Um artista “genial”. E ele nem existia. Falso japonês ganhou mostra e apresentação de astro em Fortaleza, uma idéia para mostrar manipulação de mídia e galerias.
Seria um acontecimento. O japonês Souzousareta Geijutsuka, anunciado pela imprensa cearense como um dos principais nomes da arte contemporânea universal, era ansiosamente esperado semana passada em Fortaleza, para abrir a exposição Geijitsu Kakuu. Convidado especial da curadoria do Museu de Arte Contemporânea do Ceará, Geijutsuka mostraria ao público cearense por que seu trabalho é aclamado em todo o planeta como uma obra revolucionária que, segundo o material de divulgação de sua eficiente assessoria de imprensa, incorpora “novos conceitos à arte”, como os de “operação em tempo real, simultaneidade, supressão do espaço e imaterialidade”. Os jornais locais deram amplos espaços para a divulgação da exposição. Um deles chegou a publicar, no dia marcado para a abertura do evento, uma entrevista de página inteira com Geijutsuka. Tudo perfeito, no fosse um detalhe: Souzousareta Geijutsuka não existe.
A idéia de inventar o tal japonês que – segundo informava um jornal de Fortaleza – “conquistou fama mundo afora por unir arte, ciência e tecnologia” partiu de um jovem artista de 23 anos, Yuri Firmeza, paulistano radicado na capital cearense desde a infância. ”
A intenção foi mostrar como a arte hoje em dia encontra-se subordinada a exigências e manipulações mercadológicas e a modelos construídos e legitimados pela mídia, pelas galerias e pelos museus”, explica Firmeza.
Tudo foi planejado nos mínimos detalhes. A namorada de Yuri Firmeza se fez passar por assessora de imprensa e abasteceu os jornais locais com imagens de algumas das “obras” de Geijutsuka. Entre elas, uma série de fotos prosaicas de um gato, que foram publicadas na imprensa local como sendo cenas de um “videoarte” do “genial japonês”.
No Estadão de hoje, por Lira Neto.
2 comentários
gugala
janeiro 17th, 2006 at 10:01
sensacional a idéia. E funcionou!
ana alegria
janeiro 18th, 2006 at 0:00
isto é maravilhoso! mostra bem como é , infelizmente, este reles mundinho das bienais, circos,etc ,o “circuito da arte”. Adorei!
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