões (4 metros de comprimento…), acrílica sobre tela, ralizadas em New York.

A Secretaria de Estado da Cultura, promotora do Salão, era ocupada por Jorge da Cunha Lima, no governo de André Franco Montoiro.

é isso, por fernando stickel [ 7:25 ]